Monday, 25 de November de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1315

A 109ª vítima

Santiago Ilídio Andrade morreu fazendo reportagem. Cumpriu seu dever de informar a sociedade até o fim. Deu a vida pelo jornalismo, mas não deveria ser assim. Santiago é a 109ª vítima – a primeira fatal – de uma onda de violência contra jornalistas iniciada com as manifestações de protesto, em junho de 2013. A Associação Brasileira de Jornalismo Investigativo (Abraji) registra ataques e prisões arbitrárias cometidos contra jornalistas que trabalham na cobertura das manifestações. Até a morte de Santiago havia 117 casos, envolvendo 108 jornalistas (alguns foram atacados mais de uma vez). Ele foi o 118º caso e o 109º jornalista vitimado – e nada indica que será o último.

Em pelo menos 60% das violações, as vítimas relataram à Abraji que a violência foi deliberada – ou seja, os repórteres, fotógrafos e cinegrafistas foram agredidos ou presos mesmo depois de terem se identificado como jornalistas. A intenção, a frequência e a repetição sugerem uma tentativa de intimidação da imprensa – tanto por parte de policiais quanto de manifestantes.

Coração da liberdade

Em três de cada quatro ocorrências, as vítimas identificaram policias como seus agressores. As imagens e o inquérito policial indicam que o caso de Santiago Andrade caiu nos outros 25%: ele morreu ao ser atingido por um rojão aceso por um manifestante. Não se sabe se o agressor mirou Santiago. A esta altura, pouco importa. Querendo ou não, ele acertou a cabeça do jornalista e o coração da liberdade de expressão e informação no Brasil.

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José Roberto de Toledo é presidente da Associação Brasileira de Jornalismo Investigativo (Abraji)