Monday, 25 de November de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1315

Suzana Singer

“Folha fica para trás na cobertura do cartel do metrô e enfrenta acusações de que protege o PSDB

‘Coisa feia, hein, FSP? Sempre a reboque do concorrente ‘OESP’. Todo dia o ‘Estadão’ descobre algo e publica. A FSP apenas reporta. Das duas, uma: ou tem péssimos repórteres investigativos, ou não quer mexer com o P$DB. A segunda hipótese me parece mais certa.’

O comentário, postado no site da Folha na quinta-feira, resume uma cobrança que vem sendo feita quase diariamente ao jornal sobre a cobertura do cartel de trens e metrô em São Paulo.

O ministro da Secretaria Geral da Presidência, Gilberto Carvalho, que integra o coro dos descontentes, disse de forma educada praticamente a mesma coisa que o internauta: ‘Você compara o tratamento que a imprensa tem dado ao caso de São Paulo e ao caso do pessoal do PT, veja a diferença. Tirando ‘O Estado de S. Paulo’, não se pergunta pelo crime, recrimina-se o acusador’.

De fato, a Folha não está indo bem nessa cobertura. O jornal tem o mérito de ter dado o chute inicial da grande mídia, ao revelar, em julho, a existência de um acordo de leniência da Siemens no Cade (Conselho Administrativo de Defesa Econômica). A multinacional, em troca de imunidade nas investigações, delatou às autoridades antitruste brasileiras um conluio em licitações de São Paulo, que envolvia partilha de encomendas e elevação dos preços.

O jornal teve outro bom momento ao mostrar que investigações, já existentes em 2011, não prosperaram, apesar do pedido de colaboração das autoridades suíças, porque o gabinete de um procurador do Ministério Público Federal ‘arquivou o caso na pasta errada’.

Foram dois ‘furos’ (informações exclusivas) importantes, mas agora o jornal parece estar perdendo esse trem. Foi o ‘Estado’ que revelou, em outubro, mensagens de 2004 em que o então presidente da Alstom no Brasil recomendava o uso de lobistas para obter contratos no governo de São Paulo.

Mais recentemente, o concorrente divulgou documento que teria sido escrito pelo primeiro delator do caso, um ex-executivo da Siemens, que citava o envolvimento de políticos tucanos. Na semana passada, publicou primeiro um depoimento de outro funcionário da empresa sobre uma conta secreta usada para o pagamento de propina e para fazer remessas a doleiros.

Engana-se, porém, quem atribui o mau desempenho recente da Folha a preferências partidárias. As investigações sobre o cartel do metrô, conduzidas pela Polícia Federal, pelo Ministério Público e pelo Cade, ainda estão em curso e o que já foi apurado deveria ser mantido em sigilo. Só que, a conta-gotas, documentos têm sido vazados, quase sempre para o ‘Estado’.

Trata-se de uma falha da reportagem, que precisa ser sanada rapidamente, mas não há nada que indique corpo mole com o objetivo de proteger ‘a’ ou ‘b’. É bom lembrar que a Folha publicou, há três meses, uma manchete (infundada) que dizia ‘Serra sugeriu que Siemens fizesse acordo, diz e-mail’.

Em novembro, o jornal expôs a fragilidade das iniciativas tomadas pelo governador Geraldo Alckmin para investigar o caso. Em editorial, afirmou-se que, ‘nas investigações sobre a CPTM, um escândalo engata-se a outro, e a omissão das autoridades paulistas tem garantido a impunidade geral’.

Aos que me acusarão, ao final de leitura deste texto, de aliviar a barra do jornal, adianto que nenhuma Redação gosta de ver escancaradas suas deficiências em coberturas importantes. E essa, que envolve um desvio de dinheiro bem maior que o do mensalão petista, é uma delas.”