A ministra do Meio Ambiente Izabella Teixeira criticou, em Brasília, os jornalistas brasileiros que, segundo ela, somente tratam de desastres e pouco fazem a ligação em profundidade com mudanças climáticas e acabam não colaborando com a sociedade diante dessas catástrofes. “A cobertura jornalística tem sido feito quando tem desastre e não sobre os mecanismos de prevenção, por exemplo”, opinou (ouça entrevista). O desastre mais grave da história que se tem notícia ocorreu em 2011 no Rio de Janeiro, quando mais de mil pessoas morreram.
Ela, que fez palestra em Brasília durante o Congresso Brasileiro de Meio Ambiente, indicou que faz parte do papel do noticiário denunciar as vulnerabilidades, visto que, conforme acredita, a sociedade brasileira precisa estar conscientizada sobre os graves problemas que a cercam. “Quanto maior capacidade de análise, melhor, a fim de mobilizar a sociedade”, considerou.
Durante evento, ela condenou textos “superficiais”, que seriam a tônica da maior parte do conteúdo. “Não dá pra escrever sobre desenvolvimento sustentável superficialmente”. Ela considerou que o Brasil colocou a área ambiental na agenda do desenvolvimento. “Nenhum país atingiu o desenvolvimento sustentável, para muitos não interessa discutir o assunto”, reiterou.
A caminho
Ela enumerou o que seriam as bases do desenvolvimento sustentável, que o jornalista deveria estar atento: erradicação da pobreza, papel de instituições privadas, necessidade de trabalhar a agenda de financiamento do desenvolvimento sustentável, participação da sociedade. A ministra refutou a ideia que a conferência Rio +20, da ONU, realizada no ano passado no Rio de Janeiro, teve resultados inócuos, como a imprensa veiculou. “Não houve destaque de todos os temas discutidos”.
Para a ministra, o papel principal da mídia não está essencialmente em cobrir. “Não é mais ator paralelo, é ator influente”. Ela explicou que trabalha, na gestão, em reunir novos grupos de discussão dos assuntos relacionados ao meio ambiente. Chegou inclusive a sugerir que possa existir os green block, numa alusão aos mascarados dos black block.
Leitura antes da publicação
Passado o Congresso, no mesmo tom de críticas ao jornalismo ambiental que se faz no Brasil, o diretor de Departamento de Políticas para o Combate ao Desmatamento, Francisco Oliveira, afirmou que os jornalistas do país não têm preparo para tratar do tema. “Tive uma experiência boa recente com um jornalista inglês do The Guardian. Ele me mostrou o texto antes de ser publicado. Não para eu mudar, mas para eu verificar se havia alguma informação não condizente”. Já o ambientalista Dener Giovanini, que tem blog no Estadão sobre o assunto, considera que o jornalista deve estar vigilante aos números divulgados pelo governo. “O desmatamento continua subindo. Não podemos engolir tudo que é colocado”.
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Camila Schreiber e Simone Alves, da Agência de Notícias UniCEUB