Meus netos são lindos. Não digo isso por corujice sem critério; digo por fato bem comprovado. Todas as minhas amigas de Facebook concordam que Fábio e Nina são as criancinhas mais fofas do mundo (logo depois dos seus próprios netos, mas isso é só um detalhe).
Minhas amigas são avós militantes que fazem programas com os netos e que viajam para os lugares mais improváveis do mundo para acompanhar o seu nascimento e conferir como estão crescendo. Por causa disso, minha timeline começa a ter mais fotos de criancinhas do que de gatos, o que confirma algo de que eu já desconfiava há tempos: “O Facebook é o canal das vovós”, escreveu a Andrea, que ainda outro dia foi dar as boas-vindas à Mila em Nova York. Antes do FB, como é que elas trocavam notícias de suas belezuras?
Não trocavam, ou trocavam de forma muito mais restrita e ocasional: uma gracinha compartilhada durante um telefonema ou um almoço, uma ou outra foto exibida numa festa. Se não fosse pelo Facebook, eu jamais saberia que um dos bebês mais gostosinhos do mundo é o Logan, netinho da Ana Pinta que mora em Londres.
Curtida e compartilhada
Segundo estatísticas amplamente divulgadas, 16% dos adolescentes deixaram de frequentar o Facebook no ano passado. É compreensível. Uma rede que faz o encanto das avós não é o lugar onde a garotada quer passar os seus momentos de lazer – e não faltou quem, por conta disso, decretasse o fim da rede social para daqui a dois ou três anos. Essa espécie de profecia maia pós-apocalíptica me pareceu um pouco exagerada, até porque os adolescentes podem ser o público alvo preferencial de 11 entre dez empresas, mas estão longe de ser a única faixa etária do mundo. Sem falar que o FB continua crescendo, ainda que não à velocidade vertiginosa dos últimos anos.
A ideia por trás dessas previsões sombrias é que o Facebook – que fez dez anos anteontem – estaria perto de cumprir o ciclo que rege os movimentos sociais. Tendo passado pelo nascimento, pela consolidação e pela inclusão no sistema, estaria chegando à dissolução, que é quando as pessoas se cansam da brincadeira. Isso já aconteceu com diversas redes sociais, do Second Life ao My Space, passando pelo Multiply e pelo Fotolog; não duvido de que, um dia, venha a acontecer também com o Facebook. Mas daqui até lá muita informação ainda vai correr por baixo da ponte.
Ainda que tenha sido abandonado por um percentual significativo de adolescentes, ele tem um público praticamente cativo nos adultos que aprenderam a usá-lo e sentem-se confortáveis com ele. Nenhuma rede social teve, até hoje, o alcance do Facebook, que tem mais de 1,2 bilhões de usuários, ou seja, cerca de metade do total de pessoas com acesso à internet. E olha que ele é proibido na China! Quando, na manhã de ontem [quarta, 5/2], li a mensagem de aniversário postada por Mark Zuckerberg, ela já tinha sido curtida por 1.542.872 pessoas, e compartilhada 102.405 vezes.
Fiapo de conversa
O que é que tanto nos atrai no Facebook? A resposta é simples: gente. Somos animais gregários, gostamos de viver em comunidade e de contar histórias uns para os outros, de preferência em rodinhas. Ora, desde que deixamos de viver em aldeias onde todos se viam constantemente, ainda não foi inventada forma mais simples de fazer isso do que usando o Facebook, onde tanto cabe um grave manifesto contra a violência quanto uma piada boba – exatamente como acontecia com a praça, no tempo em que as cidades eram calmas, as ruas, seguras, e a vizinhança toda se encontrava durante o footing.
Na praça virtual do Facebook podemos ter notícias dos que estão viajando, dos que moram longe e dos que vivem perto (mas mal têm tempo para respirar, que dirá tomar um chope na esquina). Podemos reencontrar amigos de infância dos quais nunca mais tínhamos ouvido falar, assim como podemos descobrir, em vagos conhecidos do dia a dia, afinidades de pensamento surpreendentes.
As teias que tecemos se ampliam e se consolidam também através dos amigos dos amigos, e nos dão um sentimento que é a base de qualquer comunidade humana: o do pertencimento. Não só encontramos a nossa tribo, como a informamos aos que nos cercam através de curtidas, comentários e compartilhamentos de postagens. Em suma: para além das relações que mantemos uns com os outros, há a percepção dessas relações num contexto mais amplo. Unir – e expor – tecidos sociais tão intrincados de forma tão simples talvez seja o grande segredo do sucesso do Facebook.
Antes de começar a escrever este último parágrafo, fui até o Orkut para ver se ainda acontece alguma coisa por lá (sim, surpreendentemente, acontece); encontrei uma foto antiga em que estou com o meu filho de um ano no colo e a levei para o Facebook. No minuto seguinte, o bebê da foto, que vai fazer 42 anos na semana que vem e que mora longe do Brasil, fez um comentário: “Hoje nem os meus bebês são tão novinhos. E você, gatíssima na foto, mamãe.”
Quase nada, um alô, um fiapinho de conversa na madrugada; mas foi um carinho, um aceno que nos fizemos, mãe e filho, marcando presença na vida um do outro. Há dez anos, isso não teria acontecido.
Valeu, Facebook.
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Cora Rónai é colunista do Globo