Leia abaixo a segunda parte da seleção de quarta-feira para a seção Entre Aspas.
************
Folha de S. Paulo
Quarta-feira, 18 de junho de 2008
TV PÚBLICA
Responsável pela TV Brasil pede demissão e revela divergências
‘O cineasta e escritor Orlando Senna deixou ontem o cargo de diretor-geral da EBC (Empresa Brasil de Comunicação), responsável pela TV Brasil, e revelou divergências com a gestão da empresa. Outra diretoria, a de Relacionamento e Rede, também ficou vaga com a saída de Mário Borgneth.
Senna afirmou à Folha que um dos motivos que o levaram a deixar a EBC é ‘não estar de acordo com os modelos de gestão adotados pela empresa, que espero que logo a própria empresa possa solucionar’.
Em um texto endereçado a ‘companheiros da atividade audiovisual’, Senna diz que a forma de gestão adotada ‘concentra poderes excessivos na Presidência, engessando as instâncias operacionais, que necessitam de autonomia executiva para produzir em série, como em qualquer TV’.
Senna continua o relato afirmando que, feitos os ajustes que ele considera necessários, ‘a EBC/TV Brasil poderá cumprir o objetivo de liderar uma comunicação pública plural, isenta, inteligente, interativa e formadora de cidadania’.
O ex-diretor diz que não saiu ‘brigado’ da empresa e que outro motivo para deixar o cargo é o cansaço depois de seis anos de atividades no governo. Senna era secretário do Audiovisual do Ministério da Cultura antes da criação da TV pública pelo governo Luiz Inácio Lula da Silva, em dezembro.
Em nota, a empresa afirmou que Senna deixou a empresa por motivos pessoais e ‘considerando já ter dado sua contribuição para a implantação da TV Pública no Brasil’. Diz também que ‘a empresa agradece seu empenho e dedicação que foram fundamentais para os primeiros passos da EBC’.
A saída de Borgneth não foi explicada na nota da EBC, que se limitou a dizer que ele ‘também deu contribuição relevante, conduzindo até agora o diálogo com as emissoras educativas estaduais, com vistas à formação da rede pública de televisão’. A Folha não conseguiu contato com o ex-diretor até a conclusão desta edição.
Senna informou que elaborou um balanço da EBC no fim do mês passado, o que, segundo ele, pode auxiliar na modificação de alguns pontos delicados.
A EBC informou que as funções de Orlando Senna serão ‘absorvidas transitoriamente’ por Tereza Cruvinel, diretora-presidente. Borgneth será substituído provisoriamente pelo diretor de serviços, José Roberto Garcez.
Há dois meses, um jornalista da TV Brasil, Luiz Lobo, acusou o governo, depois de ser demitido, de interferência e controle na produção jornalística. À época, Lobo disse à Folha que havia na empresa ‘cuidado que vai além do jornalístico’.’
POLÍTICA CULTURAL
Incentivo ou renúncia?
‘A ADOÇÃO indiscriminada de incentivos fiscais na cultura levou à atrofia dos orçamentos públicos e à inibição da atuação do poder público, que se tornou refém de um processo cuja dinâmica não necessariamente leva em consideração o interesse público.
A agenda dos projetos incentivados não contempla o universo amplo das necessidades do setor, privilegiando, em alguns casos, investimentos de duvidosa legitimidade. Um volume considerável (40% em 2007, cerca de R$ 400 milhões) de recursos incentivados provém da renúncia fiscal de empresas estatais, em conseqüência do refluxo do interesse do setor privado, apesar das vantagens oferecidas.
A privatização do uso de recursos públicos criou uma rede de instituições privadas e empresas de prestação de serviços que inflacionou custos e salários no setor. Além disso, o incentivo fiscal tem sido utilizado na manutenção de órgãos públicos por meio de projetos incentivados.
A política cultural brasileira há tempos se meteu numa armadilha da qual até hoje não vislumbrou a saída.
Desde o fim do regime militar, acompanhamos a sucessão de acontecimentos que, ao pretender responder à legítima demanda por liberdade de criação artística e participação da sociedade, instituíram um regime de descrédito da ação governamental.
A instituição da lei de incentivos fiscais se deu sob o pretexto de evitar o dirigismo cultural autoritário. A Lei Sarney, que concedia renúncia fiscal a empresas apenas cadastradas no ministério, sem controle efetivo sobre o seu uso, ensejou um sem-número de expedientes pouco ortodoxos que a desmoralizaram.
A Lei Rouanet, que sucedeu a Lei Sarney em 1991, era mais sóbria na sua origem e pressupunha a saudável parceria entre recursos públicos e privados. Durou pouco em sua forma canônica e foi bombardeada pelos lobbies das categorias artísticas que, aos poucos, a foram desfigurando.
Ao elevar a renúncia fiscal da Lei Rouanet a 100%, o governo federal, na verdade, criou um mecanismo automático de transferência de investimentos ao setor privado. Agiu desse modo para contornar as restrições orçamentárias, já que o Ministério da Cultura dispunha de um orçamento muito aquém de suas necessidades.
Mas foi sobretudo para escapar do contingenciamento que se praticava no governo federal visando à criação de um superávit primário.
Enquanto preservava a capacidade de investimento, o ministério via as bases de uma política cultural escapar de suas mãos na irracionalidade de projetos que, embora ocasionalmente meritórios, não tinham compromisso com a defesa do Tesouro ou o interesse público.
Alguns artistas com aversão ao marketing atacaram as leis de incentivo alegando que elas privilegiavam o mercado e as obras a ele destinadas. O argumento revelou-se uma falácia. Quem dera que os mecanismos de incentivo fiscal tivessem criado um sólido mercado cultural no país. Se assim fosse, ao poder público restaria cuidar do patrimônio histórico e das manifestações não comerciais.
Não é isso o que se vê. O cinema, de todas as modalidades a mais incentivada pelo governo federal, não avançou na sua sustentabilidade, pelo contrário. A questão fica ainda mais incômoda se nos detivermos sobre o segmento das artes visuais contemporâneas. É menos incentivado e desfruta de valor de mercado.
Se a cultura é norma e a arte, ruptura, como lembra Godard, um regime de financiamento à cultura e à arte que cria dependência quase absoluta de recursos públicos colabora na domesticação dos impulsos de ruptura pela via da institucionalização.
Em seus diversos estratos, a sociedade clama por vocalização. Iniciativas de todos os tipos, de governos e entidades do terceiro setor ou mesmo de empresas com consciência ‘cultural’, obtêm êxito na medida em que vão ao encontro de demandas reprimidas da sociedade.
A perspectiva de atendimento desse clamor depende da construção de uma política cultural em que se alcancem equilíbrio e complementaridade entre as ações diretas do poder público e as indiretas, por meio das leis de incentivo e das parcerias com o setor privado.
Para isso, será imprescindível recuperar o papel do poder público, por intermédio do investimento direto nas ações de interesse público, com a inevitável ampliação dos recursos orçamentários e foco na sua gestão. O incentivo à iniciativa da sociedade não pode corresponder à renúncia do setor público.
