Friday, 22 de November de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1315

O registro de uma ausência

Como fotografar o que deixou de existir? Como forma de responder a esta questão, um palestino e dois israelenses resolveram montar uma exposição de fotografias feitas por mulheres palestinas e israelenses que perderam entes queridos no conflito entre os dois povos. A exposição Ausência Presente é uma iniciativa do Fórum Israelense-Palestino das Famílias Enlutadas pela Paz, que integra 600 famílias dos dois lados do conflito.

A abertura da exposição, no último sábado (28/9), na cinemateca de Tel Aviv, recebeu um público misto de israelenses e de palestinos que vieram da Cisjordânia, depois que os organizadores conseguiram 200 permissões especiais das autoridades militares para que pudessem passar pelos pontos de checagem e entrar em Israel. “Dez mulheres enlutadas, israelenses e palestinas – mães, filhas, irmãs e sobrinhas, que perderam seus entes queridos na guerra sem fim entre os dois povos – tentam expressar, pela fotografia, a ausência, a falta. O vazio que se encontra no quarto em que cada detalhe se congelou, no relógio que parou, na janela perto da qual se ouviu a notícia, na criança que leva seu nome”, escrevem os três fotógrafos que orientaram o projeto, em um texto de apresentação.

A curadora Vardi Kahana, juntamente com o fotógrafo palestino Ata Awissat e o israelense Miki Kratzman, trabalharam cinco meses com as participantes do projeto, que antes “nunca tinham segurado uma câmera na mão”.

A grandeza das mulheres

Em entrevista à BBC Brasil, Kahana descreveu a experiência e analisou o processo pelo qual as mulheres passaram. “Nós, os orientadores, ficamos boquiabertos com os resultados. Em apenas cinco meses as participantes fizeram fotos de uma sofisticação impressionante”, disse a curadora. “A dor da perda já estava tão elaborada dentro delas que bastou um pequeno empurrão para que elas pudessem traduzi-la para a fotografia. Foi como se os sentimentos elaborados estivessem esperando por uma plataforma para se manifestar”, acrescentou Vardi Kahana.

O grupo integra dez mulheres, cinco palestinas e cinco israelenses, de 19 a 65 anos, e de diversos contextos culturais. Elas não têm uma língua em comum, pois as palestinas só falam árabe, idioma que as israelenses não entendem. No entanto, todas são integrantes do Fórum das Famílias Enlutadas e acreditam que “a base para a reconciliação entre os povos é entender o outro, a reconciliação é possível e essencial para parar o derramamento de sangue”.

Durante os cinco meses de trabalho até a exposição, os orientadores se encontraram seis vezes com o grupo, alguns encontros foram realizados na cidade palestina de Beit Jala e outros em Tel Aviv. No início do projeto, as mulheres receberam câmeras digitais e aprenderam princípios básicos de fotografia. “Nos sentimos pequenos diante da grandeza dessas mulheres, que se encontram, se abraçam e se beijam, enquanto todas sabem que o filho morto de uma poderia ser responsável pela morte do filho da outra”, disse Kahana.

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Guila Flint, de Tel Aviv