Este mês, o colunista Michael Powell – que se define como politicamente liberal – assinou uma reportagem investigativade capa que tratava da anulação, por influência política, de um processo em que funcionários públicos eram acusados de má conduta em uma pequena cidade de Nova Jersey. O principal alvo da acusação, segundo o artigo, era um aliado político do governador do estado, o republicano Chris Christie, que disputa a reeleição. Depois da publicação do artigo, a ombudsman do New York Times, Margaret Sullivan, recebeu uma carta de reclamação de Michael Drewniak, porta-voz do governador.
O episódio levou Margaret a levantar, em sua coluna [26/10/13], questões mais amplas que merecem uma análise mais aprofundada. O jornalismo está mudando drasticamente e há quem acredite que, hoje, a tão valorizada “objetividade jornalística” tenha ficado ultrapassada e sem sentido. Jornalistas como Glenn Greenwald e Laura Poitras, que trabalharam com Edward Snowden para publicar revelações sobre a vigilância do governo americano, têm orgulho de sua defesa apaixonada das liberdades civis.
A matéria em questão, alegou Drewniak, esforçava-se para fazer conexões tênues e ignorava as razões não políticas e válidas para anular a acusação. O porta-voz do governador criticou ainda o fato do texto de Powell ter sido publicado como uma reportagem e não como uma coluna, indagando como os editores permitiram isso. A ombudsman levou essas questões a Powell, à editora política Carolyn Ryan e ao chefe de redação, Dean Baquet. Powell alegou ter escrito a matéria da maneira mais justa possível e não vê problema algum em ocasionalmente atuar como repórter; Carolyn e Baquet disseram ter prestado bastante atenção ao tom e ao teor do texto, considerando o papel principal de Powell como colunista.
Transparência
Com 28 anos de experiência profissional, Powell sente-se confiante em produzir uma reportagem investigativa. “Acho que a objetividade é uma farsa – algo que não faz sentido intelectual. Precisão, entretanto, é algo que levo muito a sério”, justificou, acrescentando uma pergunta que todo jornalista deve se fazer: “Sou intelectualmente honesto para confrontar minhas próprias parcialidades?”.
De maneira geral, o NYTimes tem uma definição rígida de imparcialidade. Suas normas internas determinam que repórteres não podem ser politicamente ativos e editores acreditam que quanto menos os leitores souberem das crenças políticas do repórter, melhor. A Associated Press e outros grandes jornais dos EUA têm regras semelhantes.
Ainda assim, Carolyn não acredita que teria sido melhor que Powell tivesse cedido a pauta a outro repórter. O colunista conseguiu, por exemplo, que diversos membros do grande júri falassem com ele, o que não é uma tarefa fácil. Além disso, ele não é o primeiro colunista a assinar uma reportagem.
As reclamações do porta-voz do governador não incluem erros factuais, mas sim omissões e a narrativa de Powell, que já havia escrito anteriormente colunas criticando Christie. Na opinião de Margaret, o jornalismo está mudando: a transparência torna-se cada vez mais importante, enquanto a objetividade tradicional, na ideia de que os repórteres devem ter menos opinião, perde espaço. Mas há valores que não devem ser deixados de lado, como precisão, honestidade intelectual e justiça. Reportagens investigativas costumam, por natureza, deixar alguém descontente. Mas, no fim, o que importa é se a matéria foi precisa, justa e se trouxe informação nova relevante.