CARLOS AUGUSTO CALIL , 57, é secretário municipal de Cultura de São Paulo. Documentarista e escritor, é professor da Escola de Comunicações e Artes da USP. Foi diretor da Embrafilme (1979-86) e do Centro Cultural São Paulo (20001-2005).’
TODA MÍDIA
As desculpas e as obras
‘Em manchetes seqüenciais nos sites e depois nos telejornais, Lula se declarou ‘chocado’, um general pediu ‘desculpas’ e, para encerrar, Nelson Jobim afirmou que as mortes não podem ‘contaminar as obras’, em seu passeio pelo Morro da Providência. Quanto aos militares, fala-se em ‘repreensão’, ponto.
Enquanto a cobertura das Globos, ‘JN’ inclusive, repisa que no morro se ‘desenvolve o Cimento Social, que tem por inspirador o senador Marcelo Crivella’, na própria Record se evita ao máximo o candidato a prefeito do Rio, ex-bispo, sobrinho de Edir Macedo.
No pouco que ecoou no exterior, o site da BBC e a Associated Press sublinharam a ‘suspeita’ sobre os militares e os ‘protestos’, aos gritos de ‘assassinos’.
O CÂNCER DAS MILÍCIAS
No exterior, por agências e com atenção especial de Alexei Barrionuevo, correspondente do ‘New York Times’, o que mais repercute é que o policial acusado de ‘torturar quatro pessoas, inclusive jornalistas’, se entregou na segunda. Além de negar a tortura, ele também afirmou que não é o ‘líder da milícia’ na Favela do Batan.
O ‘NYT’, desde a sexta-feira, quando publicou longa reportagem, voltou a tratar com aparente prioridade o crescimento das milícias no Rio -sublinhando ser um ‘câncer’ vinculado ‘não apenas a policiais, mas a políticos’. E que não se limita ao Brasil.
O MAPA
Em João Pessoa, Poços de Caldas, Ituporanga, São Paulo, os vetos à cobertura eleitoral por jornais e outros em todo o país, este ano
No título do site do Tribunal Regional Eleitoral, em São Paulo, ‘Marta Suplicy, Folha e Editora Abril são multadas por propaganda antecipada’. Ecoou por sites de mídia e demais. E logo entrou para o mapa ‘Censura eleitoral’, que o Centro Knight para o Jornalismo das Américas, dos EUA, criou em abril no Google Maps para acompanhar as seguidas decisões da Justiça Eleitoral. De Santa Catarina à Paraíba, da imprensa ao rádio, já são nove casos. Além do mapa, o centro mantido pela Universidade do Texas criou um blog em português, Jornalismo nas Américas.
A CAPA
No final de maio, em Ribeirão Bonito, interior de São Paulo, a Justiça local determinou o recolhimento de uma edição do ‘Agosto’ e vetou entrevista com pré-candidatos. Ao lado, a edição seguinte do jornal
A RESOLUÇÃO 22.718
Os primeiros sinais de alerta saíram em março, em blogs como o de Sergio Amadeu, avisando que a Justiça Eleitoral ‘quer controlar a campanha na internet’. Era a resolução 22.718, em que ‘o TSE legisla sobre como deve ser a campanha no cyberespaço transnacional’. Desde então, Amadeu detalha o processo ‘kafkiano’ que levou à decisão e o que resultou dela, com veto a blog e até Orkut.
Consultados dias atrás, os ministros até concordaram que não é possível controlar a web. Mas nada de alterar a resolução, que se estende sobre o YouTube e proíbe, entre outras coisas, o uso de internet 48 horas antes da votação.’
CUBA
Com Chávez, Fidel aparece em vídeo pela 1ª vez desde janeiro
‘Fidel Castro, 81, recebeu ontem e anteontem visitas do presidente venezuelano, Hugo Chávez, o principal aliado comercial e político de Cuba. A TV cubana divulgou imagens do encontro de ontem, as primeiras do convalescente Fidel desde janeiro.
O vídeo não tem som. Vestido com tradicional abrigo esportivo, Fidel aparece mais magro e com cabelo e barba ainda mais ralos, mas conversa animadamente com Chávez em um jardim. Raúl Castro, que substitui o irmão no comando da ilha desde sua renúncia formal em fevereiro, os acompanha.
Segundo Chávez, Fidel discutiu com ele a crise do preço dos alimentos e os esforços dos países na agricultura.
Chávez, que deixou ontem Havana, ganhou de Fidel o livro ‘Fidel, Bolivia y algo más…’, lançado na ilha. No prefácio, Fidel critica a blogueira cubana Yoani Sánchez, uma enviada da ‘imprensa neocolonial’.’
TELES
Anatel deve propor novas exigências à compra da BrT
‘A Anatel (Agência Nacional de Telecomunicações) irá propor novas exigências para que a Oi seja autorizada a comprar a Brasil Telecom.
A possibilidade de exigir novas obrigatoriedades para a fusão das duas companhias foi anunciada ontem com a divulgação da proposta de medidas que tendem a facilitar a convergência de serviços e a competição entre empresas. Segundo a Anatel, o setor de telecomunicações deverá receber investimentos de R$ 250 bilhões até 2018.
Entre as novas obrigatoriedades para a fusão entre Oi e Brasil Telecom, podem constar exigências para que haja uma separação operacional dos diferentes tipos de serviço prestados pelas empresas. Até então, a Anatel havia proposto a desagregação entre telefonia fixa e banda larga, medida anunciada na semana passada. Entre as novas exigências, a Anatel poderá, também, impor limites ou metas para a atuação do grupo nas regiões nas quais não atuará como concessionário.
Essas condições para a efetiva autorização da compra vão ser discutidas pela Anatel no prazo de até 180 dias após a regulamentação da versão atualizada do Plano Geral de Outorgas (o chamado PGO). As condições propostas pela agência terão de ser referendadas pelo Ministério das Comunicações e pelo presidente Lula.
A despeito disso, o texto de revisão do PGO proposto pela Anatel, e que está em consulta pública por 30 dias a partir de ontem, é vago em um aspecto relevante. Ao determinar que a concessionária de telefonia fixa que comprar outra poderá ter de separar as operações de banda larga, a agência não diz como a separação vai ser feita. Se será uma separação por empresas ou apenas contábil.
‘Isso [separação das atividades] é uma hipótese, uma possibilidade. A partir de agora vamos avaliar os prós e os contras’, comentou o gerente de Competição da Anatel, José Neto. ‘Pode ser que esse seja o grande debate, a consulta pública é para ver se é o melhor caminho. Se esse remédio tiver mais efeito colateral que ganhos, poderemos rever.’
É nessa fase, por sinal, que o governo espera derrubar as propostas de separação das empresas em telefonia fixa e banda larga defendidas por parte do conselho da Anatel, que desagradaram a todas as grandes companhias do setor.
A expectativa do governo é que a indicação do quinto conselheiro mude essa situação dentro da Anatel, já que dois dos atuais quatro diretores -Pedro Jaime Ziller e Plínio de Aguiar- são favoráveis à separação dos serviços, modelo criticado pelo Palácio do Planalto.
