Sou das pessoas que acordam e já ligam o rádio. Em segundos, fico sabendo que horas são e qual é a temperatura. Em seguida, tomo conhecimento da situação do trânsito e do panorama mais recente da previsão do tempo. Aí, quero saber das notícias. Mas o que ouço são comunicadores lendo mensagens de ouvintes que colaboram com informações do trânsito e do clima. Os ouvintes avisam que, em determinada rua, o movimento de carros está lento e se já está chovendo ou não em seus bairros. Nada de notícias, portanto.
Por decisão gerencial, muitas emissoras tradicionais, com grande corpo de jornalistas, decidiram apequenar o meio rádio. Determinaram que as pessoas buscam informações na internet ou na TV, e que rádio é sinônimo de serviço. A ironia é que seguem defendendo a existência de seus, hoje inoperantes, departamentos de radiojornalismo.
As repetidas entradas da previsão do tempo na programação de rádio provam a superestimação desse serviço por parte de quem toma decisões numa emissora. Âncoras de programas acabam colaborando, instigando o meteorologista e comentando a previsão do tempo, o que nada mais é que chover no molhado, com o perdão do trocadilho. Há espaço demais para uma ciência imprecisa, que erra muito.
Rádio é formador de opinião
Os boletins de trânsito, também de intensa presença no rádio, dificilmente têm variações de um dia para o outro. Tratam de trânsito lento, de obras, de pequenos acidentes e de congestionamentos em horários de pico. Não passam de relatos quase sem modulação de voz. O setorista de trânsito é um guerreiro por encontrar motivação para dar as mesmas informações, sem relevância, por várias e várias vezes.
Por sua instantaneidade e facilidade de captação em locais diversos, o rádio tem, sim, que prestar serviço. É concessão pública e precisa ocupar sua função. Mas quando o rádio se esquece que serviço é complemento, não prioridade, não fornece as informações que são importantes para posicionamento e reflexão.
Rádio também é formador de opinião. Ele é veículo número 1 para grande parcela da população, especialmente para as camadas sociais mais baixas. O rádio não pode contribuir para a desinformação e a alienação.
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Franklin Berwig é jornalista, Porto Alegre (RS)