Nada faz o jornalista diferente dos demais cidadãos, por mais que não seja isso que pense boa parte dos comunicadores deste país. A objetividade jornalística antes de tudo é subjetiva, pois, como qualquer outro ser humano, o profissional de jornalismo é influenciado pelo meio e sente as mesmas aflições, medos e anseios dos demais indivíduos. Toda a história é contada através de versões, contadas por testemunhas oculares, ou pelas páginas de algum diário mundo afora. Quem conta essa história são pessoas, precisamente uma categoria intitulada de jornalistas. Quando esse profissional não presencia um fato, recorre a outra pessoa, que chamamos de fonte. Ou seja, quando um fato é publicado no jornal, ele aconteceu com uma pessoa, uma segunda presenciou e talvez essa tenha contado ao jornalista que escreveu a matéria, sendo que esta ainda foi editada por uma quarta pessoa.
Tal descrição não poderá ser objetiva em sua composição, pois todas as pessoas que contaram a história omitiram ou acrescentaram algum elemento, quando não fizeram os dois. É fácil entender essa relação quando pensamos naquela brincadeira chamada de “telefone sem fim”. “O jornalismo, produto que é do senso comum, adota a pressuposição tácita de que uma descrição pode ser objetiva, ou seja, pode ser inteiramente fiel às características do objeto, sem que o sujeito a deforme” (Eugênio BUCCI, em Sobre ética e imprensa, 2000, p.92).
Outra coisa que descaracteriza a tal objetividade jornalística é o fato do jornalismo retratar e ser produzido por sujeitos, como trabalha Bucci (2000). Cláudio Abramo, em A regra do jogo (1988) tem uma definição bem direta sobre a objetividade jornalística. Diz ela:
“A posição que considera o jornalista um ser separado da humanidade é uma bobagem. A própria objetividade é mal administrada porque se mistura com a necessidade de não se envolver, o que cria uma contradição na própria formulação política de trabalho jornalístico” (1988, p. 109).
As convicções e os preconceitos
“O envolvimento do jornalista com o objeto ou com sujeito dos seus relatos é natural, pois nossas concepções, experiências e preconceitos nos acompanham, mas o importante é o jornalista sempre manter certo ceticismo, em relação aos fatos” (ABRAMO, 1988). A objetividade é uma questão ética que deveria ser abordada de maneira mais clara para com o público, principalmente em períodos eleitorais, na qual a maioria dos veículos de comunicação apoia um determinado candidato, mas mantém o discurso da neutralidade e da objetividade, gerando uma mentira que vira traição à sociedade e esconde o jogo de interesse por trás das manchetes.
A prática de declarar preferência por determinados candidatos é corriqueira nos Estados Unidos, o que é uma atitude ética e de respeito para com o público que não se sentirá enganado. Em 2008, o The New York Times declarou que preferia que a candidata democrata, Hillary Clinton, vencesse as prévias ganhando o direito de concorrer à eleição presidencial. No Brasil, medida semelhante tomou a CartaCapital em 2002, quando declarou apoiar Luiz Inácio Lula da Silva. “O pecado ético do jornalista não é trazer consigo convicções e talvez até preconceitos. Isso, todos temos. O pecado é não esclarecer para si e para os outros essas suas determinações íntimas; é escondê-las, posando de ‘neutro’” (BUCCI, 2000, p.97).
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Bruno Rebouças é jornalista