A ministra da Cultura da França, Aurelie Filippetti, foi obrigada a se retratar, no início de agosto, por cometer um erro ortográfico em um tuíte. Como, por conta do cargo que ocupa, ela é a “guardiã oficial da língua francesa”, o episódio foi visto como vergonhoso. É fato que a espontaneidade das mensagens no Twitter acaba levando a desatenções com a língua; a ministra, por sua vez, culpou um assessor desleixado. No entanto, para puristas linguísticos, o incidente tocou em questões mais amplas, como a deturpação da língua nas mídias sociais e a invasão da língua inglesa na cultura francesa.
Há muito que os franceses utilizam regras para defender sua língua do Inglês, principalmente em anúncios publicitários. Por lei, qualquer slogan em inglês, como, por exemplo, o “What else?” (O que mais?) da Nespresso, deve ser traduzido com uma legenda: “Quoi d’autre?”. Os anunciantes buscam artifícios para distorcer as regras, utilizando fontes pequenas ou inventando logos que misturam os dois idiomas.
Guardião informal
As mídias sociais estão “desgastando” ainda mais o francês. O idioma é mais prolixo que o inglês, um problema para o limite de 140 caracteres do Twitter. Para economizar espaço, os tuítes franceses costumam vir cheios de abreviações: “koi” para “quoi” (que) ou “C” para “c’est” (isto é). Neologismos também são frequentes: alguém com uma conta no Twitter pode ser “followé” por outros. O próprio Twitter, substantivo inglês, virou um verbo francês. Uma autoridade recentemente tuitou que “nous live-twitterons” o discurso de um ministro.
Um órgão oficial tenta afastar os anglicismos da internet com alternativas francesas. Para a “cloud computer” – ou “computação em nuvem” –, recomenda “informatique en nuage”. “Hashtag” deve ser traduzida para “mot-dièse”. Tais alternativas raramente se tornam populares.
Com uma conta no Twitter, mas horrorizado com a desfiguração do francês, o crítico literário Bernard Pivot, 78 anos e guardião informal da língua, publicou um livro com todos os seus tuítes perfeitamente construídos com respeito à língua francesa. O Twitter não precisa corromper a língua, ele argumenta. Em vez disso, o site impõe reflexão e concisão. Como Pivot aponta, o primeiro artigo da Declaração dos Direitos do Homem e do Cidadão possui apenas 136 caracteres, o tamanho perfeito para uma mensagem no microblog.