ONew York Times está se inovando a um ritmo frenético, esperando conquistar um lugar permanente na era digital. A inovação é necessária, com a publicidade impressa em declínio. No ano passado, a receita oriunda dos consumidores (em sua maior parte de assinaturas digitais e impressas) ultrapassou a receita publicitária, tanto digital quanto impressa. No passado, a publicidade impressa chegou a ser responsável por 80% do total da receita do jornal. O modelo de negócios antigo está desaparecendo e o novo ainda não chegou. O jornal está forte e rentável, mas seu futuro é incerto. A inovação vem com riscos – éticos, jornalísticos e empresariais.
Uma das formas de inovação do Times é a realização de conferências e cruzeiros. Em 2014, quem puder pagar poderá embarcar em um cruzeiro com palestras de editores e colunistas do jornal. No começo deste ano, o colunista Thomas Friedman foi o principal palestrante de uma conferência em São Francisco, cujo ingresso custou US$ 995. No ano passado, empresários pagaram US$ 1.500 para assistir a uma entrevista do presidente da Goldman Sachs, Lloyd Blankfeind, na conferência DealBook. Essas iniciativas são lucrativas, podem ser informativas e ajudar a construir marcas do jornal e de seus profissionais.
Segundo a ombudsman Margaret Sullivan, há diferenças entre esses eventos e os oferecidos pelo rival Washington Post alguns anos atrás, que prometiam acesso de políticos e lobistas a jornalistas em jantares. As conferências do Times são públicas, diz Margaret, enquanto os jantares do Post – que acabaram sendo bastante criticados – eram em off. Já os cruzeiros não são direcionados a lobistas e políticos para trocar ideias com jornalistas. Ainda assim, ressalta ela, é preciso que os eventos sejam monitorados.
Valores preservados
Outra iniciativa do Times são as experiências com publicidade, como os “anúncios nativos”, menos intrusivos e que se disfarçam de artigos, utilizando as mesmas fontes, estilos e tons das matérias tradicionais. O jornal começou recentemente a explorar esse tipo de publicidade, como no guia de atividades de Nova York, The Scoop, com o programa Citi Bike, patrocinado pelo Citibank, mostrando aos leitores onde estão as bicicletas. A transparência com o leitor é chave para o sucesso dessas iniciativas. “O leitor nunca deve ficar decepcionado”, diz Philip Corbett, editor para padrões do diário.
A produção multimídia e em vídeo é outro ponto de investimento do Times. No ano passado, o jornal lançou uma nova forma de se contar uma história digitalmente com uma matéria multimídia sobre uma avalanche em Washington, “Snow Fall”, que lhe rendeu um prêmio Pulitzer. Desde então, outras matérias semelhantes foram feitas, como “The Jockey” e, mais recentemente, “Tomato Can Blues”. A produção de vídeos aumentou e a equipe dobrou. A série de vídeos foi colocada fora do paywall do jornal, disponível gratuitamente. Rebecca Howard, gerente geral de produção de vídeos, reporta-se, ao mesmo tempo, à editora-executiva Jill Abramson e à vice-presidente-executiva para produtos digitais, Denise Warren. A dupla comunicação serve para garantir independência. No entanto, essa mistura de prioridades jornalísticas e empresariais deve ser olhada atentamente, diz a ombudsman.
Lidar com as questões trazidas por estas inovações não é fácil. Margaret ouviu de muitos profissionais do Times, incluindo os do alto escalão do jornal, que nenhuma iniciativa passará por cima dos valores da sua integridade jornalística. A confiança do leitor nessa integridade é a verdadeira moeda do diário e essa promessa deve ser cumprida, defende ela.
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