Thursday, 19 de December de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1318

Novas plataformas

A economia brasileira anda vagarosa, mas alguns setores, como o de TI, continuam crescendo a taxas excelentes: a deste ano ficará entre 7% e 8%, indicador que deve manter-se estável pelo menos até 2017, e que levará o faturamento do setor em 2013 a US$ 160 bilhões, segundo o analista Roberto Gutierrez, da consultoria IDC. Essa cifra supera o PIB de 2012 de países como Hungria e Equador, por exemplo: o faturamento brasileiro em TI, que ocupa 1,3 milhão de profissionais, poderia ser considerado a 57ª economia do mundo pelo ranking do Banco Mundial – ela representou 5,2% do PIB brasileiro no ano passado segundo estimativas da Associação Brasileira de Empresas de Tecnologia da Informação e Comunicação (Brasscom). Pelos números da entidade, o Brasil é o segundo colocado em índice de crescimento de TI, com 10,8% em 2012, perdendo apenas para a China. O indicador para o mercado de telecomunicações não fica muito atrás: 8,5%, maior crescimento do mundo em 2012, quando o faturamento foi de US$ 109 bilhões; somado ao de TI, o valor alcança US$ 233 bilhões.

A taxa de crescimento em telecomunicações é menor do que a de TI, explica Gutierrez, “porque o volume medido é maior, o que é comum em países com grande população como o nosso; a outra causa é que parte dos serviços de telecomunicações está migrando para o universo de TI”. Na verdade, ele admite que está começando a ficar difícil separar esses universos: “Acho que em algum momento vamos ter de abolir essa distinção”. No mundo inteiro, o setor de TI continua crescendo a uma taxa que deverá ficar próxima de 4,5% até o ano de 2017. Mas Gutierrez diz que o ritmo brasileiro é forte: “Outros países não estão indo tão bem: EUA e Japão ficaram estagnados em 2012, e a Espanha, por exemplo, caiu”, afirma o analista. Embora adote novas tecnologias depois dos países desenvolvidos, ultimamente o Brasil tem sido mais rápido para isso, conta Gutierrez: “Tempos atrás, levávamos de cinco a seis anos para adotar aqui as inovações, mas agora esse prazo não ultrapassa um ano e meio”, diz.

A 15ª Futurecom, evento que começa hoje no RioCentro reunindo 348 empresas das áreas de TI e telecomunicações, é um espelho do vigor desses mercados, diz o presidente do evento, Laudálio Veiga Filho: “Começamos a Futurecom em 1999, com 45 expositores e perto de três mil visitantes. Este ano, estamos com 338 expositores, numa área de 22 mil m2 e uma expectativa de 12.500 visitantes”. Segundo ele, serão três dias e meio de montagem e apenas um e meio para desmontagem: “É como construir e demolir 170 casas de 50 m2, incluindo a decoração”, exemplifica.

Feita inicialmente em Foz do Iguaçu, depois Florianópolis, São Paulo e agora no Rio, a Futurecom se tornou o principal evento brasileiro de tecnologia da informação e comunicação. Embora já tenha sido feito em São Paulo, a pedido das operadoras de telecomunicações sediadas na cidade, acabou indo para o Rio para ganhar uma dimensão internacional maior, conta Laudálio: “No entanto, a violência dos protestos que aconteceram no Brasil e o custo dos hotéis do Rio já se refletiram na feira – tivemos o cancelamento de 15 expositores por esses motivos”, relata ele.

A pesquisa “Tecnologia de Informação”, que o professor Fernando Meirelles, da FGV SP, faz desde 1988 indica que uma das principais razões para a firmeza no crescimento do mercado brasileiro de TI é a venda de tablets, classificados na pesquisa como microcomputadores. Pelas estimativas desse estudo, haverá em 2016 cerca de 200 milhões de computadores pessoais em uso no país, ou perto de um por habitante. “Vende-se atualmente um computador a cada segundo no Brasil”, revela Meirelles. Este ano, o total vendido no mercado interno deve chegar a 19 milhões de unidades – alta de 17% sobre o total do ano anterior. “Também concluímos que a mobilidade é responsável por aproximadamente metade do crescimento do mercado – atualmente é a principal força em TI; as outras três são computação em nuvem, Big Data e redes sociais”, acrescenta Gutierrez, do IDC.

Primado da mobilidade

O estudo da FGV mostra que em termos de TI e de telecomunicações o país evoluiu a ponto de superar médias mundiais: nos últimos quatro anos, o número de microcomputadores disponíveis no Brasil dobrou, alcançando 0,6 por habitante, contra 0,4 na média mundial; em telefones por habitante (fixos e móveis), alcançou a mesma relação existente nos EUA, que é de 1,56 por habitante, contra uma média mundial de 1,15. Os números levantados pela FGV mostram que em termos de TI as empresas brasileiras investem cada vez mais: em 1990, a taxa era pouco superior a 1,5% do faturamento, mas em 2004 alcançou 5%, agora está em 7,2% e em mais dois anos alcançará 8%, indica a curva de crescimento gerada pelos números da pesquisa.

