Saturday, 23 de November de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1315

Mercado brasileiro na contramão

Ao contrário do resto do mundo, os livros de bolso no Brasil vão muito bem, obrigado, segundo editores consultados pelo Globo. Depois da tendência de publicações no formato lançada, em 1997, pela editora porto-alegrense L&PM, vários grupos editoriais resolveram seguir o modelo, nos últimos anos, com resultados positivos. Ameaça dos e-books? Ninguém acredita nisso. A Saraiva, maior rede de livrarias do país, é um grande exemplo. De acordo com o diretor da rede, Frederico Indiani, desde setembro de 2011, quando o selo Saraiva de bolso foi lançado, já foram vendidos 500 mil exemplares – e a expectativa é que o número continue a crescer.

– É um crescimento bem interessante e que mostra, até aqui, sinais de que vai continuar. É uma coleção que faz muito sentido dentro do nosso modelo de negócios – diz Indiani. – Como somos uma livraria, posso falar não só pela nossa própria coleção, mas pelas outras. E elas estão crescendo, tanto em tamanho de catálogo, quanto em consumo.

O diretor da Saraiva não acha que a competição com os e-books vá acabar com o formato. Do catálogo de livros de bolso lançados pela livraria, 95% já é vendido em formato digital. Se o preço médio da edição impressa fica em R$ 14, o e-book “de bolso” da Saraiva fica em R$ 9. A maior parte dos títulos – obras de autores clássicos, como Guimarães Rosa – vem do catálogo da Nova Fronteira, parceira da livraria.

Ivan Pinheiro Machado, sócio-fundador da L&PM, concorda. Afinal, os livros de bolso ajudaram a tirar a editora da crise que ela enfrentou no fim dos anos 1990. Machado começou com uma coleção de 12 livros, em que havia o que hoje é um dos clássicos da L&PM, Charles Bukowski. Mirando mais no público estudantil, conseguiu tirar a empresa do vermelho. O segredo? O editor tentou provar que livro barato não era livro ruim, apostando em boas traduções e edições.

– Conseguimos passar por cima de vários preconceitos contra o livro de bolso, como o do autor e o do livreiro – afirma Machado. – Havia uma crença que livro era um produto para um consumidor elitizado, para quem o preço não faria diferença.

O editor afirma não ter medo do digital. Aliás, a L&PM é uma das pioneiras no país quando o assunto é e-book: ela faz parte do grupo de seis grandes editoras que, há dois anos, se uniu na Distribuidora de Livros Digitais (DLD), criada para possibilitar a venda de livros digitais no país. E também para negociar em bloco com as gigantes dos e-books que, naquela ocasião, negociavam contratos para chegar ao país: Amazon, Google, Apple e Kobo.

– Um dos motivos do nosso sucesso era o modelo de distribuição, com livros chegando bem no Norte e no Nordeste. E as vendas crescem. Não acho que o digital vá nos prejudicar. Pelo contrário, acho que vai somar, trazendo novos leitores – diz o editor.

Em conta

Desde 2009 a editora Objetiva tem seu selo de bolso, o Ponto de Leitura, atualmente com cerca de 130 títulos em catálogo.

– Vejo sim um futuro para o formato, ainda que concorrendo com o digital, também mais baratos – diz Roberto Feith, diretor editorial da Objetiva. – Os resultados são especialmente animadores para alguns autores, como Stephen King. Os bons resultados nos fizeram estruturar uma programação especial, lançando um livro dele em formato bolso por mês, até alcançar toda a sua obra.

A Record, que tem os selos Best Bolso e Vira-vira, vê no formato uma forma de recuperar o acervo do fundo do catálogo, segundo Silvia Leitão, editora da área.

Sobre o otimismo dos editores em relação à competição com os e-books, vale lembrar como funciona o contrato das grandes editoras nacionais para venda em lojas como a Amazon. Os livros digitais das casas reunidas na DLD costumam ser em média 30% mais baratos que as edições físicas. O livro de bolso, por sua vez, quando não é uma edição exclusiva no formato, costuma ser 45% mais em conta do que a chamada “edição trade”. O otimismo não é à toa. 

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Mauricio Meireles, do Globo