Sunday, 22 de December de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1319

Soldado que vazou documentos ao WikiLeaks é sentenciado a 35 anos

O soldado americano Bradley Manning foi sentenciado, nesta quarta-feira (21/8), a 35 anos de prisão pelo vazamento de centenas de milhares de documentos confidenciais dos EUA. No mês passado, Manning havia sido condenado, em um tribunal militar, por diversas acusações, entre elas a disseminação ilegal de documentos enquanto servia ao Exército e violações do Ato de Espionagem. Se fosse condenado por todas as acusações que sofreu, o soldado, que tem 25 anos, poderia pegar até 90 anos de prisão. O governo havia pedido à juíza Denise Lind que sentenciasse Manning a 60 anos.

Manning vazou os documentos sigilosos para o site WikiLeaks, fundado pelo ciberativista Julian Assange, quando atuava como analista de inteligência do Exército em uma base no Iraque. Os primeiros documentos, repassados ao WikiLeaks em fevereiro de 2010, eram registros militares das guerras do Iraque e Afeganistão – relatórios de campo sobre os dois conflitos.

A partir deste primeiro vazamento, Manning estabeleceu uma relação online com uma pessoa que acredita-se ser Julian Assange. Com a intensificação da troca de mensagens, o soldado continuou a repassar mais documentos a seu interlocutor, incluindo avaliações de prisioneiros na base militar de Guantánamo e milhares de telegramas diplomáticos, que expunham as relações dos EUA com diversos países.

Manning também vazou um vídeo que mostrava um helicóptero do Exército americano em Bagdá abrindo fogo contra um grupo de iraquianos – entre os alvos do ataque estavam crianças e dois jornalistas, que a tripulação achava ser insurgentes.

Confuso, mas com boas intenções

No tribunal, Manning desculpou-se por “ter prejudicado os EUA”. Seus advogados alegaram que seu cliente estava desiludido com o que via no Iraque e esperava que a divulgação de material secreto aumentasse a consciência pública sobre as guerras do Iraque e Afeganistão. Eles também argumentaram que Manning ficou cada vez mais estressado, ao mesmo tempo em que lutava com questões sobre sua sexualidade e se recuperava do fim de um relacionamento. Para ilustrar a gravidade da situação, eles citaram um email que o soldado enviou a um superior em abril de 2010, com o assunto “Meu problema” e uma foto dele próprio usando batom e uma peruca loira. No mês seguinte, Manning foi encontrado no chão de um depósito com uma faca a seus pés. No mesmo dia, ele agrediu um colega e foi afastado de vez do trabalho.

Depois destes eventos, o soldado contou a um hacker que estava trabalhando com o WikiLeaks. Depois de conversar com ele, via internet, por alguns dias, o hacker avisou o Exército e o FBI sobre o vazamento. Manning foi preso no fim de maio de 2010, e seu julgamento teve início em dezembro de 2011. No fim de julho último ele foi condenado em 20 das 22 acusações que enfrentava.

O advogado de defesa David Coombs pediu à juíza que desse a Manning uma sentença que permitisse que ele pudesse “ter uma vida”. Segundo Coombs, o soldado era bem intencionado. “Seu maior crime foi se importar com a perda de vida que estava vendo e com a qual lutava”, afirmou. De acordo com o tribunal, ele deve cumprir pelo menos um terço da sentença para se tornar apto a pedir liberdade condicional. Manning irá receber 1.293 dias de crédito pelo tempo que ficou preso antes da sentença – incluindo 112 dias por tratamento abusivo.

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