Monday, 25 de November de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1315

Espionagem dos EUA é ilegal, decide Justiça

Um juiz federal de Washington decidiu ontem [segunda-feira, 16/12] que a coleta de dados telefônicos feita pela NSA (Agência de Segurança Nacional norte-americana) é inconstitucional. Para o juiz Richard J. Leon, do Distrito de Columbia, a Quarta Emenda à Constituição dos EUA, que protege a privacidade, foi violada. Na sentença, de 68 páginas, Leon determina o fim da coleta de dados de e-mails e telefonemas dos membros da ONG que moveu a ação, a organização conservadora Freedom Watch. Se confirmada, a decisão pode gerar jurisprudência e ser aplicada aos demais cidadãos americanos – não há menção a estrangeiros na ação da ONG.

A decisão é preliminar, sem efeito imediato. Por reconhecer “interesses nacionais significativos” no caso, o juiz escreveu que espera o recurso do governo, que justifica a espionagem com base na segurança nacional. A resposta pode levar até seis meses. “Não consigo imaginar invasão mais arbitrária e indiscriminada de privacidade que essa sistemática coleta e retenção (….) de dados de virtualmente cada cidadão, com os propósitos de questionar e analisar sem aprovação judicial”, escreveu Leon, que foi indicado ao cargo pelo ex-presidente George W. Bush.

A decisão é a primeira derrota legal do programa de vigilância da agência desde que, em junho passado, o ex-técnico da NSA Edward Snowden revelou a dimensão da espionagem americana. Leon também escreveu que tem “dúvidas significativas” sobre a eficácia do programa. “O governo não cita uma única instância em que a análise de dados da NSA de fato parou um ataque iminente ou ajudou o governo a alcançar algum objetivo premente.”

Os “constrangimentos” causados por Snowden

O programa passou várias vezes por juízes da Corte de Vigilância de Inteligência Estrangeira, criticada por aprovar todos os pedidos da NSA. O Departamento de Justiça americano alega que a coleta de informação – com números dos telefones envolvidos e horário e duração das ligações – não era invasão de privacidade, pois os dados já estavam à disposição das empresas telefônicas por razões de cobrança dos serviços.

No domingo, a NSA deu “acesso inédito” às câmeras do 60 Minutos, o programa jornalístico de maior audiência no país, da rede ABC. O general Keith Alexander, diretor da NSA, respondeu a várias perguntas, sempre falando da segurança nacional. Entre os “constrangimentos” causados por Snowden, a reportagem destacou a espionagem do celular da chanceler alemã, Angela Merkel. A presidente Dilma Rousseff não foi citada no programa.

Na reportagem, um alto funcionário da NSA dizia, em opinião pessoal, que Snowden deveria ser anistiado se devolvesse os documentos que furtou. A Casa Branca negou que pense em anistia.

******

Raul Juste Lores, da Folha de S.Paulo, em Washington