O uso de fontes anônimas na imprensa americana é cada vez maior, e as justificativas para tal estão cada vez mais banais. Uma matéria no site Politico sobre um discurso do vice-presidente Joe Biden foi baseada no depoimento de uma pessoa que não foi identificada porque a presença no tal discurso “era apenas por convite.” Já o New York Times informou que uma de suas fontes para um artigo sobre a Síria pediu para não ser identificada “devido à situação delicada”. Apenas em 2013, o Times utilizou fontes anônimas com a mesma justificativa em seis ocasiões diferentes.
Em 2004, o Times fez uma pesquisa com os assinantes para descobrir o que os incomodava no jornal. Em primeiro lugar, os leitores criticaram a série de reportagens errôneas (realizadas com o uso de fontes anônimas, por sinal) sobre as supostas armas de destruição em massa publicadas antes do início da invasão americana ao Iraque. Em segundo, apareceu justamente o uso de fontes não identificadas – que acaba, muitas vezes, levando a acusações de interesses políticos.
Em uma tentativa de aumentar sua transparência, as organizações de mídia começaram a explicar aos leitores por que as fontes, em determinadas ocasiões, não eram identificadas pelo nome e ocupação. A ideia era oferecer a eles uma “espiada” por debaixo do véu do anonimato, e hoje essa prática é amplamente usada.
De acordo com Kevin Z. Smith, presidente do comitê de ética da Sociedade de Jornalistas Profissionais, algumas fontes têm razões importantes para não ser identificadas. Denunciadores podem perder seus empregos se forem desmascarados, e aqueles que vivem em áreas perigosas podem sofrer retaliações. Porém, muitos jornalistas passaram a abusar das “justificativas padrão” para explicar por que suas fontes optaram pelo anonimato, diz Smith. Entre as justificativas típicas estão dizer que uma pessoa “não foi autorizada a falar publicamente” ou que o anonimato foi concedido porque a notícia ainda não tinha sido “formalmente anunciada”.
Obstáculos
Alguns especialistas concordam que os repórteres deveriam insistir mais para fazer com que as fontes concordem em ser identificadas ou então se esforçar para encontrar outra pessoa que concorde em falar abertamente sobre a mesma questão. Se eles não conseguirem, deveriam detalhar melhor os motivos dados pela fonte para o anonimato.
“O fato é que muitas empresas, governos e instituições fazem o possível para assegurar que as pessoas com as informações não falem publicamente”, diz Martin Baron, editor-executivo do Washington Post. “Eles pressionam e, no pior dos casos, demitem as pessoas. Outras vezes, pessoas que falam publicamente podem sofrer recriminações. O anonimato pode ser desagradável, mas, muitas vezes, a única alternativa a ele é não ter nenhuma informação.”