Vejo com tristeza determinadas peças publicitárias veiculadas na televisão brasileira que têm um quê de ridículo e geralmente atentam contra a ordem estabelecida. Uma delas me causou indignação e deu-me certa preocupação sobre os rumos da propaganda brasileira que geralmente na ânsia de venda simples acabam atentando contra as leis do país. Na propaganda em questão, vemos o ex-jogador de futebol Ronaldo Fenômeno passando trotes para supostos colegas e me vem uma pergunta: trote não é crime? Sabemos que hoje há grandes problemas nos órgãos de polícia e de socorros médicos com trotes que são passados e acabam atrapalhando a segurança e o possível socorro.
No caso da propaganda vemos um escracho em relação ao trote e acho que a regulamentação publicitária deveria postar aviso de que o trote seria crime ou mesmo não permitir a veiculação desta situação sem sentido e sem completa lógica que atenta contra as leis do país. O que querem com isso? Qual a mensagem da publicidade? A ânsia de vender vale tudo? O certo é que vemos que o interesse econômico muitas vezes rompe as barreiras da lei e da ética sem preocupação alguma com o sentido do que precisa ser feito para a construção de um país sem corrupção, sem respeito às leis e sem discriminação. Não podemos aceitar este tipo de lógica que vem dominando a mídia onde a preocupação simples com o consumo não deixa os que militam na propaganda enxergarem que é preciso cumprir a lei e dar aos cidadãos respeito para que os mesmos possam se respeitar mutuamente.
Pouco preocupados
Hoje em dia temos várias situações onde propagandas estimulam a violência, o consumo de bebidas, cigarros e ainda bem que alguns hoje já trazem o real sentido dos efeitos deste consumo sobre a vida dos cidadãos e os perigos que estes elementos podem oferecer. Seria bom que o Conselho de Regulamentação publicitária procurasse agir seriamente contra certos tipos de atitudes que não coadunam com o sentido real e legal da vida social de nossa nação. A propaganda em questão é feita por uma operadora telefônica que deveria utilizar suas verbas publicitárias para incentivar ações em educação, em melhoria da sociedade e em construção de um mundo melhor. Claro que ganhar dinheiro para os que pensam em enriquecer sempre é bom, mas deveria haver um mínimo de ética na venda dos produtos.
Vale ressaltar que o Ministério Público e a Justiça de maneira geral deveria agir diante deste tipo de situação, pois não é de bom alvitre que uma pessoa pública de fama notável incentive o trote que é um problema muito sério e que já provocou vários problemas para a população. Há, sim, ações que deveriam ser desenvolvidas nesta questão: a empresa deveria retirar a propaganda do ar ou colocar uma ação educativa contra o trote. É apenas uma sugestão que sei que não vão cumprir, pois estão muito preocupados apenas na venda do produto e muito pouco nos dilemas de nossa sociedade. É realmente o fim…
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Francisco Djacyr Silva de Souza é professor, Fortaleza, CE