“Jornalismo internacional no Brasil está crescendo e ganhando força”, disse Fábio Zanini, editor do caderno “Mundo” do jornal Folha de S.Paulo. Segundo ele, o momento é propício para que as pessoas se interessem mais pelos assuntos internacionais e um dos principais fatores é o crescimento da presença do Brasil no cenário mundial.
Apesar de não ser o assunto principal do jornal, que perde para os temas de política, cidades, economia e especialmente para esportes, caderno mais popular no jornal, o tema internacional vem crescendo e o interesse do leitor, também. Zanini cita os desafios de trabalhar nessa área: “O leitor é acima da média, muito especializado e instruído”. Pesquisa de perfil do leitor realizada pela Folha de S.Paulo aponta que entre os leitores estão diplomatas, professores universitários, advogados, pessoas que acompanham e gostam dessa área.
Os motivos que levaram ao crescimento envolvem principalmente questões políticas e econômicas. O Brasil, em posição de país emergente, recebeu grande atenção mundial, especialmente depois de entrar para o BRICs – grupo que reuniu os cinco principais países emergentes: Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul –, em abril de 2011. São países que têm capacidade de ultrapassar as grandes potências econômicas nos próximos 50 anos, segundo o economista Jim O’Neil.
Brazil takes off
O Brasil conquistou espaço no cenário internacional e a grande evidência foi uma capa da revista The Economist, em de 2009, apontando que a economia brasileira estava preste a decolar. Apesar dos resultados não terem sido tão promissores quanto o esperado, a economia brasileira continua estabilizada e o reflexo está no aumento de renda da população brasileira. Somando-se ao crescimento econômico, o Brasil sediará a Copa do Mundo (2014) e as Olimpíadas (2016) o que eleva a sua importância no cenário internacional.
A mesma Economist, aliás, em outubro deste ano dedicou nova matéria de capa ao Brasil – “Has Brazil blow it?” (O Brasil estragou tudo?) –, na qual critica o ínfimo crescimento de 0,9% em 2012 e menciona as manifestações que levaram as pessoas às ruas para protestar contra o alto custo de vida, a má qualidade dos serviços públicos e a corrupção.
Além dos fatores econômicos, Zanini explica que a diplomacia no Brasil tem um caráter personalista, depende do presidente da República, e os dois últimos presidentes brasileiros – Fernando Henrique Cardoso e Luiz Inácio Lula da Silva – colocavam a diplomacia no centro das preocupações, diferentemente da presidente Dilma Rousseff. “Na minha avaliação, Dilma não tem interesse, não dá a importância como davam os ex-presidentes”, afirma Zanini. Para ele, Dilma preocupa-se mais com “a planilha de Excel das usinas hidrelétricas”.
Crise
Apesar do momento não ser dos melhores na área do jornalismo, crise que acompanha a profissão nos últimos anos e que obrigou muitas redações a reduzir o número de jornalistas e muitas a fechar as portas, o editor da Folha afirma que a crise é “mais amena na área do jornalismo internacional”. Os altos custos de manutenção desse setor – como, por exemplo, sustentar uma rede de correspondentes internacionais – não impediram que crescesse e tende a continuar a crescer. E isso muito se deve à mudança do perfil socioeconômico dos brasileiros. “As pessoas começaram a fazer mais cursos de inglês, a viajar mais para o exterior, e quando retornam estão mais interessados [no tema]. No Brasil, ler jornalismo internacional é ainda um símbolo de status. As pessoas leem e gostam de comentar”, diz Zanini.
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Natacha Mazzaro é estudante de jornalismo da PUC-SP