Monday, 25 de November de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1315

Uma história do jornalismo no Brasil

Em 15 de outubro de 1893, nascia Pedro Cunha na cidade paulista de Taubaté. De família humilde e arrimo de família, partiu, aos 13 anos, para a capital, onde se empregou como office-boy na redação de O Estado de S.Paulo. Estava dada a largada para o caminho do grande jornalista e um dos fundadores da Folha. Mais tarde, integrou o grupo de redatores que atuava no Estadinho, versão vespertina do Estadão, numa época em que o rádio não existia. Lá conheceu Olival Costa, Amadeu Amaral, Júlio de Mesquita Filho e o grande caricaturista Belmonte, e eles se tornaram companheiros de empreitada.

Com o fim da Primeira Guerra Mundial, o Estadinho acabou e o desemprego passou a assustar os jovens jornalistas. Temendo a penúria financeira, Pedro Cunha e Olival Costa tomaram a frente de um novo projeto: a fundação de um novo vespertino. Coube ao primeiro captar fundos com Armando de Sales Oliveira, diretor de O Estado de S.Paulo. Com o montante de cento e poucos mil réis, colocaram em circulação, em 19 de fevereiro de 1921, o primeiro número da Folha da Noite. Em dois meses, quitaram a dívida e dali para frente o lucro foi garantido, assim como o sucesso e a fidelidade dos leitores.

A Folha da Noite nasceu com o ideal de lutar pela melhoria de vida da população trabalhadora e pela moralização da política. Configurou-se como um jornal combativo e noticioso, de linguagem acessível. E contava com a criação de Juca Pato, caricatura de Belmonte que alegrava o noticiário com seus desenhos e comentários picantes.

Cultura amnésica

Na Revolta de 24, o governo paulista proibiu a circulação do jornal. As rotativas da redação, entretanto, não pararam e, espertamente, no dia seguinte, os jornalistas publicaram o mesmo tabloide com um nome diferente: Folha da Tarde. A velha Folha de Olival Costa e Pedro Cunha pôde, assim, continuar nas mãos e olhos ávidos dos leitores, depois de driblar a censura. No ano seguinte, incansáveis, os sócios lançaram a Folha da Manhã. Impetraram campanhas sociais notáveis, defendendo a construção de escolas e moradias populares e até mesmo dando sugestões de uma alimentação popular mais barata e saudável, à base de peixe.

Apesar da popularidade, a memória dos primórdios das Folhas perdeu-se no tempo. Por quê? Segundo o testemunho de um dos poucos que registrou o cotidiano daqueles dias, o jornalista Francisco Pati, a Folha da Noite nasceu em consequência de uma guerra, cresceu no meio de duas revoluções e acabou sacrificada às mãos dos que se diziam donos da terceira revolução, ou seja, dos agentes de Getúlio Vargas, que empastelaram, em 1930, sua redação, destruindo máquinas e memórias, queimando valiosos documentos daqueles dias pioneiros, apagando, enfim, os rastros que deram origem a um dos maiores jornais brasileiros da atualidade.

Hoje, quem há que festeje os 120 anos de Pedro Cunha? Seu nome é desconhecido pela unanimidade dos brasileiros, que ignora sua importância na imprensa e na história de São Paulo. Lamentavelmente, só a minha voz, voz de neta, soa ímpar em meio a nossa cultura amnésica. Insistente e solitária, eu clamo: Parabéns, vovô Pedrinho, muito orgulho tenho eu de tua história!

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Marília Cunha Rios é mestre em literatura brasileira pela Pontifícia Universidade Católica do Rio e professora de literatura brasileira da Secretaria Estadual de Educação do Rio