O contingente planetário de portadores de celulares, até ontem (hoje é outro dia) alcançava o número impressionante de cerca de 6,5 bilhões. Alguma coisa assustadora. Provoca curiosidade saber-se as consequências dos efeitos das mensagens trocadas ou colocadas à disposição dos internautas. As respostas são muitas, desencontradas e conflitantes. Preocupa. O debate está aberto quanto a trazer benefícios ou males irreparáveis à sociedade. Que os interessados se pronunciem. Há muitas opiniões que circulam em livros, ensaios e teses de mestrado. Recomendável que aconteça, enquanto é cedo.
O mundo dos nossos dias é diferente, irreconhecível, em comparação às últimas décadas do século 20. Nós as vivenciamos e nos tornamos testemunhas da evolução da História e até certo ponto, fomos influenciados e influenciadores dos acontecimentos. Que o digam as temidas redes sociais. Eis um poder em ascensão, testado e abusado. O que ninguém entende é a permanência de velhas e macrobióticas ditaduras do Caribe, na América Latina e Ásia! Um dia a casa cai.
Estamos mudando o rumo e o destino da humanidade. Vejam: primaveras árabes e as manifestações de rua, aqui, no Brasil, debaixo do nosso nariz. Diversos ditadores caíram e o presidente da Síria, Bashar al-Assad, não. O que acontece?
Gosto duvidoso
A informação movida pelas novas tecnologias mexeu com a mente, cérebro, coração, corpo e alma. Não satisfeita, mudou impiedosamente os costumes, o modo de sermos e nos envolveu num tipo de cultura questionável, ao contrário de como a concebíamos. Somos bombardeados diariamente com textos carecedores de crédito e péssimos sob todos os aspectos. Recomenda-se apagar o que se considera obtuso.
Com todo esse rolo compressor nos ancoramos no alerta do crítico norte-americano Haroldo Bloom: “E onde está o conhecimento”? – como a dizer, só informação não satisfaz. A saída são os livros, a leitura, de preferência os clássicos, o que contraria Virginia Woolf. Ela recomenda lermos o que se desejar. Sábias colocações.
O escritor Vargas Llosa, Prêmio Nobel de Literatura em 2010, com novo romance na praça, O herói discreto, trata a questão com um olhar que parece impertinente, mas encontra adeptos. Pelo que julga, a cultura no sentido tradicionalmente dado a esse vocábulo, está prestes a desaparecer: “No passado a cultura foi uma espécie de consciência que impedia que virássemos as costas para a realidade. Agora atua como mecanismo de distração e entretenimento.” Considero vivermos num mundo, cuja civilização foi transformada num espetáculo de gosto duvidoso. As coisas sérias são transformadas em entretenimento. No livro A civilização do espetáculo, o peruano detalha suas ideias.
“Informação demais causa amnésia”
A futilidade dominou diversos segmentos que nos cercam, ao se opor a uma cultura saudável. O teatro, o cinema, a televisão e livros de qualidade, substituídos pelo que há de pior. O conteúdo da tela do PC, então… Muitos leem obras que não ensinam nada e nem fazem pensar. Qualquer pessoa lança livro e poucos merecem o status de escritor. As obras que batem recorde de vendagem são aquelas de tom cinza (sobre sexo), violência, autoajuda ou videogames que ensinam a matar e destruir o que encontram pela frente, igual à ação dos vândalos “black blocs”. Um perigo às crianças e adolescentes.
Compra-se livro por diversão. Ás vezes vale a atração dos textos chamativos na contracapa. Velho truque. Não passa de isca para fisgar os tolos. O certo é comprá-lo pelo conhecimento do autor. Um Machado de Assis, Aloisio Azevedo, Guimarães Rosa merecem confiabilidade. O resto na afirmação de Vargas Llosa é espetáculo. Afeta a cultura em tudo que se olha, ouve e lê.
O circo está armado e o público aplaude, delirantemente, o palhaço. A cultura que engrandece o ser humano estaria dando adeus? Adverte Umberto Eco: “Informação demais causa amnésia.”
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Sebastião Jorge é jornalista