O presidente Lula já aceitou a indicação de Emília Ribeiro, assessora da presidência do Senado e apoiada pelo PMDB, para ocupar a vaga aberta na agência. Seu nome deve ser encaminhado ao Senado para aprovação nos próximos dias.
No texto em consulta pública, a Anatel também propõe que a concessionária que adquirir uma terceira poderá ter de manter o investimento na infra-estrutura de telefonia fixa, que é a base para a expansão da banda larga. Com isso, também indicou que as metas de investimento em infra-estrutura de apoio à expansão da banda larga deverão ser ampliadas.
Convergência
Além de alterar as regras para que haja condição de atuação de grandes grupos de telecomunicação no Brasil, a Anatel também propõe uma série de modificações na forma de atuação das empresas de grande, médio e pequeno porte do setor de telecomunicação.
Hoje, para prestar diferentes tipos de serviço, uma empresa necessita de diferentes tipos de autorização. Por exemplo: para ofertar TV por assinatura, a empresa necessita de uma licença específica e de outras autorizações dentro dessa mesma modalidade de serviço.
A sugestão é que a Anatel passe a dar uma licença geral, que torne automática a autorização para os serviços de telefonia fixa, móvel, banda larga e TV por assinatura.
A revisão que a Anatel está propondo leva em conta o cenário de forte expansão da banda larga no país nos próximos dez anos. Segundo a agência, entre 2008 e 2018 os investimentos no setor devem somar R$ 250 bilhões, montante superior aos R$ 180 bilhões aplicados entre 1997 e 2007. A projeção foi feita com base em estimativas de crescimento da economia e consulta a empresas.
Pelo diagnóstico, os usuários de internet no país, hoje estimados em menos de 10 milhões, deverão se aproximar de 40 milhões em 2010. Ao compor esse cenário, a Anatel considerou que o crescimento maior vai ser o da banda larga móvel. No segmento da TV por assinatura, as projeções passam dos atuais 6 milhões de assinantes para 7 milhões em 2010 e 18 milhões em 2018.’
TV DIGITAL
Ministro promete conversor de TV digital a R$ 230 em julho
‘O ministro das Comunicações, Hélio Costa, voltou a prometer um ‘conversor popular’ para a TV digital aberta. No lançamento do sinal da TV Globo no Rio de Janeiro, na noite de segunda-feira, Costa disse que o aparelho a R$ 230 será lançado em São Paulo em 4 de julho e, logo depois, em Belo Horizonte e no Rio de Janeiro.
A Proview, empresa de Taiwan que tem unidade em Manaus desde 1999, informou que vai vender o aparelho a esse preço para o varejo, que, por sua vez, deve incluir um adicional na revenda ao consumidor. De acordo com o diretor industrial do fabricante, Jorge Cruz, o valor se refere ao conversor para TVs de 1.080 linhas, as chamadas Full HD.
Entre os equipamentos de marcas tradicionais que estão no mercado, o semelhante mais barato é o da Positivo, que tem preço sugerido ao varejo, para venda ao consumidor, de R$ 699. A produção, no entanto, foi paralisada devido às vendas abaixo das expectativas.
Uma das formas de viabilizar o aparelho mais barato em análise no Ministério das Comunicações é a venda direta por meio dos Correios, que teria ainda o acréscimo do frete.
Sobre os incentivos fiscais concedidos para tirar o ‘conversor popular’ do papel, o diretor industrial da Proview afirmou que são os mesmos oferecidos a todas as empresas que estão produzindo ou pretendem dar início à fabricação do equipamento.
Promessas
Com muita pompa e a presença do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, a TV digital aberta estreou no Brasil no dia 2 de dezembro com as transmissões em São Paulo. Neste ano, o sinal chegou a Belo Horizonte e ao Rio de Janeiro.
Em 2007, o ministro Hélio Costa afirmou diversas vezes que o conversor ficaria em torno de R$ 250. Com preços bem acima disso, as vendas dos aparelhos estão abaixo das previsões. De acordo com a Suframa (Superintendência da Zona Franca de Manaus), apenas 25.854 conversores foram fabricados na região até abril.
Além dos aparelhos para televisões de alta definição (1.080 linhas), estão no mercado também conversores para as chamadas TVs de tubo (480 linhas). Entre as marcas tradicionais, o mais barato também é o da Positivo, que tem preço sugerido ao varejo, para venda ao consumidor, de R$ 499.
Vale lembrar que esses equipamentos não vão funcionar adequadamente quando conectados em televisões com resolução superior, mas os de 1.080 linhas podem ser usados nas TVs de tubo. Estão à venda também televisões que já vêm com o conversor embutido.
Em todos os casos, entretanto, será preciso trocar de aparelho quando a interatividade plena (envio de dados às emissoras), um dos diferenciais da TV digital, estiver disponível.’
TELEVISÃO
Juiz inocenta Globo de acusação de racismo
‘Em sentença publicada no último dia 5, o juiz Argemiro de Azevedo Dutra, da 3ª Vara Cível de Salvador, inocentou a Globo de acusação de racismo pela exibição, em 2006, da novela ‘Sinhá Moça’, atualmente em reprise. Cabe recurso.
Após ouvir reclamações de soteropolitanos, o Ministério Público da Bahia impetrou ação civil pública contra a Globo, pleiteando que a emissora fosse condenada a realizar uma nova versão da novela, ‘mostrando a participação do negro no regime escravocrata [tal] como realmente ocorreu, com orientação de historiadores’ aprovados pela promotoria.
Na ação, o promotor Almiro Sena Soares Filho argumentou que ‘Sinhá Moça’ deturpou a história da escravidão, ao revelar um negro extremamente passivo e sofredor, dependente de heróis brancos. Também sustentou que a novela fomentou o racismo ao divulgar cenas em que os negros apareciam em situações de sofrimento, agressões, torturas e humilhações, enquanto o branco surgia entre bondades e romances.
A Globo se defendeu dizendo que a novela é uma obra de ficção, baseada em livro publicado há mais de 50 anos, e que não se via obrigada a fazer ‘abordagem real dos fatos históricos’, pois isso seria documentário. Penalizá-la seria contra o princípio constitucional da liberdade de expressão e criação.
O juiz Dutra acatou integralmente a defesa da Globo.
SUBIU Pela primeira vez, a novela ‘A Favorita’ bateu anteontem na casa dos 40 pontos no Ibope. O frio na Grande São Paulo ajudou. Das 18h às 24h, havia quase 67% de televisores ligados, três pontos percentuais a mais do que nas últimas segundas-feiras. Os ‘novos’ telespectadores sintonizaram justamente a Globo. As demais emissoras não perderam audiência.
REPETECO Saudades de Glória Maria? Desde o último dia 10, o canal GNT está reprisando, às terças, às 21h30, o quadro ‘Passaporte’, com as viagens que ela fazia no ‘Fantástico’.
FIM DE NOITE Com a reprise de ‘Pantanal’, o programa de Hebe Camargo tem entrado no ar às 23h30. Ela não está gostando disso.
