Sim, eu sei que sou só mais uma a lamentar o fim da revista Bravo!. Achei ruim demais da conta (como dizemos em Minas) que a Editora Abril tenha decidido extingui-la. Não duvido que as razões da editora sejam as mais justas possíveis porque, como sabemos, todos nós que labutamos nas variadas áreas do trabalho jornalístico, esse é um ramo complicado. Agora, mais jornalistas estarão desempregados, mas até aqui, nada de mais, todos nós já estamos tão acostumados a ler sobre isso e a termos que nos virar, não é? Mas, apesar disso, eu pelo menos, sempre me entristeço com tais notícias. Parece que há uma lógica no mercado que privilegia, cada vez mais, o que é ruim (em todos os sentidos), aquilo que será comercializado em tempo recorde e que todos entenderão (no caso de produtos editoriais) com um esforço mínimo.
É claro que essa tendência é generalizada e neste momento basta ler algo de Zygmunt Bauman para entender que os tentáculos “globalizatórios” estão em todos os cantos do planeta e a extinção de certos bons produtos (editoriais ou não) é o resultado de políticas que parecem visar apenas e tão somente ao lucro imediato.
Uai, não há de nada de errado nisso, dirão aqueles que gerenciam negócios e sabem o quanto custa mantê-los ali, na ponta do lápis, fazendo contas etc. Eu não sou tão alienada ou romântica (jornalismo romântico: será que isso ainda existe?!) a ponto de achar que uma revista que não vende e não atrai anunciantes, devesse ser mantida contra tudo e todos, mas fico pensando se não haveriam alternativas.
Qualidade vs. nivelamento por baixo
Então, eu fiz como é comum agora e fui ver no “São Google” o impacto dessa notícia e soube que enquanto muitos (como eu) lamentam, outros dizem que a revista já estava ruim mesmo (opinião da qual não compartilho) e foi tarde. O fato é que o a extinção da Bravo! e de tantas outras boas publicações culturais, mais uma vez, confirma o quanto esse tipo de produto editorial que visa à qualidade e é feito com cuidado por pessoas que se preocupam com o que escrevem… parece mesmo estar com os dias contados.
Mais uma vez, nada de novo, mas esse texto não tem nenhuma pretensão de ser novidadeiro ou coisa parecida. É só como eu disse lá em cima: um lamento. Tem gente muito entendida no assunto mídias sociais e internet e que, além disso, estuda tendências mercadológicas e as relaciona a políticas públicas mundiais, dizendo por aí que o jornalismo como conhecemos (conhecíamos? Imaginávamos? Gostaríamos?) vai acabar.
Mas, longe desses debates tão profundos e necessários, como leitora, eu fico bem decepcionada por saber que não terei mais a Bravo! como um guia cultural feito por gente empenhada em decodificar os fazeres do mundo das artes. Na verdade, esse parece ser o tempo do nivelamento por baixo (bem baixo mesmo, pensando bem, se chegarmos ao fundo do poço o único jeito é tentar subir e peço perdão pelo pavoroso clichê) em todos os setores.
Eu também lamento o fim da Lola (a única revista feminina que não tratava a leitora como imbecil), da Cult, do “Sabático” (!), mas também acredito que não há mal que dure sempre e essa fase ruim há de passar. A Bravo! foi extinta, mas gostaria de dizer a todos que passaram por lá que os serviços prestados por eles na divulgação artística e cultural dos tantos filmes, livros, exposições, mostras, curtas e etc. ficarão como marco do bom jornalismo. Daqui há sei lá quantos anos, as pessoas poderão comprá-la em sebos e terão um bom painel do que se fez culturalmente nesse nosso tempo pra lá de esquisito. E entrar pra história, se tornar referência, não é tarefa fácil.
Para finalizar esse lamento que, acredito, não deve ser somente meu, deixo registrado: a Bravo! acabou… Viva a Bravo!
******
Ana Claudia Vargas é jornalista, Poços de Caldas, MG