Thursday, 21 de November de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1315

Cultura da falta de cultura

Não estou nestas CPIs todas, mas confesso: não li os livros do Machado de Assis que deveria. Não conheço a obra do Glauber Rocha, do Vinícius de Moraes, do Nelson Rodrigues ou de qualquer outro artista ou pensador fundamental na nossa história recente. Vou à feira do livro de Porto Alegre para passear e comer algodão-doce. Resolvo parcialmente as palavras cruzadas do jornal. Colava nas provas de História. Não sei muito do que se diz no hino nacional. Não tenho cultura. De manhã bem cedo, junto com o café, também não leio cultura.

A importância que a imprensa brasileira – de uma forma geral – concede aos 100 anos da imigração japonesa no Brasil é um deboche, uma afronta à nossa própria cultura, ou ainda, à nossa falta dela. Em suma: a imprensa gosta de ser investigativa quando os responsáveis por determinada questão cabem na palma da mão. É o Maluf lá. O pai e a madrasta da menininha no condomínio. O Ronaldo no motel. O deputado vil na assembléia. Assim é elementar.

Agora, quando o gancho recai sobre o colo de todos – e todos, sem exceção – da sociedade, a coisa toda vira grego, digo, japonês. Ora, por que não falamos da nossa cultura? Convenhamos. Somos todos italianos, alemães, espanhóis, poloneses, estrangeiros que falam português e que sabem pouco de si próprios, de sua história.

O Brasil é quintal para inglês ver. Aqui, cultura é sinônimo de futebol, feijoada, Gonzaguinha e feriado, apelidado de Carnaval. Pobres dos índios, que chegaram aqui primeiro e só são notícia com facão na mão. Cem anos de imigração japonesa e 508 sem cultura. Boa mesma era minha tia-avó que matava todas as cruzadinhas numa sentada. Nível ‘cobrão’.

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Estudante de Jornalismo, Porto Alegre, RS