Monday, 25 de November de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1315

O futuro dos jornalões e a ousadia de furos online

Em 2000, a Folha de S.Paulo vendia 471 mil exemplares/dia, segundo dados Instituto Verificador de Circulação (IVC), e hoje vende 294 mil. O Estado de S.Paulo vendia 366 mil e, atualmente, 232 mil. Já o carioca O Globo, 336 mil e, agora, 267 mil. Juntos, somavam 1,173 milhões de jornais comercializados para uma população que, então, somava 170 milhões. Já era pouco, mas piorou. Afinal, há no Brasil 200 milhões de habitantes, embora as vendas das três publicações diárias mais prestigiadas do país totalizem 793 mil exemplares. Os números falam por si.

Não é um fenômeno nativo. É global, como demostra o gráfico que revela a acentuada queda de receita publicitária dos jornais americanos, a partir dos números da Newspaper Association of America (NAA). Os dados foram veiculados e analisados no site CarpieDiem Blog:
Queda da publicidade nos jornais

Logo, por mais que os velhos jornalões tentem se agarrar ao passado de glória, o futuro da comunicação jornalística ganha outros canais. A maioria deles online. Não há escapatória. É o que acaba de acontecer com a estreia do novo e agressivo site focado em jornalismo investigativo. Um dos braços mais caros e relevantes do jornalismo tradicional.

O milionário empreendedor criador do eBay, Pierre Omidyar, investiu estimados US$ 250 milhões. O jornalista e advogado americano Glenn Greenwald, que ganhou visibilidade ao dar voz ao ex-funcionário da agência de espionagem americana NSA, Edward Snowden, e mais os parceiros e também jornalistas Jeremy Scahill e Laura Poitras, assumiram o comando editorial do mais novo projeto jornalístico na rede: o site The Intercept será o primeiro de uma série de produtos da First Look Media, a empresa de mídia que eles acabam de criar. Outras revistas digitais estão a caminho, segundo informam no próprio site.

Caminho aplainado

Parte do projeto iniciado dará continuidade às revelações de Snowden, que vive exilado da Rússia após mostrar ao mundo como funciona a espionagem dos EUA. Uma revelação que causou muitos transtornos e debates sobre o limite do Estado na vida privada do cidadão na era digital. As primeiras matérias veiculadas explicam o funcionamento do sistema de inteligência artificial da agência NSA, que decide os alvos de operações letais de drones, além de imagens aéreas inéditas revelando instalações de algumas de suas unidades em território americano.

A ideia da plataforma jornalística foi anunciada em outubro. Na carta de apresentação do The Intercept, Greenwald e seus parceiros destacam o que soa como música para quem abraça o jornalismo como profissão:

“Nossa missão é fornecer jornalismo independente em uma ampla gama de questões, revelando segredos, abusos criminais da justiça civil ou das liberdades civis, assim como violações à conduta da mídia, à desigualdade social e a todas as formas de corrupção financeira e política. A independência editorial dos nossos jornalistas será garantida, e eles serão incentivados a prosseguir na paixão jornalística cobrindo áreas de interesse público”.

O mundo da comunicação enfrenta a sua maior mudança desde que Gutenberg criou a impressora e deu largada ao processo de popularização da informação. A velha mídia e seus títulos vetustos talvez tenham perdido o tempo para essa nova mídia que se cria em cima de reputação de profissionais ousados como Greenwald. Ele conquistou audiência com um grande furo de reportagem que, de tempos em tempos, ajudam a melhorar a vida em sociedade ao revelar falcatruas e condutas duvidosas. Afinal, quem não se lembra de Watergate? Mas o jornalista americano soube administrar como ninguém a forma como foi soltando as informações. Associou-se à imprensa tradicional e alimentou a distribuição da história em capítulos. Foi, inegavelmente, uma boa estratégia para manter o assunto da mídia. Um planejamento que semeou o caminho para o The Intercept.