Já é possível assistir na TV a linchamentos, execuções e até estupros nas horas mais tardias da noite – reais e ficcionais. Não foi o que aconteceu no Big Brother? Mas falando do noticiário policial, para que serve o noticiário policial? Para informar, alertar, criticar, como o jornalismo em geral. Só que o noticiário policial de TV vai além. Ele mata a cobra e mostra o pau.
A indução do povo à revolta, à violência, à vingança é mais do que possível pelos meios de comunicação, como comprovam as torcidas organizadas de futebol. E agora os black blocs – crias das chamadas redes sociais. O mais curioso é o sensacionalismo estar sendo sancionado como bom jornalismo. Isto talvez porque bom jornalismo é coisa mais atrasada do que politicamente correto.
No caso do noticiário policial de TV, a coisa tem sido grave. Apresentadores e repórteres brandem como bandeiras, todo dia, a pena de morte, justiçamentos e castigo brutal de menores; utilizando-se dos crimes bárbaros que a toda hora mostram. Naturalmente, a situação dos presídios deve continuar pior do que está para todos eles – acrescentando-se Josés Dirceus e Genoínos.
A reportagem policial brasileira há de ser desumanitária para ser realista, sempre. Claro, que nenhum destes profissionais acredita em humanidade. Direitos Humanos, então, é palavrão. Entretanto, onde quer chegar o nosso suposto jornalismo policial de TV (porque o de jornal e rádio acabou?). Dizer que os bandidos estão por aí se multiplicando e para eles nada existe senão a execução. Perfeito. Gil Gomes assinaria embaixo.
O menos notável é o apelo geral contra os políticos que se faz todo tempo demagogicamente. Muito bem, todos eles e a polícia têm razão, mas poderiam propor alguma coisa além de olho por olho, dente por dente, simplesmente.
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Zulcy Borges de Souza é jornalista