Friday, 22 de November de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1315

Liberdade de imprensa

Nesta semana [passada], a Escola de Pós-Graduação em Jornalismo da Universidade Columbia anunciou os Prêmios Maria Moors Cabot, a mais antiga premiação internacional de jornalismo, na rotunda de sua biblioteca memorial, em Nova York. Os prêmios foram criados há 75 anos, quando Godfrey Lowell Cabot estabeleceu um fundo para concedê-los, em memória de sua mulher. Com os deste ano, 265 prêmios e citações foram conferidos a jornalistas cujos interesses estão voltados aos assuntos do hemisfério ocidental, tanto na América do Sul quanto na do Norte.

A Escola de Jornalismo de Columbia foi fundada por Joseph Pulitzer, com a missão de treinar jornalistas sob os mais altos padrões e de conceder prêmios de reconhecimento à excelência no jornalismo, entre os quais os famosos Prêmios Pulitzer. A cada ano, a escola aceita 400 alunos, e, entre os mais de 11 mil estudantes que lá se formaram, há muitos jornalistas, editores, repórteres e produtores conhecidos, na mídia impressa, eletrônica e interativa de todo o planeta.

Para celebrar o 75º aniversário dos Prêmios Cabot, a escola realizou um simpósio de dois dias sobre liberdade de imprensa, padrões de imprensa e democracia na América Latina.

Liberdade e sigilo

O Brasil teve presença marcante neste ano. Uma das medalhas de ouro coube a Mauri König, da Gazeta do Povo, de Curitiba, por suas reportagens investigativas sobre abusos contra os direitos humanos, tráfico sexual e corrupção. Uma série de reportagens publicadas em 2006 e 2007 expunha casos de tráfico sexual ao longo das fronteiras brasileiras. Em 2002, König expôs o sequestro de crianças brasileiras para serviço militar na Bolívia, o que o levou a ser brutalmente espancado quando estava pesquisando para a história. Sua especialidade é o submundo corrupto do Brasil, e o Prêmio Cabot reconhece o jornalismo corajoso de König.

Alberto Dines, premiado com o Cabot em 1970, também falou no simpósio. Ele apontou que é importante recordar o quanto as coisas mudaram para melhor no Brasil depois da ditadura militar, e, para König, o trabalho de Dines continua a ser um marco de integridade.

Porém o conflito fundamental entre a liberdade de expressão e o segredo governamental continua irresolvido. Resta o paradoxo de termos Edward Snowden refugiado na Rússia, país que não é exatamente um baluarte da imprensa livre, e Julian Assange refugiado na Embaixada do Equador em Londres, em um momento no qual o governo equatoriano adota novas leis que muitos dos presentes à cerimônia dos Prêmios Cabot veem como restritivas à liberdade de imprensa.

Mas são exatamente essas as questões que os Prêmios Maria Moors Cabot têm por objetivo contemplar. E é evidente que continuarão a fazê-lo.

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Kenneth Maxwell é colunista da Folha de S.Paulo