Friday, 22 de November de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1315

Erivaldo Carvalho

“‘Você só descobre que está nadando pelado quando a maré baixa.’ Warren Buffett, investidor e filantropo americano

A extinção do Jornal do Leitor ainda repercute. Trago a público duas opiniões que, acredito, resumem parte da reação. São de leitores experientes, que acompanham O POVO há décadas. Gaudêncio Barbosa Siqueira deixou um recado na secretária eletrônica (3255 6181). Em tom saudosista, afirmou que conheceu seu Costa (José Raymundo Costa, 1920-2004, responsável pela implantação do projeto). Disse que ‘lamenta o encerramento’ do caderno. Segundo Siqueira, o suplemento, ao incentivar pessoas ainda jovens à leitura e à escrita, contribuía para a formação de escritores no futuro. O leitor concluiu com um ponto que também chama a atenção: ele propõe que o jornal procure o Ministério da Educação para buscar apoio a iniciativas do tipo.

Também leitora de longas datas do O POVO, Edna Bessa comenta o fim do Jornal do Leitor, só que por outro prisma. Assumindo-se exigente em relação à qualidade e à quantidade do noticiário, ela diz que a criação da Página do Leitor, depois do fim do Jornal do Leitor, na editoria de Opinião, acabou por reduzir o espaço para ‘análises importantes sobre o que acontece na Cidade’. A página é publicada às quartas-feiras, no Primeiro Caderno, onde fica concentrada boa parte da cobertura local.

Este ombudsman comentou o fim do caderno na coluna do último dia 15. Íntegra aqui: http://bit.ly/1fmb16q. Na semana passada, foi publicado um contraponto da Redação. Íntegra aqui: http://bit.ly/16xwBnD.

Mercado e qualidade jornalística

As atividades de ombudsman são pautadas, a critério de quem exerce o mandato, pela discrição e um certo distanciamento da dinâmica da Redação. Mas, não raramente, sou abordado, publicamente, dentro e fora do jornal. Além de dar um tempo no isolamento, as conversas, sempre sobre jornalismo, servem como feedback do meu trabalho e, invariavelmente, rendem comentários sobre o próprio jornal. Nos últimos dias, aconteceu um desses interessantes tête-à-tête. A conversa, com uma jornalista tarimbada em vários setores de comunicação do Ceará, me fez trazer o assunto à coluna. Em uma frase, a colega, hoje ligada à propaganda e marketing empresariais, resumiu o sentimento do mercado sobre atuação de estudantes: ‘Meus clientes não querem ser atendidos por estagiários’.

Na sequência, a jornalista lembrou da primeira onda de não profissionais que invadiu as redações de jornal, há uns 15 anos ou mais. Para ela, são movimentos cíclicos. Ou seja, o próprio mercado, ao perceber que está pagando profissionalmente e recebendo um trabalho amador, reagirá. Para reforçar a provocação: entenda-se ‘mercado’ como o conjunto de todos que pagam a conta, No caso do jornalismo, anunciantes, assinantes e compradores de jornal avulso.

Não vejo o cenário tão catastrófico assim. Há muitos tons de cinza entre o preto e o branco. É imprescindível que empresas, de qualquer natureza, tenham espaço para complementos curriculares e aprendizagens além da sala de aula. A empresa também ganha, enquanto oxigenação de seus recursos humanos. O problema é quando a exceção vira a regra, sob a lógica de cada vez mais cortes de gastos na folha de pagamento, em detrimento da qualidade do produto final.

A crise alheia

Os jornais não estão sozinhos nessa nem o fazem por capricho. Trata-se de uma situação macro. Com perspectivas pouco otimistas para o momento por que passam, empresas em geral estão substituindo profissionais veteranos, em regra mais dispendiosos, por fileiras de jovens funcionários, mais em conta. Detalhes desse processo podem ser lidos aqui. http://bit.ly/1aLNlsw. Interessados numa visão mais voltada para a imprensa podem clicar aqui: http://bit.ly/16hPSTX. Com raríssimas exceções, que só confirmam a regra, o nível editorial é proporcional à experiência dos profissionais. Essa relação pode ser uma das explicações para a sensação de que o jornalismo está perdendo qualidade. Aqui entra outro detalhe, igualmente relevante: a dificuldade quase genética de falarmos de nossas crises. Como disse em uma das primeiras colunas, nossa especialidade são crises e erros dos outros.

FOMOS BEM

DILMA NA ONU. Tivemos a melhor cobertura local da reação presidencial às espionagens.

FOMOS MAL

VIADUTOS DO COCÓ. Pouco didática, última manchete explicou pouco e de forma incompleta.