Na crise da imprensa, muito se fala sobre as demissões de jornalistas e a diminuição do número de páginas de notícias, além do corte de seções como classificados e serviços como horário de cinemas. Há ainda um nova tendência: é crescente o número de jornais diários que também está reduzindo o espaço voltado para editoriais e colunistas.
O exemplo mais recente desta tendência é o do jornal americano Philadelphia Inquirer, que cortou suas páginas de editorial e opinião pela metade nos dias úteis, de duas páginas para apenas uma.
Não existe um registro formal sobre as reduções de páginas opinativas nos jornais, mas, em entrevistas do Pew Research Center com editores de várias partes dos EUA, há a confirmação de uma queda gradual no espaço dado a editoriais e colunistas. Alguns jornais tentam compensar esta diminuição com blogs e colunistas online. “A tendência da última década é que os departamentos de editoriais perderam espaço e jornalistas”, diz Bob Davis, editor do jornal The Anninston Star, que também cortou uma página de textos opinativos. “As pessoas estão se vendo menos como uma voz editorial e mais como um estimulador de conversas”.
Um dos sinais desta tendência é a queda no número de membros da Associação de Jornalistas Opinativos dos EUA, que representa editorialistas e colunistas. Em 2006, a entidade possuía 549 membros. Hoje, há apenas 245 afiliados, uma diminuição de 55%.
Protesto articulado
Outros casos se repetem pelos EUA:
** Há alguns anos, o Seattle Times removeu uma de suas duas páginas opinativas nos dias úteis. Agora, a página é voltada para assuntos locais e regionais e a seção de colunistas do site do jornal foi reforçada.
** Entre 2008 e 2011, o Kansas City Star eliminou uma de suas três páginas de editoriais e colunistas. Segundo Miriam Pepper, vice-presidente da seção editorial, nem todos os leitores vão ao site atrás dos textos opinativos.
** Os jornais da empresa Scripps Treasure Coast, da Flórida, adicionaram duas páginas de opinião nos domingos, mas reduziram o número de editoriais publicados. Larry Reisman, antigo editor da pagina editorial, teve seu cargo renomeado para editor de opinião e engajamento de público. “Se não temos nada a falar, então não falaremos”, disse Reisman.
** No South Florida Sun-Sentinel, o número de editorialistas caiu de 11 para cinco. O jornal eliminou sua página opinativa há um ano, mas reinstalou meia página para editoriais após reclamações de seus leitores.
** No Philadelphia Inquirer, a redução de espaço opinativo foi particularmente controversa. O editor da página de editoriais, Harold Jackson, escreveu um e-mail pedindo para colaboradores protestarem contra os donos do jornal. Segundo o chefe-executivo Bob Hall, o corte não foi feito para reduzir custos, mas porque o público via no jornal um excesso de editoriais e pontos de vista.