Friday, 22 de November de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1315

Os novos ‘valores’ da informação

Levei um susto quando soube da venda do centenário Washington Post ao dono da revolucionária Amazon, Jeff Bezos. Fiquei ainda mais boquiaberto com o valor da transação: 250 milhões de dólares. O jornal, de 1877, entrou em sua “era moderna” no ano de 1933, quando foi comprado por Eugene Meyer, milionário com assento no board do Fed, o banco central dos EUA, e que lucrou na crise de 29. Meyer tirou o periódico da lama das dívidas.

O Post fez trabalhos notáveis – o mais famoso foi a série de reportagens sobre o escândalo Watergate que culminou com a renúncia de Richard Nixon, fato inédito na história da maior potência do planeta.

Seguindo seus concorrentes (principalmente o New York Times e o Wall Street Journal), o diário do centro do poder americano demonstrou pouco interesse na “revolução digital”, que mostrava sua cara na década de 90. O Times e o Journal conseguiram, de certa forma, se adaptar ao novo mundo em que estamos. A política de conteúdo pago (o diário econômico foi um dos pioneiros nisso) parece dar frutos, embora nem de longe represente a solução para a crise em que os impressos estão. Todavia, isso é assunto para outro artigo.

Nivelando por baixo

O ponto em questão é que o Post demorou a entrar na “onda virtual”. Seu site nunca foi chamativo e a home precisou de uma reforma recente. Na verdade, foi engolido pela web. Como pode? Alguns trechos da carta que Bezos escreveu ao pessoal do jornal apontam que “os valores do Post não precisam de mudanças”, mas que a “internet está transformando quase todos os elementos no mercado jornalístico”. Finalmente, reconhece que “o caminho a seguir não será fácil. Precisaremos nos reinventar, o que significa que teremos que experimentar”. É o sintoma de um veículo que não se adaptou ao “novo mundo” digital.

Mas será que teremos orgulho de uma época em que um aplicativo de fotografias com “filtros” para imagens sobre o nada tenha valor de 1 bilhão de dólares? Ou uma “plataforma de blogging” seja disputada a tapas e arrematada por 1,1 bilhão? Apenas para ficar em casos recentes das “inovações tecnológicas”.

A imagem do bom e velho jornal impresso está deixando, aos poucos, nosso imaginário. Nossa mente é invadida por “feeds de notícias” banais e imagens das últimas férias de alguém com quem mal trocamos alguns tuítes. Não sei para onde vai a tal “revolução digital”, mas estamos nos nivelando por baixo. Penso eu.

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Luiz Anversa é jornalista, São Paulo, SP