Dúzias de redações sem fins lucrativos surgiram no final da última década, estimuladas pela ambição de prestar um serviço público à medida que os jornais sofriam severos golpes ou desapareciam. Muitas dessas redações cresceram, inovaram-se e encontraram rumos para a sustentabilidade nos últimos anos, enquanto outras não conseguiram chegar a 2013.
Para discutir as lições aprendidas, o Centro de Pesquisa Pew e a Fundação Knight promoveram uma mesa-redonda na sexta-feira (27/9), em Washington, para avaliar a atual situação das empresas de mídia sem fins lucrativos e muitas das fundações que as financiaram e falar sobre sustentabilidade, impacto e a série de problemas que têm pela frente. “Viemos a este lugar com nossos corações” e não com nossas cabeças, por razões óbvias, disse Michael Maness, vice-presidente da Fundação Knight para Jornalismo e Inovações de Mídia. Mas essa abordagem criou “uma série de questões”, disse Maness, que destacou a necessidade de se pensar mais como desenvolvedores e menos como editores.
Neste ano, relatórios separados do Centro Pew e da Fundação Knight detalharam os desafios operacionais, sociais, financeiros e técnicos que impediram que algumas dessas redações alcançassem a sustentabilidade. As organizações pesquisadas variam de redações de uma única pessoa a equipes de mais de 40 pessoas que já ganharam o prêmio Pulitzer, portanto os objetivos podem ser consideravelmente diferentes. Isso também torna incerta a avaliação de seu progresso como um único grupo.
A partir do que foi discutido na mesa-redonda, seguem-se algumas dicas e questões que devem ser avaliadas.
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“O que mais me impressiona é como é diferente o impulso empresarial da sua liderança [das redações sem fins lucrativos]”, disse Feather Houston, da Fundação Wyncote. “Se você fala sobre o que é gasto aqui e ali… você não está levando em conta que os líderes podem não ter ossos empresariais em seus corpos. E em grande parte é por isso que estamos tendo esta conversa. No DNA da organização, nunca irão tê-la.”
As empresas menores que estavam representadas na mesa-redonda dizem que manter as luzes acesas pode ser duro. Uma solução proposta foi centralizar os trabalhos tecnológicos nas redações e oferecer um intercâmbio de ideias consistente, de modo a que as organizações possam aprender umas com as outras. Um exemplo concreto dessa ideia é a Investigative News Network, um consórcio de veículos jornalísticos, grande parte dos quais é sem fins lucrativos. Ele expôs soluções baseadas em tecnologia da WordPress para o gerenciamento de conteúdo e vem trabalhando em mais tecnologia para atender redações menores com poucos recursos.
“Na realidade, você tem que se afastar daquilo que via e sentia quando saiu de uma organização jornalística”, disse Michael Maness, enfatizando que a velocidade da ruptura com o espaço da mídia e da tecnologia exige ser agressivo ao experimentar coisas novas e jogar de lado aquilo que não funciona.
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Em muitos casos, comparar as organizações é como comparar maçãs e aviões. Há operações que são administradas com quase nada e outras de vários milhões de dólares, como a ProPublica. Algumas redações cobrem apenas a área de saúde, enquanto outras abrangem temas que vão do meio ambiente a um governo aberto. As diferenças de tamanho das redações significam que um modelo não serve para o grupo como um todo, portanto é importante estabelecer prioridades que se encaixem na organização. Isso permite que a organização, assim como grupos externos, como os patrocinadores, estabeleçam pontos de referência para avaliar o sucesso. “O que compreendemos é que podemos forçar os beneficiados a fazer avaliações, mas temos que convencê-los de que conseguir essa informação é valioso para seu próprio negócio”, diz Dan Green, da Fundação Bill e Melinda Gates.
Esse tipo de exame de consciência e diversidade também significa avaliar criticamente os objetivos da redação e ver se eles correspondem a alcançar a audiência adequada.
