Friday, 22 de November de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1315

Daniela Nogueira

A morte do cinegrafista Santiago Andrade, da TV Bandeirantes, atacado por um rojão durante protesto no Rio de Janeiro, expôs como ainda não sabemos construir a democracia. Escancarou como estamos vulneráveis diante de manifestações irresponsáveis que tomam o lugar dos protestos legítimos. Mostrou como a liberdade de informação (e de expressão) ainda precisa evoluir nos países ditos democráticos.

O alvo, provavelmente, não era o cinegrafista. Mas foi. Não fosse o Santiago Andrade, outro teria sido atingido. O uso do rojão, por si só, evidencia o tipo do protesto que se desenhava no local. Questiono como se protesta contra o aumento das passagens de ônibus soltando rojões, que são artefatos explosivos, no meio da praça. Não se justifica. Ratifico o pensamento que mais li e ouvi nos últimos dias: a violência deslegitima qualquer tipo de manifestação. E me refiro ao nosso contexto caracterizado pela democracia. (Aliás, mesmo em regimes absolutistas e totalitários, a violência é algo abominável.)

O gigante acordou?

O descontentamento em torno de uma ação do governo não pode se traduzir em danos ao patrimônio, público e privado, e em ataques a pessoas. A imprensa tem mostrado excessos desse tipo mais fortemente desde o ano passado quando os protestos irromperam no País, como há muito não se via. Àquela época, tentava-se entender o que estava acontecendo. A população estava de volta às ruas, a Academia definia e redefinia os black blocs e a sociedade parecia amadurecer. O Gigante acordara, tudo seria diferente a partir dali, havíamos descoberto, enfim, como fazer. Nada.

Meses depois, o que presenciamos ainda são vândalos travestidos de manifestantes catalisando o prazer sádico da destruição e da tragédia. É deplorável que estejamos discutindo as consequências de um ato imprudente, no momento em que deveríamos estar debatendo os resultados de uma reivindicação que poderia ter sido pacífica, que poderia ter sido produtiva, que poderia ter sido responsável. Atos desse tipo contribuem para alijar a população do verdadeiro direito de protestar. Isso é lamentável.

Condenável

Agressões – contra jornalistas, contra manifestantes pacíficos, contra os movimentos sociais, contra autoridades, contra pessoas e patrimônios – são injustificáveis. Mais do que isso, são condenáveis. E a isso não podemos nos acostumar.

Stuart Hall no O POVO

Quem não conhecia o sociólogo jamaicano Stuart Hall, que morreu na semana passada, continuou sem identificá-lo se tiver lido a edição de terça, dia 11/2, do O POVO. Na página 13, na editoria de Mundo, o jornal publicou, junto à matéria “Morre aos 82 anos o ‘pai do multiculturalismo’”, a foto de um homônimo. O apresentador britânico é totalmente diferente, fisicamente, do sociólogo. As imagens do Stuart Hall estavam, no dia anterior, em sites de notícias e redes sociais. Eram vários os comentários sobre os conhecimentos herdados do estudioso. Mas não tivemos o cuidado de verificar. Leitores se indignaram e enviaram emails espantados com o equívoco. Houve até quem acusasse O POVO de racismo. Sem conspiração – foi erro de checagem.

No dia seguinte, 12/2, a editoria de Mundo publicou um “Erramos”, com a foto correta do sociólogo. Em tamanho menor, era o que se podia fazer para reparar, minimamente, os efeitos da desatenção.

“Deplorável que estejamos discutindo as consequências de um ato imprudente, no momento em que deveríamos estar debatendo os resultados de uma reivindicação que poderia ter sido pacífica, que poderia ter sido produtiva”