Wednesday, 18 de December de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1318

Cobertura de 2012 foi equilibrada e justa, conclui livro

A cobertura das eleições presidenciais americanas de 2012 foi equilibrada e justa. Essa foi uma das conclusões do livro The Gamble(A Aposta, na tradução livre), lançado em setembro, escrito pelos professores John Sides e Lynn Vavreck. Os autores colocam a mídia como personagem central da história ao analisar dados de 11 mil veículos de notícias compilados pela empresa General Sentiment. A análise mostra não apenas a frequência com que os candidatos eram mencionados, como também o quão positiva ou negativa foi a cobertura em diferentes momentos da campanha presidencial.

O livro concluiu que, nas primárias republicanas, a cobertura levou às oscilações dos candidatos nas pesquisas, que seguiram um padrão constante. Ou seja, um candidato que não recebeu muito destaque na mídia era levado a fazer algo importante para chamar a atenção dos veículos de comunicação, em um processo chamado pelos autores de “descoberta”. Para o pré-candidato Rick Perry, por exemplo, foi simplesmente a entrada na disputa. Já para Rick Santorum, foi a primeira vitória em Iowa e depois no Colorado, Minnesota e Missouri. Isso é compreensível – cobrir “o que é notícia” –, mas acaba sendo problemático por conta de “pseudoeventos” que acabam ganhando uma importância maior do que deveriam e levando a uma interpretação errônea dos fatos.

Depois desse processo inicial de “descoberta”, os candidatos republicanos que estavam na liderança logo experimentaram uma investigação de seus históricos, o que geralmente levava a uma cobertura mais negativa e estimulava os oponentes a facilitar essa averiguação.

Pesquisas e tendências

Já na campanha das eleições gerais, as pesquisas deram o tom das notícias – o que não é surpreendente, pois elas modificaram-se muito pouco, principalmente depois da convenção democrata e do primeiro debate. O candidato que estava liderando nas pesquisas geralmente tendia a ter a cobertura mais positiva, enquanto o que estava mais atrás tendia a ganhar mais matérias e análises sobre o que havia de errado na sua campanha.

De maneira geral, houve momentos em que Mitt Romney recebeu mais cobertura do que Barack Obama em torno de grandes eventos, mas a mídia não favoreceu nenhum deles consistentemente e o tom da cobertura geral dos dois candidatos foi bastante parecido, argumentam Lynn e Sides. A semana depois da divulgação de um vídeo em que Romney alegou que 47% dos americanos eram dependentes do governo e se fazem de vítimas foi difícil para ele, e setembro não foi bom para Obama. Depois do primeiro debate, a cobertura do democrata foi mais negativa e a de Romney mais positiva, mas isso também não durou muito.

Além disso, segundo os professores, a mídia mostrou ser mais inclinada a torcer por uma boa história do que por um dos lados da disputa eleitoral. Isso ficou bastante visível durante a terceira semana de outubro, quando houve uma série de reportagens, começando no site Politico, sobre o suposto “momento” Romney. Não havia nada nas pesquisas para justificar tal tendência, mas a palavra repetia-se em várias matérias. Um dos repórteres que escreveu um dos textos admitiu que se baseou no que outros repórteres estavam dizendo e não em alguma mudança nas pesquisas.

Essa afirmação ilustra um dos perigos do jornalismo político e uma das razões que motivaram o livro. É claro que a mídia vai se esforçar para publicar matérias interessantes, mas há sempre o risco de eventos insignificantes ou tendências não existentes ganharem destaque. No livro, os autores – Lynn é professora de ciência política e estudos da comunicação na UCLA; Sides ensina ciência política na Universidade George Washington e é co-fundador do blog The Monkey Cage, hoje abrigado no site do Washington Post – argumentam que há um caminho para relatar os eventos do dia sem exagerar na importância deles. Outro objetivo que deve estar sempre presente para os jornalistas é o ceticismo diante do que os candidatos dizem. É preciso investigar, checar e criticar cada história e número apresentados pelas campanhas.