A guerra fria para alguns parece coisa do passado. Não o é, seja no mundo das relações internacionais, seja no planeta TV brasileira. Quando muitos pensavam: ‘O que mais os bispos podem ter na manga para cutucarem seu maior e temido desafeto?’, creio que ninguém pensaria que uma remanescente indireta da poderosa, assim voltando à estratégia de fazer espelho e dar cara global a sua programação, chegaria aos estúdios da Barra Funda. O claro mal-estar entre Ana Paula Padrão e Rede Globo de Televisão, há tempos atrás deu um tom notório de que a esta casa esta filha pródiga não tão cedo regressará.
A Rede Globo, hoje menos que há anos atrás, sempre teve sua geladeira destinada a artistas e profissionais que migravam por motivos mesmo que justos para outras emissoras. No caso de Padrão, em que fora reincidido um contrato em seu auge como apresentadora do Jornal da Globo para sagrar-se a estrela maior do jornalismo do SBT. Na época, Senior Abravanel dizia que iria investir pesado em jornalismo – apenas bravata. Contratou também Carlos Nascimento, então na Band e recém-saído também da poderosa, mais uns produtores renomados, e foi só. O projeto da emissora paulista naufragou em um jornal um tanto insosso feito por Ana Paula por alguns meses e logo, por falta de Ibope, rifada da grade.
Como de costume a Vênus bronzeada ao belo sol carioca não tardou em demonstrar seu rancor. Ana não recebeu convite para a comemoração de 25 anos do Jornal da Globo, realizada em 31 de agosto de 2007, na boate GLS The Week, em São Paulo. Até Lillian Witte Fibe, pois já passara por inúmeras emissoras até se limar no canal de internet do portal Terra.
Mercado se alimenta de novidades
Desde 2004, a Record adota uma campanha agressiva, tanto de marketing como de bastidores, contra a hegemonia global. No setor de jornalismo é onde se pode também notar isso. Se já não bastasse Celso Freitas e Adriana Araújo, que tinham a tarimba de ter a cara da Globo e estarem na bancada do principal jornal da casa, agora teremos Ana Paula Padrão a acompanhar Celso Freitas contra o casal 20 do jornalismo nacional.
Cada vez mais, a Record busca factóides midiáticos para repercutir na mídia e no mercado. O Jornal da Record, hoje com média-mês de 14 pontos perante o principal jornal do país, vem fazendo bonito. Ademais, se pensarmos que há pouco mais de cinco anos o mesmo noticiário tinha pífios 3 a 4 pontos, à época comandado por Boris Casoy. Agregado a isso, agora a Record contará com um peso forte para gerar credibilidade e confiabilidade a seu jornal, Ana Paula Padrão.
A questão levantado por muitos jornais impressos durante a semana, de que Adriana Araújo estaria magoada por perder o posto que tomou há três anos, é o que me faz pensar como se pode tentar ofuscar alguém a quem não se quer bem. Creio que nada, nem ninguém, discute que Adriana foi um marco para o Jornal da Record, e sim, imprimiu sua marca. Mas o mercado, principalmente o publicitário, requer e se alimenta de novidades e agora as tem.
Um duplo passo agressivo
Em entrevista à coluna ‘Ooops’ do UOL/Folha, Ana Paula ressalta que a emissora lhe deu a possibilidade de sair de trás da bancada. ‘Eu posso ir para a rua, posso fazer matérias legais, entrevistar… Não vou ficar amarrada ao estúdio, não.’ Outra afirmação da jornalista durante a conversa foi a de estar seguindo conselhos de seu marido, o economista Walter Mundell. Argumentando que as pessoas a questionavam na rua, perguntando-lhe quando voltaria a apresentar um jornal.
A Record divulgou nesta quinta que a jornalista assinou um contrato de quatro anos para dividir a bancada com Celso Freitas no Jornal da Record. Enquanto Araújo passará à função de correspondente internacional, em Nova York. Deixando de pensar no específico mais um pouco, no geral é um duplo passo agressivo da emissora. Pois ter uma Adriana Araújo em plena crise financeira americana como correspondente internacional é de dar inveja a muita emissora por aí. É, meu povo, o padrão Globo pode ainda não ter chegado à Barra Funda, em compensação a ‘Padrão’… Como se diz por aqui: ¡Ya está!
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Ator, diretor teatral, cantor, escritor e jornalista