NOMENCLATURA Novo diretor da área artística da Globo, Manoel Martins deve anunciar amanhã que, a partir de agora, todos os diretores de núcleo, diretores-gerais de programas e diretores de programa passarão a ser chamados de diretores artísticos. Mas as distinções entre eles (diretores de núcleo são mais importantes que de programas) continuam.
EMPLACOU No ar há pouco mais de um ano, o ‘Jogo Aberto’, programa sobre futebol apresentado por Renata Fan na Band, está marcando atualmente médias de até quatro pontos. Quando entrou no ar, sua média era de 0,8.
RÁDIO-CORREDOR No SBT, é grande a expectativa de funcionários pela chegada de um novo alto executivo. A rede não confirma.’
Cristina Fibe
TV paga ganha canal para japoneses
‘Neste dia que marca os cem anos do início da imigração dos japoneses no Brasil, a TV por assinatura ganha um canal brasileiro totalmente dedicado à comunidade nipônica no país.
Com metade dos programas feita aqui e metade importada do Oriente -legendada ou dublada-, a JBN TV (Japão Brasil Network) se instala no número 150 da Sky a partir de hoje, às 7h, com programação que vai de gastronomia a tecnologia, passando por filmes, musicais e novelas orientais.
A rede (nacional) terá ainda o ‘Momento Zen’, sobre o ‘equilíbrio entre corpo, mente e espírito’; o ‘Jankempo’, infantil matutino; programas sobre a história do Japão, os brasileiros que lá vivem, costumes orientais e ‘saúde e beleza’.
Hoje, o canal trará especiais gravados nos últimos meses com as comemorações do centenário da imigração, segundo o diretor-executivo do canal, Yuquio Miasiro, que tem 31 anos de experiência em TV -seu último trabalho foi como gerente de operações da Record, até duas semanas atrás.
Ele diz que a JBN TV vem sendo planejada há oito meses; nos últimos cinco, os programas começaram a ser produzidos, com apresentadores ainda desconhecidos do público.
O canal é 24h, mas a programação deve se concentrar das 7h à 0h. A madrugada, por enquanto, deve ficar para os anunciantes. De acordo com Miasiro, transmissões em outras TVs por assinatura, na internet e no Japão estão em negociação.’
************
O Estado de S. Paulo
Quarta-feira, 18 de junho de 2008
CUBA
Fidel: 1º vídeo em 5 meses
‘O presidente venezuelano, Hugo Chávez, disse que teve encontros ‘animados e afetuosos’ com o líder cubano Fidel Castro ontem e na véspera. Chávez foi a Havana para ‘reforçar os laços bilaterais’. Segundo a imprensa cubana, ao todo ele falou com Fidel por três horas sobre a crise nos setores de energia e produção de alimentos. Ontem à noite, a TV cubana mostrou um vídeo (sem som) de um dos encontros, com a presença do presidente Raúl Castro. Fidel aparece magro, mas conversando animadamente. Primeiro é mostrado sentado e depois, de pé, ao despedir-se de Chávez.
‘A revolução anda para a frente, agitando bandeiras e tocando tambores’, disse Chávez. ‘Fidel está pensando, escrevendo e ditando linhas estratégicas importantes.’ Aos 81 anos, Fidel está afastado da presidência desde 2006, quando foi submetido a uma cirurgia no intestino. Até a divulgação do vídeo, as fotos do encontro de Fidel com o presidente Lula, em janeiro, eram as últimas imagens do líder cubano veiculadas pelos meios de comunicação. Antes de Chávez, o último líder estrangeiro a reunir-se com Fidel foi o boliviano Evo Morales, no dia 23. ‘Ele está magro, mas lúcido’, disse Evo na ocasião. A Venezuela é um dos grandes parceiros econômicos e políticos de Cuba. Mas há indícios de que o novo governo da ilha tem interesse em buscar mais parceiros para reduzir sua dependência de Caracas.
Ainda ontem, o publicitário colombiano Nicolás Mendoza lançou um boneco vodu do líder venezuelano. Chávez é hoje uma das figuras mais hostilizadas pela opinião pública da Colômbia. Segundo Mendoza, o boneco ajudará os colombianos a ‘extravasar sua agressividade contra ele’.’
DOCUMENTO
Por R$ 0,84, repórter obteve cópia dos autos do processo
‘Para ter acesso ao parecer 117/2006, que mostra uma completa mudança de entendimento do então procurador-geral da Agência Nacional de Aviação Civil (Anac), João Ilídio de Lima Filho, sobre a venda da VarigLog para a Volo do Brasil, o repórter do Estado foi obrigado a pedir vista aos autos do processo. A legislação garante a todo cidadão brasileiro ter acesso a decisões das diretorias das agências reguladoras.
Ao contrário do segundo parecer do então procurador-geral, aquele que relaxava as exigências para aprovar a venda da VarigLog para a Volo do Brasil e que pode ser lido na internet, o terceiro parecer não está na página da internet da Anac. A agência diz que não tem obrigação de colocar todos os documentos na rede.
O pedido de vista do Estado foi feito na sexta-feira. A análise da procuradoria da Anac foi concluída no final da tarde de segunda-feira e decidiu aceitar o pedido da reportagem. Segundo a assessoria da agência, foi preciso ver se o documento continha informações que envolvessem empresas que estariam protegidas pelo sigilo legal.
O jornalista foi obrigado a assinar o ‘termo de vista e cópia de autos’, assumindo compromissos ‘nos termos da lei’ – que não foi especificada. Segundo a assessoria, o compromisso não envolve a não divulgação do parecer. Para pagar pela cópia, o repórter recebeu uma Guia de Recolhimento da União. O pagamento, no valor de R$ 0,84, foi feito ontem mesmo, no Banco do Brasil.’
TELES
Telecomunicações devem receber R$ 250 bi em 10 anos
‘A Agência Nacional de Telecomunicações (Anatel) estima que as empresas do setor de telecomunicações investirão R$ 250 bilhões ao longo dos próximos dez anos. Segundo o superintendente de Serviços Privados da agência, Jarbas Valente, a conta inclui todos os investimentos dessas empresas, o que inclui expansão (por meio da compra de outorgas), a própria operação, a ampliação das redes e a melhoria de serviços.
A previsão faz parte do chamado Plano Geral de Atualização da Regulamentação das Telecomunicações no Brasil (PGR), que foi colocado ontem em consulta pública pela Anatel. O PGR é, na verdade, um conjunto de metas que serão buscadas pela agência no curto, médio e longo prazo.
Antes da privatização, em 1995, o Ministério das Comunicações publicou um documento chamado Perspectivas para a Ampliação e Modernização do Setor de Telecomunicações (Paste), que fazia projeções de crescimento dos serviços. A última edição do Paste foi publicada pela Anatel em 2000, com estimativas de crescimento até 2005. Desde então, não existia um documento oficial que mostrasse ao mercado os objetivos da política pública.
Na estimativa de R$ 250 bilhões em investimentos, constante do PGR, a Anatel incluiu os setores de TV por assinatura, banda larga, telefonia fixa e celular. Se confirmado, esse volume de investimento será superior aos R$ 180 bilhões que foram desembolsados desde 1997, quando começou o processo de privatização do setor.
