No ano em que o Fantástico faz 40 anos de existência na TV Globo, algumas modificações foram feitas, não somente para dar uma cara nova ao programa, mas pela mudança de época e transição da década de 1970 para o milênio. E em comemoração aos 40 anos alguns quadros foram realizados para comemorar.
Um deles foi o quadro cômico de Marcelo Adnet, fazendo uma retrospectiva dos primeiros clipes inéditos de cantores no programa, como o de Gil, Alceu Valença, Elba Ramalho, Gal Costa, Chico Buarque, Baby Brasil e outros. Uma imitação humorística sarcástica das apresentações, parodiando os cantores, que na maioria das vezes representou muito mais um divertimento sem graça da parte do apresentador, revelando a falta de seriedade do programa para com os artistas e de como o Fantástico vem decaindo de conteúdo de uns tempos para cá.
Outro quadro foi uma reportagem especial retrô comandada pelo apresentador Zeca Camargo, mostrando a vivência de uma família carioca de classe média na década de 70 e a rotina da televisão sempre ligada no Fantástico. O quadro se torna alienante quando se percebe a família toda sentada em frente à TV; uma viagem histórica que leva muito mais à história do Fantástico do que a história da década de 70. O repórter Bruno Mazzeo, no mais novo quadro “O baú do baú do Fantástico”, mostra a história de Cabral no Brasil como um louco desvairado sem rumo e que quando avista o Brasil não se estimula, demonstrando uma imagem negativa do descobrimento e os índios nus caracterizados como otários em realizar o escambo. Por que não mostrar a essência da história, o que esse acontecimento traz para o Brasil?
Tudo é uma representação
Nuanças do tipo alienante, sem conteúdo, menos informação e mais espetacularização têm dominado o programa domingueiro. Visto antes como um programa caseiro com quadros sobre mulheres, escola e vida familiar, o Fantástico hoje tem um público muito mais diverso do que familiar.
Informações que querem descobrir a causa de uma namorada estar espancando seu namorado no meio da rua, à volta em 80 dias com um paraquedas, um quadro sobre “você faz o quê’’? Demonstra um programa sem conteúdo e sem informação de qualidade. Pouco se mostra interesse de utilidade pública, o que se torna destaque não é o que acontece de mais importante. Há um espetáculo da informação onde quem informa se torna um apresentador inicial deste espetáculo e a plateia somos nós, que damos audiência todos os domingos. Plateia como essa, que estar mais alienante que consciente se acomodando em converter os lugares das grandes reportagens em quadros sem interesse público.
Como confirma Debord em seu livro Sociedade do Espetáculo, “toda a vida das sociedades nas quais reinam as modernas condições de produção se apresenta como uma imensa acumulação de espetáculos. Tudo o que era vivido diretamente tornou-se uma representação” (Debord, 2003, p. 13-17). Sendo assim, o espetáculo para o programa é Fantástico!
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Tamara Santos é estudante de Jornalismo