David Wildstein, que tinha um alto salário na Autoridade Portuária de Nova York e Nova Jersey e que foi demitido após fechar parte de uma ponte para aumentar propositalmente o trânsito de uma cidade governada por um político rival, também tem o hábito de comprar endereços da web com o nome de seus inimigos e redirecioná-los para sites rivais.
No entanto, uma coisa é a briga entre políticos, outra é quando essa tática começa a ser aplicada na imprensa. Se você, por exemplo, procurar no Google por Shawn Boburg, repórter do jornal The Record e autor de artigos que criticam Wildstein, encontrará seu site pessoal, que estranhamente redireciona os visitantes para o site do jornal concorrente, o Newark’s Star-Ledger.
Documentos revelados após o escândalo mostram como a imprensa é odiada pelos corruptos. Um e-mail do porta-voz de Chris Christie, governador republicano de Nova Jersey e o responsável pela indicação de Wildstein para o seu antigo cargo, chama um repórter de pateta e diz “foda-se ele e o seu jornal”.
Enquanto os companheiros do governador negavam qualquer acesso dos repórteres a informações sobre o caso, o governador Christie publicamente menosprezava os jornalistas que o questionavam sobre o escândalo.
Mesmo em sua coletiva de imprensa mais conciliatória, o governador respondeu à pergunta sobre uma possível renúncia do cargo dizendo que “essa questão é maluca, cara”.
Se não fosse pela obstinação dos jornalistas locais, Christie ainda estaria ridicularizando a história, atacando os legisladores que investigavam o caso e persuadindo a maior parte da imprensa nacional a ignorar o acontecimento.
Democracia real
A primeira reportagem sobre o escândalo foi escrita pelo colunista de trânsito do jornal The Record, John Cichowski. Na semana do ocorrido, Cichowski já culpava a Autoridade Portuária por conduzir um suposto “estudo” que causava o problema na ponte. Segundo ele, retribuição política era a provável causa. Mais reportagens foram escritas sobre o assunto até o furo de Shawn Boburg: o repórter encontrou um e-mail de um membro do gabinete do governador dizendo para Wildstein que “é a hora para problemas de trânsito em Fort Lee”.
A investigação do caso ainda está em curso, mas o padrão de como o escândalo atraiu atenção nacional é familiar.
Quando o governador de Connecticut John Rowland ainda negava alegações de corrupção, sua esposa leu um poema satírico que insultava o repórter local Jon Lender. Lender prosseguiu com sua investigação, que acabou por levar o governador para a prisão.
Do mesmo modo, quando os moradores da cidade de MayFlower, no Arkansas, descobriram que um velho oleoduto passava pela cidade, repórteres do Arkansas Times persistiram em suas investigações, que incluíram até mesmo um financiamento coletivo para descobrir mais sobre o assunto.
Na maior parte do tempo, as notícias nacionais acontecem à vista do público: em coletivas de imprensa, no Congresso, em julgamentos públicos. Mas, às vezes, as notícias acontecem em outro lugar e necessitam ser escavadas.
Nossa democracia depende do jornalismo local, dos repórteres que frequentam as reuniões políticas esvaziadas, do jornalista que está presente no lugar onde o governador deveria estar ou do colunista de trânsito que não se deixa enganar.
É irritante pagar por informação, mas se não se pagar pelo seu jornal local como irá viver o jornalista que cobre a cidade em que você vive? A imprensa livre necessita de financiamento. Uma democracia real não vive sem informação real. Assinar seu jornal local é um ato cívico.