Monday, 25 de November de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1315

Novo capítulo de uma velha briga

O ano de 2014 começou com um novo capítulo na guerra entre o grupo de meios de comunicação Clarín e o governo argentino. Desta vez, o motivo de disputa não foi a Lei de Meios (cuja implementação ainda continua pendente no país), e sim uma reportagem do canal de TV Todo Notícias, que pertence ao Clarín, sobre o réveillon do chefe da Afip (a Receita Federal argentina), Ricardo Echegaray, que passou a virada do ano no Rio, com outras 15 pessoas, entre elas o empresário Jorge Lambiris, que passou um mês e meio na cadeia em 2000 e foi investigado por suspeita de contrabando. Segundo versões extraoficiais, Lambiris seria sócio do chefe da Afip. A viagem terminou em escândalo: uma equipe de quatro pessoas do Todo Notícias, que tentou cobrir o retorno de Etchegaray a Buenos Aires, acusa os supostos amigos do diretor da Receita argentina de agressão no aeroporto internacional Tom Jobim.

Viagem teria sido paga por empresário

Nesta quinta-feira [9/1], a manchete do jornal Clarín acusava Echegaray de ter viajado ao Rio com as despesas pagas por Lambiris, conhecido como “Uruguaio”. No entanto, o funcionário nega ser amigo do empresário e afirma que viajou para descansar com sua família. Após retornar à Argentina, o chefe da Afip deu uma coletiva na qual acusou o diretor executivo do grupo Clarín, Héctor Magnetto, de ter “orquestrado uma operação de linchamento midiático”. “Magnetto não merece possuir uma licença de meios de comunicação”, declarou Echegaray, que desmentiu, também, ter visto a agressão sofrida pela equipe do canal de TV do grupo Clarín que revelou sua viagem ao Rio.

A denúncia da viagem, feita pelo Todos Notícias, irritou muitos argentinos, justamente em um momento em que o país enfrenta uma onda de apagões que, em alguns casos, deixou vários bairros portenhos às escuras por quase três semanas. Enquanto isso, Echegaray passou o Ano Novo hospedado no hotel Sofitel, em Copacabana, participando de uma das festas de réveillon mais famosas do mundo. “Tenho 225 dias de férias para tirar”, argumentou o diretor da Afip na coletiva.

Os jornalistas do Todo Notícias asseguram que Etchegaray presenciou a agressão, mas o funcionário é taxativo ao afirmar que não viu qualquer tipo de ataque à equipe de TV. “Se houve violência ou agressão, da qual não participei, manifesto meu total repúdio”, disse o chefe da Afip.

Mas sua declaração foi contestada pelos jornalistas: “É impossível que Echegaray não tenha visto, ele estava muito perto e com certeza presenciou o ataque. Sua mulher foi quem nos identificou”, disse o repórter Nacho Otero, um dos agredidos.

Registro na delegacia do Leblon

Para ele, o que mais incomodou o chefe da Afip foi “ter sido visto com seus dois principais homens de confiança, que são muito mais do que pais de amigos de seus filhos, como ele diz”. “Lambiris é a chave para chegar a Echegaray na alfândega. Ele tem uma empresa de logística, mas fora dos papéis ambos têm uma relação comercial que estamos tentando comprovar”, comentou.

Também participou do tour carioca o empresário Sergio “Careca” González. “Ele é dono de três empresas de comércio exterior e é quem controla os portos. Os três seriam sócios. Estamos investigando”, frisou Otero.

Após o incidente, os jornalistas argentinos fizeram denúncia na delegacia do Turista, no Leblon, por “lesão corporal provocada por socos, tapas e pontapés”. Entre os agressores, estava, de acordo com as vítimas, Lambiris, o mesmo, que, segundo o jornal Clarín, gastou cerca de US$ 80 mil para pagar a viagem do grupo durante o réveillon.

Echegaray também foi questionado por ter viajado pela companhia aérea Fly Emirates, quando a nacional Aerolineas Argentinas, um dos xodós da presidente Cristina Kirchner, tem voos diretos para o Rio.

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Janaína Figueiredo é correspondente do Globo em Buenos Aires