Saturday, 23 de November de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1315

Erivaldo Carvalho

“‘O sucesso tem muitos pais, mas o fracasso é órfão’ John F. Kennedy

O que aconteceu com nossas reportagens especiais? Os jornalistas perderam o talento e a criatividade para contar grandes histórias? Perguntas do tipo foram levantadas na última sexta-feira, na penúltima rodada dos Debates Especiais Grandes Nomes, projeto da rádio O POVO/CBN e portal O POVO Online. O convidado foi o jornalista Xico Sá. Natural do Crato (Cariri cearense), o entrevistado fez carreira em múltiplas plataformas – inclusive em veículos de alcance nacional –, onde foi repórter especial premiado. Atualmente, o também escritor e humorista assina colunas regulares em veículos impressos do Sudeste do País, mantém um blog e tem passagens pela TV. Dizendo-se fruto desse ‘desmantelo’ por que passaram as empresas de jornalismo, Xico Sá – poucos melhores do que ele para dizer isso – atribui a baixa produção de histórias em profundidade ao enxugamento das redações. A tese difundida pelos próprios veículos, observa ele, parte do princípio de que os leitores têm cada vez menos tempo para ler. ‘A gente sabe que é papo furado’, resume o jornalista, acrescentando que, na prática, o argumento empresarial é uma forma de justificar as demissões.

O mercado atuou

É consenso de que o cenário jornalístico focado na produção de reportagens especiais já esteve pior do que há mais ou menos duas décadas. E ainda há alguns rearranjos em curso. Há vários anos, todo veículo tradicional de imprensa tem um núcleo ou editoria para tratar de matérias de forma diferenciada. Nos últimos anos, até sites e blogs mais estruturados estão com um pé na ‘especialidade’. O renascimento não aconteceu por acaso. Foi a mão invisível do velho e bom mercado que atuou. Ou as redações se ajustavam à nova realidade imposta pela internet ou sumiriam do mapa. Juntou-se a necessidade de mudanças à busca de vantagens. Lembremos aqui que o cartel de premiações de um veículo de comunicação é um dos melhores cartões de visita para atrair parceiros e fechar negócios.

Desde então, aliada às transformações, veio a cada vez maior contextualização de conteúdos, agora mais analíticos. É uma maneira de os veículos se diferenciarem dos concorrentes já conhecidos – e dos novos. Voltando ao Xico Sá: para o jornalista, a mudança tem de ir além: ‘O colunismo e a opinião não são a saída’, avalia. ‘Os jornais têm de procurar um terreno na grande feira da internet. Grandes reportagens são a saída’.

Uma questão de qualidade

O POVO mantém um núcleo de reportagens especiais. Quem acompanha medianamente o jornal sabe do impacto e da qualidade dessas produções. A longa lista de prêmios aferidos à equipe responsável pelas páginas e cadernos especiais reforçam o que estou dizendo. De maneira geral, há sinais de que a estratégia em manter um grupo de elite nas redações será mantida. É muito positivo. Inclusive porque, agindo assim, as empresas reconhecem que é furada a tese de que se lê cada vez menos. As publicações longas e de fôlego sempre fazem muito sucesso junto ao público e aos críticos. Grosso modo, o jornalismo em profundidade recuou de flertes que manteve, durante algum tempo, com a instantaneidade e superficialidade da internet. No mercado, há espaço para conteúdos de todos os tipos – curtos e longos, de consumo rápido ou não – vai depender da demanda dos consumidores. Só não deve haver, torço, para a baixa qualidade – e esse aspecto independe do tamanho de texto, imagem e vídeo ou a plataforma na qual são publicados.

Apelidos e estagiários

Ainda em relação às reportagens especiais, há duas rápidas observações, que considero pertinentes. Há uma discussão sem fim se é justificável ou não uma equipe específica produzir jornalismo bem acima da média da redação, com o claro objetivo de angariar prêmios. Se essa for a única intenção, a função está invertida. É como se inventar um bom apelido e ficar procurando a pessoa a quem ‘batizar’. Geralmente, o apelido não pega. Outra questão é o fosso que se vai construindo, cada vez mais profundo, entre os repórteres especiais e o exército de estagiários que se revezam nas redações.

FOMOS BEM

PRISÕES DOS RÉUS DO MENSALÃO

Tivemos quantidade e qualidade nas notícias e análises

FOMOS MAL

JOGO NO CASTELÃO

Soubemos pela concorrência que a polícia instaurou inquérito para apurar a denúncia”