Sunday, 24 de November de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1315

Daniela Nogueira

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Como O POVO já anotou em suas páginas, são 60 blocos de Pré-Carnaval em Fortaleza que recebem apoio da Prefeitura, por meio de edital. O número total chega a 100. Para o jornal, no entanto, o número é bem menor. Desde janeiro, quando começou a cobertura mais intensa das festas, alguns blocos têm tido mais relevo no O POVO, em detrimento das outras dezenas que ficam à margem do nosso relato jornalístico.

Em janeiro, foram 15 páginas de informações sobre os blocos, dentre matérias principais e secundárias, notas com foto e artigo. O assunto esteve nas editorias de Vida&Arte e Cotidiano, no caderno DOM e na capa do jornal. Abordamos três vezes o impasse do local de apresentação do bloco Luxo da Aldeia, citamos os ensaios para o Pré, listando Luxo da Aldeia, Camaleões do Vila e Baqueta, mas não nos esquecemos do Unidos da Cachorra e do Num Ispaia Sinão Ienchi. Ganharam fotos menores na edição do dia 31/1 o Concentra, mas não sai, o Bons Amigos e o Cheiro.

Fevereiro

Neste mês, até o fim de semana passado, o primeiro do Pré, tivemos 7 páginas de cobertura, em Vida&Arte, Cotidiano e Política. No dia 1º, no Vida&Arte, o bloco Luxo da Aldeia coloriu uma foto de quatro colunas. No dia 2, em matéria de página inteira, no 2º clichê, foi a vez de o Bloco do Baqueta ter uma foto de seis colunas, de uma ponta a outra na página. E lembramo-nos de adicionar o Sanatório Geral, no dia 3/2. Detalhe: no dia 31/1, publicamos uma matéria com a programação do primeiro fim de semana de Pré-Carnaval e listamos 47 blocos, com locais de concentração e horário.

Tamanha ênfase a alguns blocos chamou a atenção dos leitores.

“Vocês só conhecem os mesmos blocos, é? Parece que o jornal só coloca os blocos dos amiguinhos” – foi a mensagem crítica, em tom irônico, que recebi por email de uma leitora. “Por que sempre os mesmos? É só Praia de Iracema e Benfica”, questionou outro leitor, por telefone.

Enquete

O historiador Américo Souza, professor universitário e membro do Conselho de Leitores do O POVO, diz que, “para O POVO, parecem existir apenas quatro blocos”. E critica a enquete do portal O POVO Online: “Qual é o seu bloco preferido do Pré-Carnaval 2014?” (http://bit.ly/MysfTL). Nessa semana, as opções foram: Bloco Luxo da Aldeia, Bloco Unidos da Cachorra, Bloco do Baqueta e Bloco Camaleões do Vila, nessa ordem. Américo defende o fim da enquete e justifica: “A enquete não honra a tradição do O POVO, que é dar espaço a todos”.

Pela cobertura que o jornal tem feito e o consequente destaque a alguns blocos, há a impressão de favorecimento, algo abominável em qualquer esfera do jornalismo.

A Redação responde

Questionei os responsáveis pelas matérias citadas: a editora do portal O POVO Online, Juliana Matos Brito; a editora do Núcleo de Cotidiano, Tânia Alves; e o editor do Núcleo de Cultura e Entretenimento, Felipe Araújo. “Temos consciência de que não conseguiremos abordar todos os blocos e que há um destaque aos blocos que passam pela Praia de Iracema – pela concentração de pessoas no local e pelos shows realizados pela Prefeitura. Decidimos, a cada fim de semana, escolher alguns blocos fora desse eixo. Vamos tentar dar visibilidade ao maior número possível” – foi a resposta dos editores.

Quanto à enquete, Juliana informa que a ideia é trazer quatro novos blocos a cada semana. No fim do Pré-Carnaval, haverá uma matéria com os blocos mais votados. “O nosso erro foi não deixar isso explícito. Alterei a chamada da enquete e incluí a explicação para o leitor. Outra ação que faremos será a publicação de um fórum. Como o fórum é aberto, cada leitor poderá dar destaque ao seu favorito. Dessa forma, todos os blocos poderão estar citados”, comenta a editora do portal.

Democracia

Não é fácil nem será possível oferecer os mesmos destaques aos outros blocos que nunca ilustraram uma página no jornal. Mas é preciso observar que a agenda da festa também é determinada pela imprensa. É desafiante tentar dar voz a um grande número de agentes em tão pouco tempo, mas é imprescindível que ramifiquemos nosso olhar. O jornalismo não pode limitar seu potencial democratizador.