Friday, 22 de November de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1315

Imaginando 2014

Os jornais de quarta-feira (18/12) publicam cenas explícitas de campanha eleitoral, antecipando o que deverá ser a disputa pela Presidência da República no ano que vem. O Globo e o Estado de S.Paulo trazem em suas primeiras páginas imagem da presidente Dilma Rousseff na companhia do governador de Pernambuco, Eduardo Campos, e retrato do senador mineiro Aécio Neves, tentando compor um quadro de isenção, com fotografias exatamente do mesmo tamanho e textos mais ou menos equivalentes. Esse é o equilíbrio formal que se pode esperar da cobertura eleitoral para os próximos meses.

No Globo, o título geral “Eleições 2014” indica que o jornal carioca já coloca sob o signo das urnas tudo que vier do noticiário político daqui para a frente. No Estado, a inauguração da campanha é anunciada pelo título “Desafiantes vão às ruas”, como um sinal de largada para a disputa. A Folha de S. Paulo evita formalizar o início da cobertura eleitoral, com duas notas na primeira página informando sobre as movimentações dos prováveis candidatos.

Depois do longo período em que se engajaram explicitamente em um dos lados do conflagrado ambiente político, os principais diários de circulação nacional parecem emitir sinais de que irão apresentar ao leitor uma cobertura equânime dos candidatos, a partir das declarações e intenções produzidas pelos marqueteiros de campanha. Mas acontece que não é no noticiário específico sobre política que se faz a pregação política da imprensa: a preferência dos editores aparece nas escolhas sobre outras questões, como a economia, denúncias de corrupção e outros eventos do cotidiano.

Os jornais não podem cumprir a promessa que fazem em todo ano eleitoral, de apresentar os competidores em condições equilibradas, porque estão viciados no protagonismo político – e também porque seus leitores exigem um posicionamento explícito entre as alternativas que vão às urnas. As cartas às redações indicam claramente os perfis que compõem a maioria dos cidadãos que leem jornais, e o retrato é de um campo radicalizado.

Os nomes estão lançados

A se levar em conta o programa enunciado pelo senador Aécio Neves, os debates vão girar em torno de questões econômicas. A se considerar o que diz Eduardo Campos, o governo será questionado sobre reformas institucionais.

O Estado de S. Paulo traça um mapa dos temas que deverão ser atacados pelos dois prováveis candidatos. O quadro, que tem o título “Diretrizes gerais”, não abre espaço para uma proposta da outra provável candidata, a atual presidente da República. Os temas centrais da campanha, segundo o jornal, serão reforma política, pobreza, saúde e meio ambiente.

Embora, em seu discurso, Aécio Neves se apresente como um candidato mais tipicamente oposicionista e Eduardo Campos procure deixar uma brecha para ser visto como um fruto dissidente da matriz que levou Dilma Rousseff ao Planalto, as diferenças entre os dois programas oposicionistas são meramente formais. Como o clima político, visto pelos olhos da imprensa, é de conflagração, possivelmente serão poucos os leitores dispostos a buscar as sutilezas que separam um do outro.

O senador Aécio Neves é apresentado pela imprensa como o principal candidato da oposição, o que o condiciona a tentar capitalizar tudo que a imprensa apontar como deficiência do atual governo. Eduardo Campos, claramente, será mantido como uma alternativa aceitável, a depender de seu desempenho nas próximas pesquisas, mas é apresentado como uma hipótese de conciliação.

Interessante observar que, tanto no PSDB quanto no PSB, nem Aécio nem Campos representam os melhores potenciais diante das urnas – o ex-governador José Serra, uma sombra permanente atrás do senador mineiro, e a ex-ministra Marina Silva, aliada de Campos, aparecem com mais chances nos levantamentos de intenções de voto.

Os nomes estão lançados, e conforme se pode observar nas edições de quarta-feira (18), esse é o quadro que o eleitor irá encontrar nas urnas eletrônicas em outubro do ano que vem.

A não ser, é claro, que a realidade venha a rachar a bola de cristal da imprensa.