A Anatel também projetou o crescimento físico dos principais serviços de telefonia para os próximos dez anos. Assim, os telefones fixos passariam dos cerca de 40 milhões de hoje para 55 milhões em 2018. Já o acesso à TV por assinatura triplicaria, passando dos atuais 6 milhões para 18 milhões em dez anos.
Os pontos de internet rápida (banda larga) pela rede fixa, por sua vez, saltariam dos atuais 8 milhões para 40 milhões. Já a internet em alta velocidade pelo celular, que está apenas começando e hoje tem 800 mil acessos, chegaria a 125 milhões de pontos em 2018. O acesso ao celular como um todo – incluindo banda larga – subiria dos atuais 130 milhões para 270 milhões em 2018.
O plano traça um esboço dos aperfeiçoamentos que a Anatel deverá fazer na regulação das telecomunicações nos próximos 10 anos, de modo a adaptar as regras às novas tecnologias.
Um dos objetivos estratégicos do PGR é a massificação da banda larga no País, considerada a próxima referência das telecomunicações para o futuro, já que por meio dessa infra-estrutura é possível prestar múltiplos serviços. A massificação aconteceria pelo estímulo ao surgimento de vários prestadores de serviço e pelo uso mais intensivo da infra-estrutura existente.
A Anatel vai trabalhar para a criação de planos específicos de serviços de banda larga para alcançar toda a população, em especial a de baixa renda. Outro princípio fixado pela Anatel no Plano é a criação de um ambiente favorável ao surgimento de prestadores de serviço de pequeno e médio portes para atuar em nichos de mercado.
A agência quer atacar também os problemas de qualidade dos serviços de telecomunicações como um todo e vai elaborar novos indicadores para avaliar as condições do atendimento das empresas. Segundo Valente, os novos indicadores seguirão não apenas critérios técnicos, mas serão fundamentados também nas reivindicações dos assinantes de serviços de telefonia celular, telefonia fixa, TV por assinatura e transmissão de dados.
Segundo Valente, a Anatel começará ainda neste mês uma pesquisa com os clientes desses serviços para levantar as sugestões e reivindicações. O PGR ressalta também a importância do fortalecimento da própria agência, por meio do controle, acompanhamento e promoção da competição.’
Gerusa Marques
Empresas e deputados vão tentar alterar o novo PGO
‘A proposta de criação de uma empresa específica para administrar os serviços de banda larga e outra para a telefonia fixa deverá ser bombardeada nos próximos 30 dias, período em que o novo Plano Geral de Outorga (PGO), divulgado ontem pela Agência Nacional de Telecomunicações (Anatel), estará sob consulta pública.
A divisão dos serviços, patrocinada pelo conselheiro-relator, Pedro Jaime Ziller, não tem o apoio do governo, não é consenso entre os conselheiros da agência, é criticada por parlamentares e contestada pelas empresas.
As teles dizem que haverá aumento dos custos, sem benefícios aos consumidores. Segundo um executivo de uma empresas, a proposta pode até resultar em aumento de tarifas de telefonia fixa.
Ziller defende a regra com o argumento de que facilitará o ingresso de novos prestadores de serviços, tornando mais transparente o processo de avaliação dos custos. Os que são contra a medida afirmam que há outras maneiras de se alcançar a concorrência, sem prejudicar as concessionárias, principalmente as que não estão se beneficiando de uma fusão.
A estratégia das empresas, governos e parlamentares é modificar esse ponto durante o período em que a proposta ficar em consulta pública. Na Anatel, são contra essa proposta o presidente da agência, Ronaldo Sardenberg, e o conselheiro Antônio Bedran.
Na semana passada, Sardenberg e Bedran concordaram abrir mão da exigência para destravar a votação do PGO e não atrasar a consulta pública. Sem a mudança no plano a venda da Oi pela Brasil Telecom (BrT) não pode ser concretizada.
A criação de uma empresa específica para a banda larga, na avaliação da Oi e Brasil Telecom, é um obstáculo para atingir ganhos de escala e de produtividade, objetivo original para a fusão entre as duas.
Técnicos da área argumentam também que essa separação pode ser um empecilho para a oferta de pacotes de serviços múltiplos – como banda larga, telefonia e TV por assinatura. Essa exigência, da mesma forma, pode elevar custos operacionais e tributárias, na medida em que a empresa de serviços de banda larga, mesmo pertencendo a um só grupo, terá que remunerar a concessionária pelo uso da rede.
O deputado Jorge Bittar (PT-RJ), especialista em telecomunicações, também não apóia a criação dessa empresa específica para operar os serviços de banda larga. ‘ A separação das empresas não produz nenhum ganho significativo, sequer no que diz respeito à competição’, afirmou. ‘Essa separação vai aumentar custos tributários e quem vai pagar a conta no fim é o consumidor.’
MUDANÇAS EM DISCUSSÃO NO PGO
Áreas: No novo texto, cai a proibição de uma empresa deter mais de uma concessionária e atuar em mais de uma área da telefonia fixa. Para isso, a Anatel passará a adotar o conceito de grupo empresarial, sob o qual se organizam várias empresas
Atuação nacional: A empresa que comprar uma segunda concessão terá de atuar em todo o País. Essa medida tem o objetivo de estimular a competição entre os grupos e, para isso, será editado um Plano Geral de Metas de Competição (PGMC)
Concentração: Para evitar a formação de monopólio privado e evitar concentração econômica, um grupo empresarial fica impedido de ter mais de duas concessionárias. Ou, seja, a Oi/BrT não poderia, por exemplo, comprar a Telefônica ou a Embratel, ou ser comprada por uma delas
Separação: As concessionárias terão de prestar ‘exclusivamente’ o serviço de telefonia fixa (telefonia local, interurbanos e chamada internacionais). Para os demais serviços, como banda larga, terão de criar uma empresa específica. Ficou decidido que 180 dias após a edição do novo PGO a agência editará um regulamento para definir como será feita a separação
Venda total: O grupo que quiser vender uma concessão terá de se desfazer de toda a operação, incluindo as empresas coligadas, como as de operação da telefonia celular
Massificação: O grupo empresarial que tiver mais de uma concessionária terá de cumprir metas de massificação dos serviços de telefonia fixa e de banda larga e assegurar a outras prestadoras condições isonômicas para o uso de suas redes’
TELEVISÃO
Sky pode tirar do ar MTV em São Paulo
‘A Sky pode tirar a MTV Brasil do ar em São Paulo. A empresa consultou o Grupo Abril e deu prazo até hoje para uma resposta. As empresas não chegaram a um acordo comercial e a Sky deixou de transmitir o canal no restante do País desde o fim de maio. Segundo Luiz Eduardo Baptista, presidente da Sky, não há interesse da empresa em ter os outros dois canais da Abril, Fiz e Ideal.’
Alline Dauroiz
Band acelera trama
‘A Band resolveu correr com a história e apostar em mais drama e suspense, para alavancar o ibope da novela Água na Boca. A trama, que teve a sua melhor audiência na estréia (3,3 pontos), dá 2 pontos de média e já chegou a registrar 0,9 pontos.
