Friday, 22 de November de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1315

A crítica literária brasileira

A nova crítica literária brasileira, às vezes, nem é nova (pelos ranços e vitupérios arcaicos), nem é crítica (pelo exercício bocó da dialética imediatista do esculacho janota e boçal) e nem sequer é literária, quer pelos devaneios de pseudo-jecas pops ou por algumas mesmices de trivialidades engodadas por certos cacarecos de organdi, ou, ainda, pode ser apenas e só isto: brasileirinha. E ainda, sorry, casca grossa e sem seca. Uns têm nome, outros inventam poses. Há os que, rançosos, desqualificam uma estreia sazonal, e há os que, por inveja boa ou má, injetam venenos por causa de frustrações adquiridas, já que não têm um merecido sucesso e permanecem neomalditos, independentes daqueles clubes de esquinas, de clubes de egos, de testes de sofás e até periféricas oficinas que mais rotulam e vendem peixe de fim de feira do que enobrecem o filão tão propenso a ouro de tolo, tolos de ouro e vice-versos.

A nova crítica literária brasileira, coitada, tem patetas de ocasião, cariocas postiços, gaúchos saradinhos, paulistas alocados, paranaenses provincianos de panelas, paulistas coxinhas e mais algumas mineirices de intelectualidades masturbatórias e pajelanças leminskianas. E ainda existem outros. Caetanear, por que não? A crítica literária brasileira apanha de relho alhures e fica paradoxal: gosta de dar vexame, chuleia citações, agasalha pandarecos e, no final, alardeia uma saideira para todos, até porque ninguém é de ferro, e, depois da tempestade, vem a leptospirose como em Samparaguai, estado-máfia.

A nova crítica literária brasileira cheira a sabão de cinzas, mas os cueiros estão cheios. Pensa que pensa. Acha é o que não é. Ora, nossa crítica babaquara é bananeira que já deu goiaba, mas, ainda assim, no tear do imaginário impúbere, troça, troca, erra e faz-se Singer em roca errada. Saravá, Caio Prado.

Pagos e estâncias

A nova crítica literária brasileira só tem um eventual (e ordinário) verniz novo, laca laica, pois todos beberam – como nosotros – em mágoas paradas; salutar seria se fosse pelo menos serena, crível, polida, ética, e tivesse algum mimo no trato com as ordenanças do chamado rigor formol. Mas nem isso. E para ser um puta roqueiro, cara pálida, tem de ouvir Pixinguinha primeiro.

A nova crítica literária brasileira – perdão, leitores – cheira sovaco vencido de sauro-rex (espécie em extinção), é polêmica pela própria natureza; navalha afiada no enfoque pseudoerudito, bodoque de citações, mas depois dá bom-dia a cavalo, sobe no pau de sebo e, baba baby, atravessa canteiros & cardumes. Pior, literalmente pisa na bola, magôa. Tudo isso, não com estilo, mas com “estalo”. Só que, sendo polenta fria/ardida, vende, ventila, aparece, desanda, faz limonada sem limões, de tão azeda; quase curtida em antro próprio.

A nova crítica literária brasileira quer ser o que não é. E quando é, aqui e ali, vá lá, vale quanto pesa. Entra na técnica, no estilo, no criar propriamente dito, não viça tecendo loas ao inusitado, ou comparando lesmas com resmas, mormente porque o crítico não tem que gostar da obra analisada, mas gostar, claro – óbvio ululante – de ser crítico. Simplesmente isso. Ou não tem nada a ler. Nem a ser.

A nova crítica literária brasileira adora espaço novo, adora autor novo, adora alguém vencedor. Fermenta entre avencas. Dá o drible da vaca no texto em si, e cai na gandaia de acionar uma metralhadora cheia de lágrimas (ou purpurinas malresolvidas), atirando em tudo quanto é alvo, piorando quando acerta mitos, totens, raízes, pilares. Paraná? Rio Grande do Sul? Santa Catarina? Sai de baixo! Desse eixo ninguém pode ser bom, que altera ânimos, atiça bezerros desmamados de éticas e com/vivências. Cá entre nós, companheiro, se cada vez que alguém faz sucesso, ocasional ou só mesmo por acidente de percurso de destino, o circo pegar fogo, vai ser um desmanche artístico-cultural total. Coisa que as sensatas tradições gaúchas não fazem. Valoram bem e tudo. Faz sentido. Ainda bem.

A nova crítica literária brasileira, principalmente aquela bem pamonha que se nutre da mídia (e do open-doping da mídia) no saturado eixo Rio-São Paulo, ignora os brasis varonis gerais. Aliás, em terra de Paulo Coelho, todo mundo que cai no palco iluminado da sorte (de ser bancado por uma grande editora) é, de presto, rotulado de mané, merece ser crucifixado no alvo-mira dos pedantes pra consumo. Aleluia, Monteiro Lobato.

A nova crítica literária brasileira, que quer ser o provão do amém, não existe, é conversa fiada para gerente editorial dormir, chove no molhado, arde no ego, glosa no freudiano, bebe em becos e feudos, destila veneno e depois, no trivial, pançuda e demodê, espera as vaias, os aplausos, os coiós atrelados, os arigós com grife.

Para não dizer que não falei de flores, a luta continua. Todo autor neomaldito adora encontrar uma Dalila para cortar os cabelos da sonhadora iniciativa peluda e sensacionalista. O resto é mágoa de fugitivos de pagos e estâncias. Eu, por mim, prefiro continuar neomaldito e morrer assim, do que me servir do pote de vísceras de egos doentios. Nem todo crítico que lê luz é cobrador da ligação. Há os isentos. Raros e curtidos. Em terra de cego, quem tem olho pensa que é dono da bengala. Fui.

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Silas Corrêa Leite, poeta e cronista