Monday, 25 de November de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1315

Revista desconversa quando o assunto é evolução

Na seção de cartas da revista Superinteressante deste mês foi publicada a opinião do leitor Walmir: “Sou assinante e gostaria muito de manifestar minha insatisfação com a posição desta revista em defender a ideia (sem nenhuma prova) de que o homem tenha vindo do macaco. Na seção Ideia Visual (agosto), o texto diz que ‘um chimpanzé macho, nosso parente mais próximo, não olharia duas vezes para a mulher’. Acredito que uma revista tão conceituada não deve manifestar sua posição pessoal sobre um fato não comprovado.”

E a revista respondeu: “Walmir, nós nunca dissemos que o homem ‘veio’ do macaco, mas que o chimpanzé é o seu parente mais próximo – somos descendentes de um ancestral comum, como fica claro pela teoria da evolução, que é um modelo científico sólido. Agora, se a sua religião não permite que você acredite na teoria da evolução, não tem problema algum, temos pleno respeito por todas as religiões. Achamos que a Bíblia é um documento histórico belíssimo, mas, na hora de falar de ciência, ficamos mesmo com A Origem das Espécies.”

“Modelo científico sólido”

Preciso dissecar a resposta, já que eles conseguem espalhar tantas “pérolas” em tão poucas linhas:

1. Super repete a máxima evolucionista: “O homem não veio do macaco.” Tá, isso a gente já sabe. Mas se o ser humano e os chimpanzés são primos e vieram de um suposto ancestral comum, duvido que ele tenha sido (se tivesse existido) um tipo de galinha. Teria que ser um tipo de… macaco. E até hoje há debates sobre qual teria sido esse suposto ancestral comum. É leviandade afirmar que isso é um “fato estabelecido”, mesmo que se apele para os alegados 90 e tantos por cento de semelhança genética entre chimpanzés e humanos, o que também é discutível (confira). Alias, já apontaram semelhanças genéticas entre humanos e anêmonas! E até porcos.

2. Super não respeita o leitor e afirma que o chimpanzé é parente dele, ignorando sua opinião.

3. Como assim, “a teoria da evolução é um modelo científico sólido”? Qual teoria da evolução? A macroevolução ou a microdiversificação? Diversificação étnica humana e variações entre cães e tentilhões, por exemplo, são fato e permanecem na categoria da diversificação de baixo nível (ou “microevolução”). Humanos e macacos provindo de hipotéticos ancestrais comuns (ou mesmo toda a biodiversidade atual tendo origem num ser unicelular desconhecido que teria vivido bilhões de anos atrás), isso é mera especulação hipotética oriunda da mentalidade naturalista, ou seja, é filosofia sem amparo científico (empírico). Quem está por dentro das discussões intramuros sabe que a teoria da evolução não se trata de um “modelo científico sólido”. Darwinistas honestos têm reconhecido isso. Mas o pessoal da Super parece fanático demais por Darwin para admitir isso.

Imprecisões, pregação e preconceito

4. “Se a sua religião não permite que você acredite na teoria da evolução…” Espere aí! O leitor não menciona em momento algum (pelo menos não no texto publicado) qualquer tipo de religião. Aqui, também, o pessoal da Super (ou, pelo menos, o editor de cartas e e-mails) cai no lugar comum da controvérsia ciência x religião. Essa é uma tática antiga para blindar o evolucionismo de discussões realmente científicas. Note que a revista muda rapidinho de assunto. Sai da ciência para a religião e tenta, assim, encerrar a questão. Esse é um típico argumento evolucionista de “roda de bar”, mas não deveria ser usado por uma revista que se propõe séria e científica.

5. Eles dizem ter respeito por todas as religiões, exceto (isso fica nas entrelinhas) por aquelas que insistem em defender o criacionismo.

6. “Achamos que a Bíblia é um documento histórico belíssimo, mas, na hora de falar de ciência, ficamos mesmo com A Origem das Espécies.” Quem falou em Bíblia? O Walmir não menciona (no texto publicado) qualquer livro religioso. Mesmo assim, a resposta é reveladora. A “Bíblia” deles é o livro de Darwin, e eles não negam isso! Quem disse que A Origem das Espécies fala de ciência? Até porque, como diz o químico Marcos Eberlin, o maior instrumento de pesquisa no tempo de Darwin era a cadeira de balanço. Quem disse que as informações do naturalista/teólogo (sim, Darwin estudou teologia) do século 19 estão todas de acordo com a ciência experimental? Quem disse que as ideias macroevolutivas de Darwin resistem ao laboratório e às observações possibilitadas pelos modernos recursos do nosso tempo? Se resistissem, não haveria rumores de uma nova teoria da evolução não selecionista sendo gestada… (confira aqui, aqui, aquie aqui). Apesar do título, Darwin não entregou o que se propôs explicar – a origem das espécies. Um título melhor para o livro seria Origem das Variações, assunto que Darwin muito abordou, mas nem isso conseguiu explicar. Que ciência Darwin praticou nesse livro?

Depois de ler essa resposta tão superficial, carregada de imprecisões, pregação e preconceito, reafirmei para mim mesmo o motivo pelo qual deixei de ser assinante da Super há muito tempo.

Detalhe: a matéria de capa deste mês é sobre Ovnis. Nisso, eles também parecem acreditar…

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Michelson Borges é jornalista e mestre em teologia