Segundo o diretor Del Rangel, o folhetim não será encurtado nem haverá mudanças no roteiro , mas sim uma antecipação dos ‘pontos de conflito’. ‘As pesquisas e os grupos de discussão mostraram que podemos conseguir mais audiência trazendo ação à história. O que iria ao ar no capítulo 60, aparece agora.’
Assim, o núcleo jovem será apimentado com questões como drogas na escola e gravidez na adolescência.
O drama ficará por conta da separação dos mocinhos, Luca (Caetano O’Maihlan) e Danielle (Rosanne Mulholland). Em cenas que vão ao ar na segunda-feira, Paolo (Carl Schummacher), pai de Luca, morre em um incêndio criminoso na cantina Mamma Mia. A suspeita recairá, é claro, sobre a família de Danielle, os Cassoulet, inimigos mortais dos Bellini.
Em outra virada da trama, um vilão vai aparecer. Alex (Alexandre Barros), ex-noivo de Danielle, revelará ter ódio pelas famílias rivais.’
PUBLICIDADE
Brasil ganha mais nove Leões em Cannes
‘A diversificação dos países que vêm ganhando prêmios no Festival de Publicidade de Cannes deste ano já é considerada um marco da atual edição do festival. Se, nos anos anteriores, a novidade ficou por conta da ascensão dos países do Bric – com a exceção do Brasil, que sempre se destacou em Cannes -, este ano quem se sobressai entre os vendedores são países como Malásia, Tailândia, Costa Rica, Coréia do Sul e Catar.
No placar geral, já foram divulgados resultados de metade das dez categorias em competição. E o Brasil, com 13 prêmios, mantém praticamente o mesmo desempenho do ano passado – tinha conseguido 12 nas mesmas categorias. Mas entre os seis ouros obtidos no ano passado, estavam três peças para Outdoor, que, este ano, não assegurou nenhum. Entre os que estão brilhando nessa categoria estão justamente Malásia, Catar, Cingapura e China. Além de EUA e Alemanha, como é habitual.
‘O mundo está mudando e outros países estão trazendo referências fora da propaganda convencional e, com isso, roubando a cena’, diz André Lima, sócio da NBS e jurado da categoria Outdoor. No total, o Brasil emplacou apenas cinco Leões nessa categoria, sendo dois de prata, ganhos pela agência AlmapBBDO, e três de bronze, que ficaram com Fischer América, Santa Clara e Lew,LaraTBWA.
O prêmio máximo (Grand Prix) da categoria Outdoor ficou com uma campanha integrada – que se desdobra em várias mídias. Trata-se da mesma peça que já venceu em ação promocional, ou Promo Lions. É o trabalho criado pela agência BBDO de Nova York para o canal HBO, batizada de ‘voyeur’, que projeta em um outdoor situações que acontecem em apartamentos simultaneamente e que se relacionam entre si. A campanha já se configura como forte candidata a repetir o sucesso da campanha da Dove, que na edição passada levou todas as honrarias do Festival.
O avanço das chamadas campanhas integradas parece que veio para ficar e está sensibilizando os jurados. Em ações de mídia, ou Media Lions, outra das categorias que revelou seus vitoriosos, também uma peça trabalhada nesse espírito se saiu vencedora.
O Grand Prix ficou com a agência sueca Forsman & Bodenfors, com o trabalho para um fundo de pensão do país, o AMF. A campanha programou várias mídias para convencer os suecos, donos de bons serviços públicos de saúde, a garantirem sua velhice com uma boa renda. Para tal, entre outras ações havia uma na qual as pessoas enviavam por celular suas fotos atuais e recebiam uma versão de como ficariam com 70 anos.
O Brasil, representado no júri por Luiz Fernando Vieira, sócio da agência Africa, não teve a performance imaginada, até porque havia dobrado as apostas este ano. Inscreveu 104 casos, classificou sete e ficou com apenas um bronze para a campanha da Nokia desenvolvida pela Lew,LaraTBWA.
Em Rádio, o Brasil se saiu melhor do que no ano passado, quando ganhou apenas um Leão. As agências McCann Erickson e AlmapBBDO garantiram um cada uma, e a F/Nazca Saatchi & Saatchi levou dois. Todos de bronze. Nessa categoria, o Japão conseguiu um inédito grand prix em Rádio. Ao abusar de ruídos, que insinuava que se pode perder muita coisa quando não se fotografa a situação em curso, os japoneses conseguiram vender máquinas digitais por meio do som.
As listas preliminares de design, categoria que estreou em Cannes com mais de mil trabalhos inscritos de 54 países, deram ao Brasil cinco possibilidades de ganhar Leões. Já em Cyber, ou campanhas desenvolvidas para a internet, o Brasil classificou 37 peças.’
TEATRO
Dilemas de Hamlet
‘Esqueça o príncipe angustiado interpretado pelo russo Innokenti Smoktounovski ou o indeciso criado por sir Laurence Olivier. O Hamlet que estréia na sexta-feira, no Teatro Faap, traz um homem inconformado por se descobrir como o único lúcido no reino podre da Dinamarca. E esse Hamlet, dirigido por Aderbal Freire-Filho, ganha um exclusivo vigor brasileiro na pele de Wagner Moura, ator baiano que se consagrou no eixo Rio-São Paulo e, por extensão, no resto do País. ‘Não se trata de uma versão abrasileirada da peça’, avisa o diretor. ‘Mas a utilização de recursos cênicos com características do ator nacional.’
Assim, o Hamlet de Wagner Moura é debochado, irado, malandro, carinhoso, sagaz, cínico. Em alguns momentos, ele se aproxima do personagem criado por Marcelo Drummond em Ham-let, clássica versão de José Celso Martinez Corrêa de 1993, em que o exibicionismo do intérprete se encaixava na proposta da montagem, uma vez que ‘ham’, em inglês, significa histrião. Aderbal assistiu à essa encenação e ficou fascinado. Assim, a convite do Estado, Zé Celso e Aderbal encontraram-se no Teatro Faap na semana passada e conversaram sobre as inúmeras possibilidades oferecidas pelo texto de Shakespeare.
Em linhas gerais, Hamlet se passa no castelo de Elsinor, na Dinamarca, onde o fantasma do Rei Hamlet aparece para seu filho, o príncipe Hamlet, exigindo uma vingança. O espectro diz ter sido envenenado pelo próprio irmão, Cláudio, enquanto dormia. Cláudio se casa com a Rainha Gertrudes, mãe de Hamlet, roubando de seu pai a um só tempo a vida, a coroa e a mulher. Paralelamente, Hamlet se apaixona pela jovem Ofélia, filha de Polonio, conselheiro de Cláudio e Gertrudes, e irmã mais nova de seu amigo Laertes. Confira os principais trechos da conversa entre os dois diretores.
Aderbal Freire-Filho: O fascinante em Hamlet é sua força de atração. Mesmo quem não conhece nada da peça fica tomado por ele.
