Jeff Bezos, o executivo-chefe da Amazon.com, fechou um acordo para comprar o The Washington Post, ontem (5/8), por US$ 250 milhões. O negócio é uma aposta de Bezos em sua capacidade de repetir o sucesso obtido no comércio eletrônico no negócio de jornais. Bezos fechou o negócio na qualidade de pessoa física, e não como parte da Amazon, a maior varejista on-line do mundo, segundo comunicado divulgado ontem. A Washington Post Co., que não está vendendo a divisão Kaplan de educação e outras subsidiárias como parte da transação, pretende mudar de nome.
Ao adquirir a publicação, Bezos torna-se o mais recente bilionário a tentar revitalizar o setor de jornais. John Henry, proprietário do time de beisebol Boston Red Sox, fechou a compra do jornal The Boston Globe na semana passada, e Warren Buffett montou um império de jornais comunitários nos últimos anos. “Entendo o papel decisivo desempenhado pelo Post em Washington, e no nosso país, e os valores do Post não vão mudar”, disse Bezos no comunicado. “Nosso dever para com os leitores continuará a ser o cerne do Post, e estou muito otimista com relação ao futuro.”
O negócio marca o fim da direção do jornal pela família Graham e seus parentes, que adquiriram o jornal em 1933. “Este é um dia que minha família e eu nunca prevemos que viria a acontecer” disse a publisher Katherine Weimouth, sobrinha do presidente do conselho de administração Don Graham, em carta ao leitor. “A The Washington Post Co. está vendendo o jornal que controlou e cultivou por oito décadas.”
Uma empresa de exploração espacial
A The Washington Post Co., que também detém a Post-Newsweek Stations, de emissoras de TV, e a Cable ONE, de serviços a cabo, não anunciou qual será seu novo nome. Além de comprar o The Washington Post, Bezos vai adquirir a Great Washington Publishing, de revistas e produtos digitais, a empresa de armazéns Robinson Terminal e os jornais Gazette, Express e El Tiempo Latino.
Bezos, de 49 anos, tem uma fortuna líquida de US$ 27,9 bilhões, o que o torna o 16º do Índice Bloomberg de Bilionários, de acordo com dados reunidos até o dia 2. Ele figura acima dos cofundadores do Google, Larry Page e Sergey Brin, bem como do principal executivo da Microsoft, Steve Ballmer, e do fundador da Dell, Michael Dell.
A maior parte da fortuna de Bezos está ligada à participação de 19% que detém na Amazon. Desde a oferta pública inicial de ações da empresa, em 1995, Bezos vendeu quase US$ 2 bilhões em ações da Amazon. Boa parte desse valor foi para a Blue Origin, sua empresa de exploração espacial de capital fechado.
Inovações não neutralizaram queda de receita
Deduzidos os US$ 175 milhões destinados a financiar a Blue Origin, tudo indica que Bezos tenha cerca de US$ 1,7 bilhão em dinheiro e outros ativos passíveis de investimento, com base em uma análise de transações, lucro de dividendos, impostos e desempenho de mercado da empresa. Bezos fez uma investida anterior no setor de mídia, em abril, quando participou de uma rodada de investimentos de US$ 5 milhões na Business Insider, o site de notícias cofundado pelo ex-analista do setor de internet Henry Blodget. A empresa de investimentos Bezos Expeditions, do fundador da Amazon, administrou o investimento.
Drew Herdener, porta-voz de Bezos, preferiu não ir além dos comunicados públicos.
A venda do Post tornou-se necessária devido às dificuldades do setor de jornais e aos desafios, que ficaram grandes demais para ser geridos por uma empresa pequena com ações negociadas em bolsa, disse Graham em um comunicado paralelo.
“Nossas receitas caíram durante sete anos consecutivos”, disse Graham. “Tínhamos introduzido inovações e, a meu ver, nossas inovações tinham feito muito sucesso com o público e do ponto de vista da qualidade, mas elas não neutralizaram os efeitos da queda de receita”, afirmou, no comunicado. “Nossa resposta teve de se centrar em reduções de custos, e sabíamos que havia limite para isso. Tínhamos certeza de que o jornal sobreviveria sob o nosso controle, mas queríamos mais que isso para ele. Queríamos que tivesse sucesso.”
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Nick Turner e Edmund Lee, da Bloomberg, em Nova York