Friday, 22 de November de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1315

Sem exageros



A morte da antropóloga Ruth Cardoso, ocorrida na terça-feira (24/6) à noite, em São Paulo, foi noticiada com destaque pelos jornais de quarta. As edições, discretas e respeitosas, trazem depoimentos de amigos e se referem ao período em que ela foi a primeira-dama do Brasil. Não há muito sobre as causas do óbito, de certa maneira surpreendente após as primeiras notícias mais alarmadas sobre seu estado de saúde. Mas há pouco sobre sua trajetória acadêmica.


Ruth Cardoso foi uma intelectual respeitada no Brasil e no exterior. Também construiu uma obra importante como cidadã, arregimentando empresários e intelectuais para a responsabilidade social. Sempre foi muito discreta. Há cerca de oito anos, numa conferência promovida na Universidade de Berkeley, nos Estados Unidos, foi surpreendida por este observador e pelo físico Fritjoff Capra na fila do refeitório. Quando lhe foi dito que a primeira-dama não precisava ficar na fila, ela fingiu que não ouviu e continuou ali, quase anônima, no meio dos estudantes. (Luciano Martins Costa)


Na terça-feira (24/6), às 17h, hora de Nova York, uma brasileira que desenvolve um intenso trabalho com comunidades carentes no Brasil recebeu um e-mail de D. Ruth Cardoso acalmando-a a respeito das notícias da imprensa brasileira sobre a sua saúde.


Não se preocupe, já está tudo bem – escreveu D. Ruth à amiga preocupada – eles exageraram.


Poucos sabem: D. Ruth era uma atenta e bem humorada observadora da imprensa.


Três horas depois sofria um enfarte fatal. A imprensa acompanhou discretamente a internação na sexta (20) passada e não poderia ser diferente: a professora Ruth Cardoso personificou como ninguém as palavras dignidade, discrição e grandeza pessoal.


Desta vez, infelizmente, a imprensa não exagerou. (Alberto Dines)