Saturday, 23 de November de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1315

EUA têm gasto secreto de US$ 52 bi para espionar

As agências de espionagem dos EUA montaram um esquema de coleta de inteligência para dar ao presidente informações cruciais sobre ameaças à segurança nacional, segundo orçamento secreto do governo obtido pelo Washington Post do ex-agente Edward Snowden. O orçamento de US$ 52,6 bilhões para o ano fiscal de 2013 dá um panorama do que nunca foi submetido ao escrutínio público.

Embora o governo divulgue seus gastos em inteligência, ele não mostra como usa o dinheiro. O resumo de 178 páginas detalha sucessos, fracassos e objetivos das 16 agências de espionagem dos EUA. O texto descreve tecnologias de ponta, recrutamento e operações. O Washington Post reteve algumas informações após consultar autoridades americanas, que manifestaram temores sobre os riscos para fontes e métodos da inteligência.

“Os EUA fizeram investimentos consideráveis em inteligência desde os ataques terroristas de 11 de Setembro”, escreveu o diretor de Inteligência Nacional, James Clapper, em resposta a perguntas do jornal. “Nosso orçamento é confidencial porque poderia fornecer insights para serviços de inteligência estrangeiros discernirem nossas prioridades, capacidades, fontes e métodos que nos permitem obter informações para enfrentar ameaças”, disse.

Os gastos da CIA superam os de todas as demais agências de espionagem, com US$ 14,7 bilhões de recursos solicitados em 2013. A cifra supera as estimativas externas e é quase 50% maior do que a da Agência de Segurança Nacional (NSA, na sigla em inglês), que realiza operações de escuta secreta de conversas privadas e é considerada a gigante da comunidade.

CIA e NSA começaram novos e agressivos esforços para invadir redes estrangeiras de computadores para o roubo de informação e sabotagem de sistemas, adotando o que o orçamento chama de “operações cibernéticas ofensivas”.

Muito antes dos vazamentos de Snowden, a comunidade de segurança estava preocupada com “comportamentos anômalos” de empregados e contratados com acesso a material confidencial. A NSA planejou evitar um “comprometimento de informações sensíveis” este ano, reavaliando pelo menos 4 mil pessoas com permissões de segurança de alto nível.

Os agentes de inteligência americanos se interessam tanto por aliados como por inimigos. O Paquistão é descrito como um “alvo intratável” e operações de contrainteligência “são estrategicamente focadas contra alvos prioritários: China, Rússia, Irã, Cuba e Israel. Este último, um aliado americano, mas tem histórico de tentativas de espionagem contra os EUA.

“Escolhas duras”

Em palavras, feitos e dólares, as agências de inteligência continuam concentradas no terrorismo como a ameaça mais grave à segurança nacional, que é listada como o primeiro de cinco “objetivos de missão”. Os programas de contraterrorismo empregam um em cada quatro membros da força de trabalho e respondem por um terço dos gastos em inteligência.

Os governos de Irã, China e Rússia são difíceis de penetrar, mas o da Coreia do Norte é mais opaco. Há cinco lacunas na inteligência americana sobre o programa nuclear de Pyongyang e analistas não sabem nada sobre as intenções do líder norte-coreano Kim Jong-un.

Conhecido como Justificativa Orçamentária do Congresso para o Programa de Inteligência Nacional, o documento apresenta os níveis de gastos propostos aos comitês de inteligência da Câmara e do Senado, em fevereiro de 2012. Ele descreve agências de espionagem que monitoram milhões de alvos de vigilância e realizam operações que incluem centenas de ataques letais. Elas estão organizadas em torno de cinco prioridades: combater o terrorismo, deter a proliferação de armas nucleares e não convencionais, alertar líderes americanos sobre eventos críticos no exterior, defesa da espionagem estrangeira e realizar ciberoperações.

Na introdução, Clapper diz que as ameaças que os EUA enfrentam “desafiam uma hierarquização”. Ele adverte sobre “escolhas duras” a serem adotadas para que a comunidade de inteligência corte gastos. A proposta orçamentária atual considera que os gastos ficarão no mesmo nível pelo menos até 2017.

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Barton Gelman e Greg Miller, do Washington Post