Friday, 22 de November de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1315

Feliz ano novo

Tereza acaba de cometer suicídio no Facebook. Achou que estava perdendo tempo. Silvia nunca entrou. Lili tampouco. Elas simplesmente nunca tiveram interesse. Quando sabem de algo que se passa ali, é por terceiros, como seus maridos, usuários eventuais. Paula entrou, mas não se encantou. Volta pouco. Maurício já criou quatro perfis diferentes, para dar conta de tantos amigos. Gerald é de fases: às vezes interage compulsivamente, outras vezes fica furioso, diz que nunca mais vai voltar, mas acaba voltando. Já o Theo, coitado, foi trollado – teve computador e senha do Facebook roubados por um ladrãozinho de São Sebastião neste Natal.

Helena ainda usa o Facebook e o Twitter, mas cada vez menos. Antes usou o Orkut, mas largou em 2011 e nem se lembra da senha. Nenhum dos seus amigos está mais lá para ver aquelas imagens pisca-pisca que o Mark Zuckerberg jurou que jamais permitiria no Facebook. Helena também teve a fase MSN Messenger e a fase Tumblr, mas os diálogos do Messenger ela não se lembrou de salvar, enquanto o Tumblr ela se lembrou de apagar. Agora ela usa o Snapchat, o Instagram e o WhatsApp, que Chris já largou mas Lili usa bastante. Chris e Lili não desistiram do Skype, até o ponto que eu sei, mesmo tendo o FaceTime ali à mão, pré-instalado no iPhone.

O Snapchat é o melhor de todos da última semana. Dá para programar por quantos segundos a foto que estamos mandando permanecerá visível na tela do destinatário. Se o destinatário não for rápido no gatilho para salvar a foto, ela se evapora no ar. Aí não precisamos nos preocupar em apagar aquela tranqueira toda que vamos publicando e recebendo ao longo dos dias, meses e anos, até que o software ou o computador morra e leve com ele nossa história eletrônica.

E se o sujeito não tem Facebook?

Chat e ICQ vasculhei de cabo a rabo no passado, mais por razões profissionais do que por diversão. Por farra, usei Twitter e Instagram. O Twitter foi perdendo a graça com gente monotemática, perfis falsos e robôs. O Instagram ainda acho bacana, enquanto não entopem de propaganda. Aprendi que quanto menos conexões estabeleço, mais relevante fica a rede.

O LinkedIn parece muito engravatado. Ali as pessoas querem mostrar seu lado sério e não suas fotos de biquíni ou copo de cerveja na mão. O LinkedIn é o lugar do RH, que pesquisa currículos, aborda profissionais para suas vagas e analisa as conexões dos candidatos. A turma do RH, embora a gente não se preocupe com isso, também anda espiando o Facebook, para dar uma checadinha no “perfil” do candidato ou o comportamento do funcionário. Candidatos a namorado também usam esse truque.

Investigar redes sociais é rotina para profissionais de segurança, eletrônica, policial ou o que for. Departamentos de imigração, como o dos Estados Unidos, são apontados como usuários do Facebook. Afinal, não se esqueça, entrar em países como os Estados Unidos é um privilégio, não um direito.

O Facebook é usado para checar se a pessoa é quem ela diz que é. E se o sujeito não tem Facebook? Aí, só pode ser um suspeito. Se não está no Facebook, o que ele tem a esconder, não é mesmo?

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Marion Strecker é colunista da Folha de S.Paulo