A presidente Dilma Roussef descobriu que “a sociedade brasileira é sexista e preconceituosa”. No Dia Internacional da Não Violência Contra a Mullher, ela escreveu no Twitter: “A violência contra a mulher envergonha uma sociedade que, infelizmente, ainda é sexista e preconceituosa. É uma forma de preconceito do mais forte contra a mulher apenas pelo fato de ser mulher. Graças às lutas das mulheres, o Brasil está mudando. A Lei Maria da Penha foi o alicerce do combate à violência contra as mulheres” (cf. O Estado de S.Paulo, 26/11/2013)
É uma pena que só em datas comemorativas a presidente resolva falar de um assunto que deveria estar presente em suas preocupações diárias: a defesa das mulheres.
Depois de dizer que “nós queremos, na verdade, que este país tenha tolerância abaixo de zero em relação à violência contra mulher porque esse crime envergonha a humanidade”, a presidente aproveitou para divulgar os programas sociais de seu governo ligados à proteção às mulheres.
O que nenhum dos jornais ou emissoras de TV que reproduziram a fala da presidente comentou é o absurdo da data: o Dia da Não Violência Contra a Mulher. Melhor do que reproduzir o discurso em tom eleitoreiro da presidente, seria discutir o fato de existir – e com abrangência mundial – um dia dedicado à luta contra a violência de que as mulheres são vítimas, no mundo todo. Em geral, os dias comemorativos são sinal de que alguma coisa não vai bem. Prova disso é que não existe o Dia dos Homens e muito menos o Dia da Não Violência Contra os Homens.
Papel da mídia
É uma pena que a presidente não se mostre tão sensível aos problemas femininos quando são divulgados dados mostrando que os salários das mulheres ainda são menores que os dos homens, que as mulheres ocupam menos de 20% das cadeiras do Congresso Nacional e que, apesar do crescimento do número de mulheres nas empresas, os cargos de primeiro escalão continuam sendo dos homens.
Problemas que, com toda certeza, não sensibilizam uma mulher que, apesar de viver numa sociedade sexista e preconceituosa, conseguiu ser eleita presidente – graças aos esforços do seu mentor – e, ao que tudo indica, tem boas chances de emplacar um segundo mandato.
Dificilmente a presidente, cortejada e assediada pelos políticos e lobistas de Brasília, sente na carne o preconceito enfrentado principalmente pelas mulheres pobres que vivem na periferia das grandes cidades. A mídia poderia fazer um favor para a presidente e para as mulheres mais pobres do país: lembrá-la, sempre, de que vivemos em uma sociedade sexista.
Para grande parte das brasileiras, que nem sabem o significado da expressão “sociedade sexista”, as palavras da presidente não fazem sentido. Não fazem diferença na hora de denunciar maus tratos do marido ou companheiro, assim como não ajudam em nada na hora de conseguir um salário igual ao dos colegas de trabalho.
Elas sabem que a presidente do Brasil é uma mulher, mas isso, na verdade, não muda sua rotina diária. Com ajuda da mídia, a situação poderia mudar.
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Ligia Martins de Almeida é jornalista