José Celso Martinez Corrêa: Ele é mais forte que Jesus (risos). Porque é um intermediário de tudo. Na revolução cultural, desde o império romano, o cristianismo, o monoteísmo, e agora o mundo inteiro tor cendo por Barack Obama, ou seja, nessa transvalorização que marca o mundo atual, acredito que Hamlet seria um dos diversos tipos de Jesus, pois ele faz a transposição do teatro para o próprio teatro. É um sujeito que assiste ao espetáculo do mundo que o rodeia. Hamlet tem uma visão que é diferente da que domina hoje, a da sociedade-espetáculo. Ele acompanha tudo a distância e, por ser um artista, transcende a consciência e assim se torna eterno. Ou seja, é o próprio Shakespeare.
Aderbal: Ele é um artista de teatro e, na peça, Hamlet se expressa de diversas formas – é um autor, por ter escrito o texto que vai ser encenado pela companhia de teatro que chega ao castelo; é também ator, quando encena para os atores um momento da peça que ele considera importante, recebendo elogios do grupo; e também é encenador, ao orientar o grupo. Isso mostra sua grandiosidade.
Zé Celso: Isso é uma arma dilha para pegar o rei Cláudio. Ele age teatralmente, o que é importante e nem sempre notado. Veja a montagem realizada por Peter Brook (encenada em 2002 com elenco multirracial): uma pecinha de família e de vingança, como uma novela das 8. Ele tirou todo o contexto, mesmo utilizando um ator negro para viver Hamlet. O texto de Shakespeare é mais complexo. Hamlet não usa a lei da vingança, ele pede perdão. Talvez Laertes seja o único personagem típico de novela das 8, pois quer vingar a morte do pai. Hamlet é diferente, por ser contemporâneo, moderno – uma entidade como Buda, Jesus. Já vi uma série de encenações de Hamlet que destroem o original, em todos os sentidos. Há um sentido poético do teatro que nem sempre é observado. Veja a montagem do Aderbal: ele é essencialmente um homem de teatro e só alguém com essa experiência pode perceber esses detalhes. Uma tradução de gabinete não percebe as minúcias do texto, as piadas internas. Só quem realmente vive o teatro consegue descobrir esses detalhes.
Aderbal: A gente tem a sensação, Zé, de estar recuperando, presunçosamente, certos detalhes que parte da crítica não compreende. Há, por exemplo, a cena do fantasma brincalhão, que aparece e desaparece. A questão é a presença mágica do teatro, ou seja, de estar presente em todos os lugares.
Zé Celso: Sim, o fantasma do pai é um Exu, que debocha do filho e o obriga a agir. Acho que todos os clássicos deveriam ser traduzidos pelos encenadores.
Aderbal: Exatamente. Procuramos fazer a forma comentada pelo Zé: o teatro é um personagem. Hamlet tem essa visão universal, essa capacidade de ser espelho, de estar dentro e fora da peça, que é o teatro. É a peça de Shakespeare que mais fala sobre teatro: esse foi o mote de minha direção. Em cena, teremos os atores sempre no palco, como se fossem uma companhia de teatro contando a história do personagem.
Zé Celso: Eu assisti a uma montagem do checo Svoboda em que ele colocava um espelho oblíquo enorme que refletia a platéia e os atores o tempo todo. E, na cena em que via o fantasma, Hamlet olhava para o espelho. Ou seja, é uma peça que permite observar milhares de facetas humanas.
Aderbal: Há uma frase que me encanta: ‘Sou capaz de fazer mais coisas do que minha capacidade de pensar.’ Eis a dimensão maior do homem. É sensacional, porque ele é o maior de todos os deuses por ter todas as possibilidades dentro dele, mesmo que não realize. Durante os ensaios, discutimos esse assunto e percebemos que Hamlet não pode pensar que pode jogar o filho pela janela, embora tenha dentro dele essa possibilidade.
Zé Celso: Nenhum ator consegue esgotar esse personagem porque ele é ilimitado. Os outros têm contorno, com começo, meio e fim. Hamlet é o próprio tamanho da peça. Na nossa montagem, Marcelo Drummond passou por um estraçalhamento da voz por conta das 6 horas que durava a encenação. Ele precisou construir uma nova voz para representar com uma adequação à la Cazuza. Ele justificou o que dizia Nelson Rodrigues, segundo o qual o verdadeiro Hamlet era aquele que batia a carteira do espectador, Depois disso, considero a interpretação de Laurence Olivier muito chata (risos) .’
***
Sucesso no cinema e TV garante peça
‘No rápido encontro que teve com o diretor José Celso Martinez Corrêa, o ator Wagner Moura recebeu a bênção necessária para interpretar o principal papel de Hamlet. ‘Por sua causa, vou assistir a essa peça’, disse Zé Celso, encantado com a disposição do ator em viver um dos mais desafiadores papéis da dramaturgia mundial. Melhor ainda: por também estar produzindo a montagem, ao lado do amigo Sérgio Martins.
De fato, o sucesso no cinema e na televisão não acomodou Moura. Ao contrário – acentuou sua necessidade de passar por provações. Assim, mesmo popular como Capitão Nascimento (do filme Tropa de Elite) ou o vilão Olavo (da novela Paraíso Tropical), Moura decidiu investir em projetos pessoais. Primeiro, começou a escrever um texto sobre paranóia e medo. Enviou para o diretor Aderbal Freire-Filho, que não se animou. ‘Foi quando eu fazia um curso de cinema que me veio a idéia de interpretar algo de Shakespeare, mais especificamente Hamlet’, disse ele que, com tal proposta, conseguiu a adesão imediata de Freire-Filho.
Aos 31 anos, Moura diverte-se ao explicar sua alternativa única: ‘Já sou velho para interpretar Romeu e ainda jovem demais para ser Rei Lear.’ Na verdade, o papel sempre o fascinou, especialmente depois de assistir a versões pessoais, como Ensaio.Hamlet, de Enrique Diaz e a Cia. dos Atores. ‘A desconstrução provou que se trata de um personagem complexo, tanto engraçado como inteligente.’
E, para enfrentar tamanha responsabilidade, Moura se sentiria seguro apenas se contasse com a direção de Freire-Filho, com quem trabalhou em Dilúvio em Tempos de Seca, em 2004. O acordo foi rapidamente selado: ‘Logo percebemos ter a mesma visão da peça’, conta o ator. ‘Nossa encenação privilegia o teatro, desde o cenário até a disposição do elenco, que praticamente permanece todo o tempo no palco, seja atuando, seja acompanhando a cena na lateral.’
Assim, seguindo o autêntico estilo elisabetano, os atores trocam de personagem diante do público. ‘Cria-se um pacto com o espectador, reforçando a comunicação’, afirma ele.
Para realizar a montagem segundo seu gosto pessoal, Moura estréia como produtor, atividade que permitiu, por exemplo, que ele e Freire-Filho, assistidos pela professora de inglês Barbara Harrington, fizessem a própria tradução, que privilegia o literário, sem se esquecer da humanidade do que é dito. ‘Não foi feito nenhum corte, mas conseguimos deixar o texto mais comunicativo’, disse Moura, lembrando que é mais fácil montar Shakespeare em países que não falam inglês. ‘Quando se traduz, o original elisabetano é adaptado para a forma moderna de falar.’
