Saturday, 23 de November de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1315

Na batalha pelo sangue da audiência

Apesar de informar por meio de uma nota [“A reprise de Carrossel não deu o resultado esperado pela direção artística desta emissora. Por esta razão, deixará de ser exibida, voltando à nossa programação dentro de um ano. Esse horário terá como atração Neila Medeiros, a única jornalista capaz de apresentar sozinha o programa Aqui Agora, enfrentando Datena e Marcelo Rezende. Estreia segunda-feira, dia 23 de setembro”] o retorno do até então extinto telejornal Aqui Agora, a emissora SBT – que passa por um período de mudança na sua grade de programação – pela segunda vez esta semana mudou o título do incerto programa e cogitou também a volta do programa Boletim de Ocorrências. Até o momento, sem conclusões definidas, a emissora preferiu nomeá-lo de SBT Notícias.

Contudo, ao que tudo indica a emissora aposta na produção de um telejornal policialesco e cotidiano, visando o êxito conquistado pelo gênero na televisão aberta no Brasil. E assim, o cancelamento da reprise da novela Carrossel, que foi substituída por este novo programa, impulsiona a discussão de viabilidade mercadológica que este tipo específico de programação traz às emissoras adeptas do fenômeno sensacionalista de produção.

Do impresso para as outras mídias, o sensacionalismo é um fenômeno que permeia as produções jornalísticas até os dias atuais, uma superexposição que vai além da notícia em si. Seu principal efeito é causar o estranhamento, inquietação, repulsa até mesmo a curiosidade devido às informações de caráter punitivo. Na maioria das vezes, a ética profissional é sobrepujada em detrimento do ‘fator audiência’, na medida em que apresentadores incorporam a teatralidade necessária para realçarem seus discursos moralizadores.

Imagens violentas e repetitivas

Por ter como principal elemento a imagem, a televisão agrega aos seus valores-notícia esta visibilidade do acontecimento representado, uma tática agressiva para aqueles que constroem sua produção com base na super exploração dos fatos. Como exemplo, podemos citar a atenção dos holofotes midiáticos aos pedaços do corpo do empresário Matsunaga, assassinado por sua companheira e personagem de uma história com ar de “novela” dramática de traição, morte e esquartejamento.

Esta audiência atrelada ao comportamento psicológico dos telespectadores também se manifesta pela reação emotiva, catártica, instintiva e imaginária do público, como nos é apresentado principalmente nos estudos aprofundados de Sigmund Freud. E é por meio desta reação de contemplar (à distância) o desfecho dos acontecimentos que o grotesco adquiriu visibilidade.

A imprensa sensacionalista se apropria da vulgarização dos fatos e os apresentam com uma linguagem coloquial e clichê atrelados com imagens violentas e repetitivas. Dentre muitos, o jornal impresso brasileiro Notícias Populares recebeu destaque por banalizar e super expor suas matérias, uma tendência que se expandiu para a televisão assim como também para o jornalismo digital.

“O grotesco funciona por catástrofe”

No que se refere à prática sensacionalista na televisão brasileira, de 1966 a 1971 o programa O Homem do Sapato Branco (TV Cultura), apresentado por Jacinto Figueira Júnior, pode ser considerado o marco do telejornalismo policial no país, pois sua programação apresentava o caos da condição humana. Depois, na década de 1980, o programa Povo na TV (SBT) também conquistou a popularidade tendo como principal atrativo retratos da para-normalidade agregados aos relatos do cotidiano banal, o conhecido “mundo cão”.

O telejornal policialesco Aqui Agora (SBT) surgiu na década de 1990 e ganhou conhecimento devido à peculiar apresentação melodramática do repórter Gil Gomes. Após um período fora do ar, o programa obteve sua segunda versão em 2008 pelo SBT. Neste mesmo estilo, atualmente a concorrência encontra-se entre os programas Brasil Urgente (Band) e Cidade Alerta (Record), respectivamente apresentados por José Luiz Datena e Marcelo Rezende.

E se formos analisar os indícios da nota emitida pelo SBT, mesmo com tantas mudanças no nome do incerto programa, podemo-nos considerar alertados no que diz respeito à escolha de conteúdo de caráter sensacionalista, isso a partir do dia 23/9. Com base na programação vigente, os finais de tarde da televisão brasileira tendem a ficar cada vez mais sangrentos. Afinal, como Sodré e Paiva (2002, p.25) evidenciam, “o grotesco funciona por catástrofe”.

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Najla Daniele Santos é graduada em Comunicação Social/Jornalismo; Lawrenberg Advíncula da Silva é professor do curso de Jornalismo da Universidade do Estado de Mato Grosso (Unemat)