Sou jornalista e mais um monte de coisas (e qual mulher não é?).
Para esse monte de coisas correr bem (como preparar aulas, escrever artigos científicos, montar palestras, ler as notícias do dia), percebi que precisava organizar direitinho a minha dieta informativa online.
Do contrário, ficaria perdida e nada sairia do lugar. Ainda mais com as redes sociais e toda a ansiedade de informação que elas geram.
Parece que quanto maior a nau, maior a tormenta.
Pois bem, muito decidida, comecei a criar rotinas de leituras online. Não foi nada fácil. Minha vontade era ficar acessando caprichosamente todas as revistas, jornais, sites, aplicativos, redes sociais e blogs incríveis que existem por aí.
Admito que ter uma disciplina de leitura tem me ajudado muito a estar bem informada sobre os assuntos que mais me interessam. E, melhor que isso, uma rotina regrada me permite encontrar facilmente os textos na hora em que mais preciso deles.
Como fazer isso? Como decidir o que ler (e o que deixar de lado) neste universo informativo online em eterna expansão?
Essa é uma pergunta que sempre me fazem, principalmente os alunos de pós-graduação em comunicação.
Pois bem, para eles e todos os demais leitores contarei aqui os segredinhos da minha dieta informativa online.
Não é nada super complexo ou baseado em livros sobre produtividade e gerenciamento de tempo. É algo que comecei a experimentar e deu certo.
Quem sabe, irá inspirar aqueles que precisam de um incentivo para criar novos hábitos de consumo informativo online. Tomara.
Minhas três regrinhas de ouro
1. Consumir a informação certa vale mais que consumir muita informação – Antes de mais nada, acho importante cultivar uma certa dose de resignação: você não vai conseguir ler tudo o que gostaria ou precisaria para ser um profissional e um ser humano melhor (pelo menos não nesta vida). Neste caso, menos é mais. Conforme-se e curta a vida fazendo outras coisas, em vez de tentar saber de tudo a toda hora (tarefa impossível, pense bem).
2. Reservar um horário para consumir a informação (e fechar o Facebook) – Se você trabalha o dia inteiro com uma tela à frente de seus olhos, como eu, sabe que isso é verdade: encontramos um texto incrível, começamos a ler um trechinho e eis que… uma notificação de e-mail nos interrompe. Ou seja, vale mais reservar um outro horário para consumir as informações (preferencialmente em casa, no silêncio, com foco) do que fazer uma leitura pela metade.
3. Separar os textos por “tipo de leitura”: longa ou rápida –Cada tipo de texto exige de nós um tempo e uma disposição de leitura diferentes. Se você tem cinco minutos, conseguirá ler uma notícia de jornal online. Se tem 1 hora vaga, conseguirá ler parte de um livro. Por isso, discriminá-los poderá ajudar no processo de tomada de decisão (aquele momento em que você se pergunta: o que ler agora?).
Resumindo, minha lógica se dá assim: encontrar primeiro, guardar o que vale a pena e, com calma e foco, consumir as informações. Vejamos agora as ferramentas envolvidas neste processo.
Encontrando as informações certas
1. IFTTT – A sigla IFTTT significa If this than that – algo como: “se isso, então aquilo”. O serviço se dá com “receitas” criadas pelos usuários, tais como: “se for chover hoje, me envie um SMS”. Ou: “Se o The New York Times publicar uma resenha de filme com cinco estrelas, me avise por e-mail. Se eu favoritar um tuíte no Twitter, guarde o link dele no Delicious”. “Se eu colocar uma estrelinha azul na mensagem do Gmail, guarde o anexo do e-mail no Evernote”. É possível criar receitas de notificações incríveis. Estou usando há quase um ano para ser avisada sobre eventos específicos que ocorrem na web (exemplo: “avise-me se uma nova tese foi publicada numa determinada universidade de renome dentro de uma certa linha de pesquisa”).
2.Recomendações da Amazon – O algoritmo de recomendação da Amazon é um dos mais inteligentes que conheço (parece que estou falando de uma pessoa, né?). É verdade, o serviço recomenda obras que fazem sentido para seus adeptos. Quanto mais você usa, melhor fica. Tem sido útil para descobrir novos livros para meu trabalho e carreira.
3. Alertas do Google (e Google Scholar) – Os avisos do Google levam até à caixa de entrada de e-mail os mais recentes resultados relevantes deste buscador para uma palavra ou expressão de interesse do usuário. Se o alerta for criado no Google Scholar, o serviço mostra resultados acadêmicos (artigos e revistas científicas). É uma maneira de fazer os melhores resultados de busca chegarem até você.
4. Zite – É um aplicativo que avalia a relevância das notícias online e devolve ao usuário conforme seus interesses. Pode ser instalado em iPad e iPhone. É especialmente útil para leituras de notícias de jornais, revistas e sites noticiosos.
5. Newsletters de blogs – Apesar de parecer demodé, ainda assino muitas newsletters de blogs. Sempre que há um novo post, acabo sendo notificada e assim poupo o tempo de entrar no blog a toda hora (mesmo porque eu já não me lembraria do endereço eletrônico da publicação).
Criando repositórios online
6. Mendeley– É uma ferramenta de gerenciamento bibliográfico com versão web e também desktop. Uso o Mendeley para guardar documentos de referência que chamo de “material pesado” (relatórios, dossiês, artigos científicos com temas complexos), porque são leituras que me exige maior fôlego.
7. Delicious– Uso o Delicious para guardar o “material leve”, ou seja, notícias de jornais, revistas e sites. São leituras mais tranquilas e rápidas.
Fazendo anotações
>> O bom e velho caderno de papel – Depois de tudo isso feito… Adivinhem só? Não vou mentir para vocês: por mais adepta das tecnologias que eu seja, as minhas anotações (conforme vou lendo e tendo lampejos deinsights) acontecem mesmo no papel e geralmente são feitas à lápis. Ainda não encontrei uma forma bacana de fazer isso online.
>> Resumo da ópera – No meu caso, os melhores resultados foram obtidos a partir da combinação de várias ferramentas integradas num processo que eu havia estabelecido de antemão (aquelas regrinhas básicas).
E você, como faz? Quais ferramentas utiliza? O que tem funcionado no seu caso?
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Daniela Bertocchi é editora-chefe do portal MdeMulher e professora de comunicação digital na USP