Wagner Moura reconhece que sua popularidade facilitou a captação de recursos via leis de incentivo. ‘Mas é raro encontrar alguém que se disponha a investir em peças como Hamlet, daí a necessidade de se autoproduzir.’’
***
Processo de montagem inspira documentários
‘No dia 18 de fevereiro, começaram os ensaios de Hamlet. Foi nesse dia que a fotógrafa Sandra Delgado registrou sua primeira cena com uma câmera de filmagem. Desde então, ela já colecionou inúmeras horas gravadas, que vai resultar em um inédito making of, fonte para um programa de televisão e também para um documentário a ser exibido no cinema. ‘É a primeira vez que todo o processo de uma montagem teatral vem sendo registrado’, observa o ator e produtor Wagner Moura, que também é casado com Sandra.
A primeira versão a ser mostrada será um condensado de 50 minutos, que o canal por assinatura Multishow (Globosat) pretende exibir no dia 4 de julho, com o título de Além Hamlet. Depois, o material vai receber uma nova edição para resultar no filme, cuja estréia deverá acontecer no próximo ano. Para isso, Sandra acompanha todos os detalhes da produção, desde as primeiras leituras até a estréia de sexta-feira, que deverá ser acompanhada por três câmaras – até mesmo o encontro entre os diretores Aderbal Freire-Filho e José Celso Martinez Corrêa, promovido pelo Estado, foi registrado.
‘No começo, sentíamos um certo estranhamento com a presença daquela câmera, até porque não estamos acostumados com isso no teatro’, lembra Moura. ‘Mas esse processo inicial foi necessário para que, com o tempo, cada um agisse com naturalidade, até se esquecendo que estava sendo filmado.’
Sandra preocupou-se em resgatar todos os detalhes – os atores são mostrados se preparando no camarim, maquiando-se e aquecendo a voz, até finalmente entrar em cena. Também o processo de direção de Freire-Filho está devidamente registrado, o que reforça a importância do tom documental do trabalho em uma arte cuja história se conserva basicamente por meio de textos e fotografias. ‘Infelizmente, ainda não temos um arquivo de imagens suficientes do teatro brasileiro’, lamenta Moura.’
MÚSICA
Gil vê delícia e angústia na era virtual
‘Chega hoje às lojas o novo disco do cantor, compositor, violonista, acordeonista e ministro da Cultura brasileiro Gilberto Gil. Banda Larga Cordel (lançamento Warner Music Brasil), como o nome anuncia, sugere uma tentativa de aproximação temática entre o universo da tecnologia de informação de ponta e a cultura tradicional brasileira. Uma exploração poética das possibilidades do mundo high tech – em choque contínuo com a toada low tech da exclusão cultural e social.
Ouça a canção Não Tenho Medo da Morte, de Gil
Muitos têm interpretado Banda Larga Cordel como mais um exemplar da fascinação de Gil pelo universo tecnológico, coisa que vem desde a Tropicália, quando ele compôs Cérebro Eletrônico e Futurível (1969), e que prossegue ao longo da carreira, com exemplares como Cibernética (1974), Parabolicamará (1991) e Quanta (1997).
Ouvindo-se atentamente o álbum, vê-se que não é tão verdade nesse caso. Gil, na realidade, analisa fundamentalmente o impacto da tecnologia nas formas de produção popular, no comportamento do povo, na ambivalência moral que surge com a novidade eletrônica. A tecnologia está aí ‘para o bem e para o mal’, foi o que ele disse.
A canção que abre o disco é sintomática dessa revisão: Despedida de Solteira foi construída como se fosse uma daquelas parcerias antigas de Gil com Dominguinhos, e seu tema explora a reação do tradicional macho nordestino face à liberação sexual (que não se funda mais em uma antiga dualidade).
‘E assim nossa prosa prosseguiria/ O assunto era instigante, o horizonte promissor/ Excitante para um cabra tão galante/ Intrigante para uma cabrita em flor’, diz a letra. A canção termina com risadas sarcásticas das meninas do coro feminino.
E assim o tema das novas moralidades prossegue na segunda canção do disco, Os Pais, que fala da angústia de se criar um filho num mundo dominado pelo narcotráfico e por freaks de toda natureza. ‘Maior liberdade ou maior repressão? Dilema maior dessa tal de civilização.’ É como se Gil dissesse: o pai é moderno, mas a preocupação é antiga e é a mesma.
Gil liquidifica todas suas referências musicais. A sonoridade nordestina, que ele já tinha fundido com o reggae no disco em homenagem a Bob Marley, agora serve para seu comentário sobre o paradoxo da tecnologia chegando ao sertão, o Ponto de Cultura chegando a Sousa, ao Vale dos Dinossauros da Paraíba.
É esse o invólucro que embala o forró Não Grude Não, no qual Gil parece examinar sua própria condição transitória de ministro da Cultura e suas caravanas pelo interior do Brasil. ‘Numa cidade, sodade/ Noutra cidade, sodade/ Quem se escafede se antecede ao fim do fim.’
Mesmo quando ele parece sair dessa discussão, a discussão volta à baila. Por exemplo: na gravação de Formosa, canção de Baden Powell e Vinicius de Moraes, o samba de Baden é trazido à tona como se fosse um exemplar de um tempo no qual se inventava a modernidade, os afro-sambas ecoando a origem e o futuro. Uma simples seção de metais turbina o samba.
É a mesma sensação que se tem adiante, com o Samba de Los Angeles. O que pareceria uma rendição ao império midiático de Hollywood surge apenas como um sambinha emprenhado por uma moda de viola, uma coisa quase rural que se contrapõe à lembrança das freeways de Los Angeles.
É então que Gil vai à África, mas não pela via direta. Vai a ela por intermédio da world music cantada em francês, que foi a via pela qual a África passou a ter existência cultural no Velho Continente. La Renaissance Africaine é a segunda música de Gil com esse apelo (a primeira foi La Lune de Gorée, parceria com Capinam, uma de suas mais belas canções). ‘É a África e sua missão/ Chave para a verdadeira construção/ Do mundo civilizado.’ Por baixo de tudo, um baixo sintetizado e um beat programado.
Com Olho Mágico, ele examina as perversões do voyeurismo exagerado. Já em Não Tenho Medo da Morte, depara-se com o envelhecimento e o ato derradeiro. É a música mais bonita do álbum, envolta no som de um triângulo, mas também em uma orquestra de cordas (regida por Jaques Morelembaum).
Gil é prolixo em uma letra (Banda Larga Cordel), e faz um haicai de outra (Amor de Carnaval). É básico na formação rítmica de A Faca e o Queijo e Outros Viram (que toca só, ao violão) e escala uma big band em outra (Gueixa no Tatame). Além do ‘Deus dos esnobes’, o sábio poeta tropicalista nos mostra que a chave essencial da modernidade ainda é pensar com clareza. E saber concluir com graça. Um belo disco.’
************