Em 18 anos, essa taxa de investimento triplicou, revelam os números acompanhados por Meirelles e sua equipe da universidade. Traduzindo isso em valores, a pesquisa revela que o custo anual por usuário evoluiu de US$ 9 mil em 1988 para US$ 12,4 mil na última amostra – embora os preços dos microcomputadores tenham despencado de uma média de US$ 5,4 mil 24 anos atrás para apenas US$ 400 hoje.

“Com crise mundial ou sem ela, o setor continua crescendo”, revela Veiga Filho. “Os indicadores estão em toda parte – no tráfego de internet, nos downloads, nas vendas. Veja que o tráfego de dados está crescendo com tanta rapidez que os investimentos das operadoras são quase insuficientes para atendê-lo. A cada segundo, são baixados 1,2 milhão de minutos de vídeo em todo o Brasil”, afirma. As previsões das operadoras, segundo ele, são de que em 2020 apenas 1% de todo o tráfego das redes de telecomunicações será ocupado por serviços de voz: “Elas estimam que 9% serão dados e 90% vídeo”, conta, com espanto, o presidente da Futurecom. Amadeu Castro, diretor da GSM Association no Brasil, conta que um ensaio envolvendo cem jovens com smartphones constatou que nenhum deles telefonou para ninguém: “Eles usaram apenas dados, para comunicação de um para muitos, com o WhatsApp e outros recursos”, diz Castro. Em breve, com a ampliação da tecnologia 4G, avalia ele, essa tendência de uso de dados no lugar de voz deve se acentuar.

Para Gutierrez. a presença dos dispositivos móveis em todos os ambientes fez com que as empresas passassem a encará-los como plataforma e, a partir de 2011, a integrá-los aos sistemas: “Ao mesmo tempo em que o mercado incorpora recursos da mobilidade, investe na computação em nuvem, em big data, em ‘analytics’ e em redes sociais”, esclarece.

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Momento é da nuvem, da mobilidade e de Big Data

Pelo menos até o fim deste ano, as tendências em TI e telecom estão definidas em duas expressões: computação em nuvem (ou cloud computing) e mobilidade. E dentro de TI, outra tendência vem ganhando importância: Big Data, a análise de grandes massas de dados, estruturados ou não, para fins estratégicos corporativos.

Os sinais de vigor desses mercados não param de surgir em pesquisas e balanços: o do terceiro trimestre de 2013 da IBM mostra, por exemplo, um aumento superior a 70% nas receitas com serviços de cloud computing. Segundo a consultoria Frost & Sullivan, esse mercado vai alcançar US$ 1 bilhão de faturamento no Brasil em 2017 – hoje, ele já é de US$ 302 milhões.

No entanto, ainda há barreiras ao seu desenvolvimento, mostra a última pesquisa da Frost sobre o assunto: a maioria dos CIOs está apenas iniciando as provas de conceito, antes de adotarem essa tecnologia – apenas 38,8% do mercado já adotou ou está adotando cloud. As três principais forças que impulsionam o mercado são a alta disponibilidade da infraestrutura (está disponível perto de 100% do tempo), a redução de custos e a flexibilidade, já que em nuvem consegue-se agregar novos recursos praticamente com um clique de mouse. Contudo, existem também três grandes obstáculos freando as decisões desses mesmos CIOs: segurança, questões de conectividade e, em muitos casos, falta de conhecimento mais profundo sobre os recursos das nuvens.

Apesar disso, ela está se tornando a plataforma básica de trabalho das corporações, garante Gil Torquato, CEO da Uoldiveo, provedora de serviços de nuvem privada que já tem mais de 15 mil servidores virtuais. Ele acha que foi o princípio de utility, ou seja, pagar efetivamente pelo recurso utilizado, que transformou as nuvens em parte da estratégia de TI de clientes de todos os portes: “Tomemos o exemplo do uso das nuvens para inovação: as empresas podem criar protótipos de seus negócios em um ambiente que não exige investimentos. Além disso, várias áreas ganham autonomia para testar e aperfeiçoar iniciativas próprias. São características financeiras e de tempo de projeto entregues apenas pelos ambientes em nuvem”, afirma.

Arlindo Maluli, diretor de estratégia e alianças da Microsoft Brasil, acrescenta: “A nuvem é uma tendência porque reúne muitos recursos e eles tendem a se fundir. Percebemos isso quando vemos nossa plataforma de CRM se combinando com a nossa rede social Yammer, integrando todo o time de trabalho, concentrando os arquivos de projetos, ligando-se ao Office 365, tudo em nuvem.”

E a mobilidade está perfeitamente integrada à de cloud, complementa Marco Bravo, diretor de negócios da Microsoft para o mercado corporativo. “Nos últimos dez anos, a mobilidade ganhou espaço nas pessoas e nas empresas – aplicações que estavam apenas no desktop se tornaram móveis”, afirma. O princípio, acrescenta Maluli, é poder acessar as aplicações em qualquer lugar, com qualquer dispositivo – e agora as empresas começam a permitir que os funcionários utilizem no trabalho o que bem entenderem: é a tendência “bring your own device”, ou traga seu próprio dispositivo. (P.B.)

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Paulo Brito, para o Valor Econômico