Friday, 22 de November de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1315

EUA também espionaram conexões sociais de seus cidadãos

O caso de espionagem interna da Agência de Segurança Nacional (NSA) dos Estados Unidos ganhou uma nova revelação. Desta vez, documentos recém-divulgados, fornecidos pelo seu ex-técnico Edward Snowden, mostram que a agência está interessada em saber quais as conexões sociais de seus cidadãos. Para isso, vem explorando desde 2010 sua imensa coleção de dados para criar gráficos sofisticados que identificam com quem eles se associam, sua localização em determinados momentos, seus companheiros de viagens e outras informações pessoais.

Segundo reportagem publicada no “New York Times”, a NSA começou a analisar registros de telefonemas e e-mails com o intuito de examinar as associações de seus cidadãos em novembro de 2010, depois de funcionários da agência terem levantado restrições a essa prática. A matéria, assinada pela jornalista Laura Poitras, umas das poucas que têm acesso a Snowden – atualmente asilado na Rússia – conta que a mudança de política da agência de espionagem teve a intenção de ajudar a “descobrir e rastrear” conexões entre órgãos de Inteligência estrangeiros e os moradores dos Estados Unidos.

Conforme um memorando de janeiro de 2011, a NSA foi autorizada a realizar a “análise gráfica em larga escala de um grande número de dados” a partir de qualquer endereço de e-mail e número de telefone. Por causa da preocupação em não infringir a privacidade dos cidadãos americanos, a prática de analisar tais informações era permitida, a princípio, apenas para estrangeiros.

Segundo a reportagem do jornal, uma das ferramentas utilizadas para fazer a conexão dos registros de ligações telefônicas e e-mails tem o nome em código de Mainway. É ela que processa uma vasta quantidade de informação que chega à NSA por meio de seus cabos de fibra ótica, de cooperação de parceiros corporativos e de espionagem em redes estrangeiras. Em 2011, um memorando interno da NSA citado pelo “New York Times” indica que a agência recebia registros de 700 milhões de chamadas telefônicas por dia e que, em agosto daquele ano, passou a receber também 1,1 bilhão de registros de chamadas por celular de apenas uma operadora, cujo nome foi mantido em segredo. A NSA está autorizada, após emenda aprovada pelo Congresso em 2008, a monitorar comunicação eletrônica que tenha ao menos um interlocutor fora do país.

Cadeias de conexão

De acordo com a reportagem, a agência pode aumentar os dados de comunicações obtidos com material de fontes públicas, comerciais e outras ainda, incluindo códigos bancários, informações de seguros, perfis no Facebook, listas eleitorais e informação de localização de GPS.

Uma porta-voz da NSA alegou que “todas as buscas de dados devem incluir uma justificativa envolvendo Inteligência estrangeira”.

– Todo o trabalho da NSA tem um objetivo de Inteligência estrangeira. Nossas atividades são centradas no contraterrorismo, na contraproliferação (de armas de detruição em massa) e na cibersegurança – justificou ela, alegando que uma decisão da Suprema Corte de 1979 indicou que os cidadãos americanos não podem ter a expectativa de privacidade em relação aos números de telefones com os quais se comunicam.

Com base nessa decisão, o Pentágono e o Departamento de Justiça teriam decidido que é permitido criar as cadeias de conexão usando as informações dos chamados metadados dos americanos – que incluem detalhes como número, duração, hora da chamada ou do e-mail, mas não seu conteúdo.