Embora os objetivos possam variar de acordo com a organização, Dick Tofel, da ProPublica, disse que uma dica é eles estarem abertos a significar o que são. “Acredito que a transparência é crítica em relação a isto. Se você está disposto a decidir que o que você pensa é importante e depois dizê-lo a todo o mundo num horário normal e de maneira pública, de acordo com a natureza humana você irá atrás disso.”
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“As fundações institucionais não podem financiá-lo por 20 anos seguidos”, disse Dick Tofel. “Elas poderiam, mas não deveriam fazê-lo e não cabe a elas enviar um apoio operacional geral a um lugar durante anos seguidos. Deveriam ter mais capital de risco.”
As organizações jornalísticas sem fins lucrativos sustentáveis não só reduziram sua dependência de verbas de fundações institucionais como contribuíram com uma boa parte de seus gastos para prioridades de gastos não editoriais. Veiculos como o Texas Tribune, sediado em Austin, aumentaram suas oportunidades de receita por meio de eventos patrocinados e patrocínios coletivos para produtos específicos. Mas o Tribune também gasta 200 mil dólares para patrocinar um evento que arrecada 1 milhão de dólares, destacando a ideia segundo a qual é preciso capital para ganhar capital. Esse tipo de disposição de gastar no desenvolvimento de negócios ainda não é bem recebido pelo ecossistema.
>> Tamanho é importante
O desenvolvimento dos músculos e da força para pensar negócios foram uma bênção para arrecadar receita em lugares como o Texas Tribune, que diminuiu em cerca de um terço seus gastos editoriais, de desenvolvimento de negócios e tecnologia. Mas as organizações que não têm influência suficiente para chegar lá procuram parceiros; por exemplo, uma fusão entre a empresa não lucrativa St. Louis Beacon e a atual St. Louis Public Radio parece promissora para ambos os lados. “[O St. Louis Public Radio] tem uma ampla base de pequenos doadores; nós temos uma ampla base de grandes doadores. Acho que temos aqui uma questão de tamanho”, disse Margaret Freivogel, do St. Louis Beacon. “Inúmeras organizações são muito pequenas e produzem conteúdo de maneira esporádica. Isso é um problema tanto do ponto de vista dos negócios, quanto do impacto. E é um problema fundamental sobre o qual todos nós temos que refletir, se pretendemos preencher a lacuna que vimos se abrindo – e aí entra a questão do tamanho para fazê-lo.”
Jeff Jarvis, crítico de mídia e diretor do Centro Tow-Knight para Jornalismo Empresarial, na Universidade da Cidade de Nova York, avalia o potencial do jornalismo feito em rede. “Um site novo pode conseguir uma audiência mais rapidamente se estiver inserido em sites grandes. Consiga exposição e aproxime-se das oportunidades de receita”, disse Jarvis. “Queremos uma infraestrutura cooperativa no ecossistema.”
>> Argumentar em favor das redações sem fins lucrativos também é importante
A missão de serviço público das organizações jornalísticas sem fins lucrativos – em primeiro lugar, o motivo pelo qual optaram por ser não-lucrativas, e não, lucrativas – continua sendo uma razão fundamental para que tanta gente se sinta apaixonada pelo trabalho. E, sendo feito como um ecossistema, o trabalho necessita de uma compreensão mais ampla por parte do público, não só porque o jornalismo faz diferença, mas também porque o alcance de uma audiência mais ampla permite aproveitar o dinheiro que foi deixado em cima da mesa. “Quando você observa os vencedores da nova economia – a Apple, o Google, a Verizon, a AT&T –, o dinheiro que esses quatro ganharam em quatro meses chega a 24 bilhões de dólares. Não em arrecadação, mas em lucro”, diz Steve Waldman, fundador da Daily Bridge Media. “Se os vencedores da nova economia puserem nesta questão uma migalha de sua riqueza, todo este espaço seria transformado. Toda esta conversa sobre como ser eficiente significa que, definitivamente, deveríamos fazê-lo. Mas é importante que existam enormes entidades que ainda estão em cima do muro neste debate e com capacidade para ter um impacto maciço.”
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Elise Hu é repórter e cobre tecnologia e cultura