Antes de qualquer coisa, é importante enfatizar que todas as pessoas precisam de um período de descanso para que possam responder de forma adequada em um momento de preparação para o futuro, como em uma faculdade ou no competitivo ambiente de trabalho. O entretenimento oferecido pela televisão supostamente nos oferece esse descanso ou relaxamento.
Em uma sociedade caracterizada pelo consumismo exacerbado e um individualismo perigoso, a satisfação das pessoas não tem mais como régua as realizações pessoais de cada um. É indispensável que nos comparemos aos outros para nos sentirmos realmente realizados. E o programa Big Brother Brasil desempenha um papel crucial justamente como esse validador de nossas conquistas em face do que os outros esperam de nós. E com uma agravante: nessa trajetória rumo a quem precisamos nos tornar para que satisfaçamos nossos desejos de ser quem as pessoas esperam que sejamos, a capacidade de criar, inovar, empreender e produzir está sendo anulada pela obsessão por replicar comportamentos de terceiros.
Inegavelmente, o Big Brother Brasil reforça essa concepção contemporânea da fortuna rápida, dos holofotes momentâneos da fama meteórica; enfim, dos “ídolos” vazios fabricados pelo Ibope que dão opinião sobre tudo e despertam a inveja de milhões, que gostariam de ter tido a mesma sorte; ou azar.
Valores degradantes
Será que não há alternativas melhores que assegurem certa integridade intelectual às pessoas? Não vou sugerir a ninguém que “desligue a televisão e vá ler um livro”, pois como citei anteriormente todo trabalhador merece descansar em suas horas vagas sem ser forçado a um exercício intelectual. Isso é uma grande bobagem. Pessoas dos mais altos níveis culturais e intelectuais podem se divertir com as atividades mais banais e ainda serem grandes referências em seus campos de atuação.
Entretanto, em minha singela opinião, todos nós como cidadãos brasileiros precisamos pensar o quão degradante para a sociedade brasileira é se debruçar sobre uma casa de exibicionismo e intrigas ao melhor estilo plim-plim enquanto o país adormece em berço esplêndido em uma pauta de prioridades que nunca é abordada com seriedade. Portanto, o imenso custo de oportunidade do Big Brother Brasil não é o que de mais produtivo os milhões de fãs do reality show poderiam estar fazendo durante a exibição do programa, mas sim a anulação da capacidade dos indivíduos de realizar uma autocrítica de si mesmos nos diversos papéis que desempenham na sociedade brasileira, sejam como pais, mães, um superior hierárquico numa empresa, professor(a), conselheiro(a), dentre outros.
É sabido que as novas gerações se espelham nas anteriores, sendo que dentro das famílias essas experiências são passadas de forma mais significativa entre pais e filhos. Os filhos, inevitavelmente, buscam um norte para suas decisões nas experiências dos pais ou irmãos mais velhos. Logo, estimular o Big Brother Brasil em uma sociedade significa que os indivíduos estão abrindo mão de seus papéis no âmbito familiar a favor de um validador externo impulsionador de valores degradantes.