Nesta sexta-feira (24/3), são completados 30 anos do golpe que deu início a um período de severa ditadura militar na Argentina. A organização Repórteres Sem Fronteiras presta homenagem aos jornalistas vítimas do regime e àqueles que desapareceram ou foram assassinados nos anos finais do governo Peronista (1973-76).
‘De 30 a 40 mil pessoas perderam suas vidas nesta terrível guerra suja. Nós saudamos a memória de todas – políticos, sindicalistas, ativistas dos direitos civis e cidadãos comuns – que eram consideradas subversivas pelo regime militar e que foram dadas como ‘desaparecidas’’, declarou a organização em seu sítio [24/3/06]. ‘Nós também incluímos neste luto a imprensa argentina, que perdeu 98 jornalistas entre 1973 e 1980. Ainda que a Argentina seja um dos poucos países da América latina que levaram seus principais carrascos à justiça, muitos militares envolvidos em sérios abusos dos direitos humanos nunca enfrentaram nenhuma pena graças às leis de anistia aprovadas por governos democráticos’.
A RSF completa que a justiça está longe de ser cumprida e provavelmente nunca será plenamente cumprida. ‘Mas a sociedade argentina pode contar com nosso apoio para que os ‘desaparecidos’ de ontem nunca sejam esquecidos’.
Da caça às bruxas ao golpe
A repressão na Argentina teve início anos antes do golpe militar. Em 1973, no segundo mandato do presidente Juan Domingo Perón, teve início a temporada de caça à ‘subversão’, com destaque especial para esquerdistas. Sob o comando do ministro José López Rega, fundador da Aliança Anti-Comunista Argentina, mais de 400 pessoas foram mortas. Até o golpe de 1976, oito jornalistas foram assassinados.
Isabel Perón, que havia ocupado o lugar do marido na presidência depois de sua morte, em 1974, foi finalmente retirada do poder em 24 de março de 1976. Três juntas militares se revezaram na ocupação da Casa Rosada até que a derrota na Guerra das Malvinas, em 1982, pavimentou o caminho de volta para a democracia, conquistada um ano depois.
Censura e anistia
Durante a maior parte do processo, a imprensa trabalhava secretamente, driblando a censura. Ente as muitas coisas proibidas pelo regime de serem discutidas estavam o livro O Pequeno Príncipe, os Beatles, a matemática moderna e os filósofos gregos.
Muitos opositores ao regime ‘desapareceram’ durante a ditadura – eram seqüestrados, torturados e assassinados; muitas vezes, eles eram drogados e jogados de aviões no Rio da Prata. Oitenta e três jornalistas ‘desapareceram’ neste período, e outros 15 foram assassinados.
Duas leis absolvendo os militares foram aprovadas durante o mandato do presidente Raúl Alfonsin (1983-89) e derrubadas pelo Congresso em 2003 e pelo Supremo em 2005. O governo de Néstor Kirchner espera agora revogar a anistia concedida a chefes militares durante o governo de Carlos Menem (1989-99). A RSF teve informações de que os casos de cerca de 400 funcionários militares – 50 dos quais continuam em serviço – podem ser reabertos.
A organização disponibilizou em seu sítio a lista com os nomes, datas de desaparecimento ou assassinato e veículo de mídia dos jornalistas vítimas da ditadura militar argentina.